sexta-feira, 15 de julho de 2011

Complexo de vira-latas

Quando o prefeito do RJ divulgou o local do Centro de Imprensa, o presidente do Comitê Organizador da Copa do Mundo 2014 ficou enfurecido, alegando que essa iniciativa só ele poderia tomar. Enquanto isso, ontem à noite fui ao Aeroporto Internacional Tom Jobim. Como o embarque de quem viajava seria às 21:00 num vôo internacional, me programei para chegar lá às 19:00. Ao entrar na pista de acesso ao aeroporto, logo que se sai da Estrada do Galeão, estava tudo parado. Levei um susto, mesmo considerando um mês de férias, não se justificava.
O pesado congestionamento se arrastou quase até a Torre de Controle, momento em que entendemos o motivo. Cinco ônibus e alguns outros veículos, todos estacionados na pista da direita e guardados por um motociclista fardado, estreitavam o fluxo do trânsito. Provavelmente tinha algo a ver com as Olimpíadas do Exército, imagino. Não sei o que era, mas foi um absurdo que alguém tenha tido a brilhante ideia de tumultuar o acesso ao aeroporto mais importante da cidade. Se aguardavam algum desembarque de delegação, aqueles veículos poderiam e deveriam estar parados na área de serviço, uma pista mais à frente da Torre e certamente vazia naquele horário.
Superado esse pequeno senão, fizemos o retorno e me dirigi ao estacionamento do Terminal 1. Não foi possível entrar, porque uma placa informava que o estacionamento estava lotado. Eram 19:00, retornei, deixei o passageiro no portão do aeroporto e fui procurar onde estacionar. Parei no estacionamento do Terminal 2, fiz uma bela caminhada de um terminal ao outro, podendo observar mais de perto os problemas. Passei por esteiras de circulação em manutenção, uma enorme aglomeração na área de embarque doméstico e outras dificuldades às quais não dei a devida atenção porque minha prioridade era me despedir de quem eu deixara.
Tão próximos de eventos mundiais, convivemos diariamente com notícias sobre as fortunas envolvidas na organização dos mesmos. Lembrei de Nelson Rodrigues, criador da imagem do “complexo de vira-latas”, superado ao conquistarmos o Campeonato Mundial de Futebol em 58. Nada contra os amados SRD, em especial porque tenho uma bem querida aqui em casa, a Nina, cuja foto hoje enriquece o blog. Mas o tal “complexo” começa a me rondar outra vez. É angustiante uma situação como essa vivida ontem para chegar a um dos mais modernos aeroportos brasileiros, considerando ainda nem de longe enfrentarmos as complicações de 2014 ou de 2016. Defenderão os otimistas haver muito tempo para a solução dos problemas. Não, não há. As reformas estruturais necessárias são muito profundas e requerem planejamento, organização e prazo que inexistem. E não se restringem a aeroportos.
O dinheiro circula há tempos por conta dos Jogos Olímpicos e da Copa, coisa de quem tem o mais requintado pedigree, num contraponto às perspectivas sombrias do cenário de nossa ultrapassada infraestrutura. Antecipadamente envergonhado diante do apresentado pela Alemanha e pela África do Sul, começo a me sentir um SRD.

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