domingo, 24 de julho de 2011

Overdose

Que coincidência macabra o destino nos traz mais uma vez. Após alguns anos de bastante sucesso, muitas confusões e inúmeras polêmicas, a cantora Amy Winehouse foi encontrada morta num quarto, num roteiro comum a outros astros do cenário musical. A genialidade aprecia a cumplicidade da tragédia. Junto com o talento indiscutível, muitos diferentes costumam adicionar doses exageradas de exotismo e de exacerbação à receita de suas vidas.
Assim se repetiu com essa talentosa cantora de soul, jazz e rhythm & blues, cujo estrelato aos 19 anos, acelerou um processo de entrega ao vício do alcoolismo e das drogas, culminando com seu óbito precoce. A exemplo de Brian Jones, Kurt Cobain, Janis Joplin, Jimi Hendrix, só para citar os mais famosos, Amy encerrou sua trajetória também aos 27 anos. Ainda que a morte muito cedo ocorra em diversas circunstâncias, até em idades inferiores, a reincidência de semelhantes personalidades com esse tempo de vida parece no mínimo instigante.
Dizem que morrer é a mais certa de todas as certezas, simplesmente pelo fato de sermos finitos. As milagrosas fórmulas da juventude, supostas garantidoras de uma perenidade inexistente, se restringem a planos cosméticos que falseiam o nosso final. O natimorto, as moléstias e acidentes na infância mais tenra, os desastres da adolescência, enfim, todos os desenlaces prematuros nos chocam muito mais do que o caminho natural da velhice.
Entretanto, as overdoses e os suicídios dos famosos sacodem a nossa percepção de tal forma que viramos meio parentes de todas as vítimas do mundo, conhecidas ou não. Apenas a exposição permanente, numa época de mídia diversificada e global, nos aproxima demais de alguns expoentes. Impossível não nos sensibilizarmos com o fato de uma pessoa tão jovem e genial sucumbir diante de um adversário sobejamente conhecido por sua periculosidade. E mesmo com depoimentos e experiências de outros renomados usuários sobreviventes do fundo do poço, o ciclo inexorável da existência encurtada segue absoluto.
Não me considero habilitado a avaliar as razões de cada um, pois a natureza humana é, foi e será eternamente um mosaico muito complexo. As carências, ausências e estímulos que impulsionam alguém a um mergulho quase sem volta pertencem a um universo particular e hermético. A batalha pela sobrevivência é árdua em âmbitos distintos, pela pobreza, material ou espiritual, pela pujança ou pela fragilidade de quem luta. As armadilhas estão em cada esquina e independem de classe social, raça, cor ou faixa etária.
A dor maior não sente o usuário, imerso em sua dependência. Sofre muito mais quem o ama, aqueles que o cercam sem conseguir mudar a situação. Portanto, restará uma angústia, um sentimento de impotência, uma dúvida sobre quando, como e quem será o próximo escolhido. Nesse momento, em algum lugar da face da Terra, haverá um ser deixando a vida pelo mesmo motivo. Se anônimo, qual milhões que já se foram desde o início das eras, ficaremos apenas com a suposição. Se ilustre, renderemos homenagens e discutiremos o assunto até que ele nos enfade. A vida continua. Vamos permanecer ouvindo Amy, Hendrix, Jones, Joplin, Kobain e Morrison, gravados em discos e em mentes. E os outros?

Um comentário:

  1. É mesmo triste perder uma pessoa tão talentosa para as drogas.
    O sofrimento de quem gostava daquela voz confirma tudo que vc falou.
    Diante do ocorrido, vimos nesse fim de semana que muita gente perdeu uma batalha para as drogas, inclusive eu, que gostava da amy.
    Mas foi só uma batalha,pois ainda podemos vencer essa guerra e um dia a droga será apenas lembrança de um tempo sombrio, que fez tanta gente sofrer.

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