domingo, 27 de novembro de 2011

A felicidade está em todas as gotas



Resistimos aos melhores momentos e sobrevivemos aos piores, na verdade as fotos da vida representam registros isolados. Se gravada em película a felicidade seria um filme. Numa ferrovia seria todo o percurso, ao invés das estações de lembranças alegres ou não. O equívoco maior reside em buscar algo indeterminado, abstrato, atemporal. Um estado de espírito não se mede por eventos nem se avalia por cenas isoladas. Vivemos, mais ou menos longevos, saboreando a sensação permanente de altos e baixos, às vezes mais altos, outras mais baixos. Nossa existência também se assemelha a um vinho vintage do ano em que nascemos, cujo aroma e sabor merecem a observação de cada detalhe, gole a gole. Ansiosos e inexperientes, de início bebemos o néctar do bem viver com sofreguidão, supondo tudo acabar com rapidez. Isso volatiliza situações especiais, tornando-as fugitivas da memória, pulverizando ocasiões preciosas em meio a tantos lugares-comuns. A experiência nos harmoniza, nos equilibra, trazendo uma temperança carregada de sabedoria. Nesse estágio passamos a sorver cada instante com parcimônia, prolongando o prazer cuja repetição não se pode assegurar. A necessidade, mãe da invenção, nos condiciona ao aprofundamento da essência guardada nas partículas imperceptíveis do destino. A individualidade dos seres nos identifica de maneira inconfundível, rótulo peculiar de safras complexas. À medida que as gotas invadem as papilas gustativas da vivência, palavras, sons e lembranças se misturam numa combinação difusa e única. Liquefazem numa cronologia particular o conteúdo de uma ampulheta de Baco, uma enológica abordagem da linha do tempo. Quando tudo termina e a garrafa esvazia, o bouquet permanece, valorizando a degustação prolongada e consciente. A singularidade dos grandes vinhos soma inúmeras qualidades, todas dependentes da moderação e da sensibilidade do consumo. Talvez assim se explique a tristeza da quebra do vaso que preserva um líquido tão valioso. A perda de oportunidades tão singelas transfere aos cacos uma condição sui generis. Embora apenas fragmentos de embalagem, reúnem as provas materiais do gosto derramado, do odor evaporado. Farão parte do imaginário, das condicionantes não experimentadas. Talvez por isso a felicidade não caiba numa taça, mas se saboreie repetidas vezes, da primeira à última gotícula envasada. O frutado, o tanino, a acidez e outras alternativas diversificam o mistério a desvendar.  E, a propósito, jamais se esqueça de beber em seguida ao brinde, antes de repousar o copo. Dizem prolongar a felicidade. Saúde!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Todos querem levar vantagem





As pessoas estão ficando cada vez mais desacreditadas. A palavra tem valido pouco e só há alguma certeza nos contratos, cujos itens estabelecem deveres e defendem os direitos das partes envolvidas. E ainda assim com ressalvas, pois já há quem diga que os contratos foram feitos para não se cumprir, para tal bastando só verificar os termos das cláusulas rescisórias. Ou seja, o oportunismo dos acordos já antevê o desfecho no momento do ajuste. Cheguei a viver uma época em que o fio do bigode valia mais do que uma assinatura, embora uma peça de propaganda do passado tivesse como tema “O importante é se levar vantagem em tudo, certo?”. Óbvio se tratar de uma visão míope e ela estigmatizou o protagonista, um grande jogador de futebol, que padeceu muitos anos sob a pecha de enganador. Infelizmente, salvo raras exceções que confirmam a regra, celebridades de todos os setores, empresários e, em especial, os políticos levaram ao homem do povo o hábito de se locupletar com o dinheiro alheio e de não honrar os compromissos. Hoje em dia vemos uma disputa acirrada de quem se comporta mais espertamente, no sentido de ludibriar o máximo todos com quem se mantenha alguma relação, comercial ou pessoal. Os pais ensinam aos filhos toda a sorte de desonestidade, em doses pequenas e aparentemente inofensivas. O problema é que elas se proliferam na consciência de cada um até se transformarem num conceito de caráter desprezível. Na atualidade ele grassa entre os seres humanos em geral, tornando o mundo pior e levando as pessoas a um permanente sentimento de revanchismo. Atingidos pelo comportamento deplorável de quem não tem ética e o menor resquício de princípios morais, a maioria aguarda apenas o momento de se vingar, passando de vítimas a algozes. Não conseguindo devolver a desfaçatez a quem lhe impingiu, esperam a oportunidade de agir da mesma maneira com outro incauto. E por aí vai, em todos os níveis da escala social, num interminável desabar de peças de dominó. O homem perdeu a noção do que significa cidadania, regras de boa convivência, bons costumes, urbanidade, educação em última instância. As pessoas buscam a sobrevivência como se estivessem numa selva, animais famintos dispostos a qualquer atitude para garantir sua primazia, procurando manter ou melhorar suas condições a qualquer custo. Não importa se com o sacrifício de outrem, se relegando as necessidades comuns, se impondo prejuízo material, físico ou sentimental a terceiros. A relevância maior deixou de ser o melhor para todos, isso nada significa. Olha-se todo o tempo para o próprio umbigo, se esquecendo da importância de quem nos cerca, em todas as circunstâncias da vida. Se profissionalmente, as atitudes éticas semeiam futuros negócios, divulgação de uma imagem positiva, multiplicação de serviços, maior rendimento. Se pessoalmente, o procedimento correto estreita laços familiares, angaria amizades, sustenta relacionamentos. Entretanto, a ânsia de levar vantagem vem se disseminado de forma assustadora, colocando ainda mais em xeque a estabilidade de um mundo pior dia após dia, conturbado exatamente pela ignorância de quem o habita. Até onde chegaremos?

domingo, 20 de novembro de 2011

Lutar é preciso


As lutas na moda e mais luto na vida,
no embate diário, na perda sentida,
no suor escorrido, fluído no sangue,
dor contorcida por golpes da gangue.

Derrubado, levanto, resisto à contagem,
inspiro, expiro, enxergo a miragem,
no oásis divino do gongo ecoado,
na esponja da cura, no palavreado.

Um assalto termina e outro começa,
o tempo extermina, o destino tem pressa,
os golpes abatem, contundem a razão,
agridem a moral com letal precisão.

Um mata-leão na dignidade,
imobilizam a lei, nocauteiam a verdade,
manipulam juízos, enganam demais,
dividem o butim e nos roubam a paz.

Assaltos em ringues, consciências, esquinas,
batalhas inglórias, são carnificinas,
desiguais na essência, por definição,
todas perdidas, quase sem exceção.

Os ricos mais ricos em qualquer hemisfério,
massacram inocentes, sem pudor, sem mistério,
e beijamos a lona do circo sem riso,
hoje tem marmelada, mas lutar é preciso.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Raro brilhante

Corrupção, escândalos, outro ministro caindo, a crise na Europa, a pacificação da Rocinha, as sucessivas decisões no futebol. Roda mundo, roda-gigante, rodamoinho, roda pião e o tempo rodando num instante nas voltas do meu coração, segundo já disse o poeta. Não falta assunto nessa roda-viva, a velha máxima do mundo mudar a cada segundo. Às vezes falta iniciativa, de quando em vez disposição, mas do temário ninguém pode reclamar, há muitas alternativas.
Num contraponto ao rol interminável de abordagens possíveis, falarei de musa anônima, inspiradora de alguém muito próximo de mim. Uma pedra preciosa de muitos quilates, embora se apresente com sobriedade e simplicidade incomuns. O aprimoramento da existência depende da permanente lapidação do diamante bruto que somos ao nascermos. Transformá-lo numa joia de grande valia resulta do trabalho dedicado, paciente e exaustivo ao longo de toda a vida. Jamais conseguimos chegar à perfeição, o trabalho sempre se vê interrompido durante o percurso, uns mais cedo, outros mais tarde. Entretanto, há brilhantes naturais, com menos arestas, cujo polimento exige menos sacrifício em razão da maior generosidade da natureza com eles. São criaturas iluminadas, confundidas com brilhantes muito especiais. Assim é a personagem homenageada por mim.
Bastante reservada, gestos recatados, fala baixa e tranquila, seria imperceptível não fosse o brilho próprio e o magnetismo natural. Sua aura emana energia positiva todo o tempo, sua presença suave equilibra o ambiente. Enfim, uma exceção num mundo conturbado e conflituoso ao qual nos acostumamos. Ao acalentar os sonhos de outra pessoa rara, com a qual tenho permanente convívio, potencializa a propagação de positividade entre nós.
Seu lapidar rotineiro completa hoje vinte e um anos, maioridade formalizada nesse plano inferior habitado por nós. Sua caminhada se mostra firme e imperturbável, quase levitando pelos tortuosos caminhos a percorrer. Seus objetivos solidários e suas ações humanitárias expressam o que de melhor indicam seus olhos mansos, espelhos de uma serenidade inabalável. A felicidade longeva se colhe no semear do amor ao próximo, na preservação do carinho irradiado, no despojamento, nas atitudes mais nobres. Nesse aspecto nossa pequena musa se agiganta, refletindo sua poderosa luz em forma de filosofia de vida. Obrigado por compartilhar conosco, mais diretamente com alguém tão especial para nós, sua maneira singela e construtiva de ser. Desejo a você uma caminhada longa e sublime, harmonizada e apoiada pela alma gêmea do caminhante ao seu lado, semente de amor que orgulhosamente ajudei a gerar.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

11/11/11

Os mais místicos entendem o dia de hoje como especial, pela singularidade do 11/11/11, considerado um portal da tríplice felicidade, uma emanação forte de energia. Acreditando ou não, que mal poderia existir na renovação das fontes de nossa manutenção física e espiritual? Seres finitos, a única certeza que temos, dependemos da realimentação permanente de nossas baterias. A vida segue no seu ritmo, sem se preocupar muito com nomes, particularidades, situações individuais. A sobrevivência transcende a necessidade das calorias que consumimos, embora seja um aspecto muitas vezes relegado a um plano secundário. O resumo mais objetivo pode se definir numa pergunta: se não cuidarmos de nós mesmos, quem cuidará? Acordar a cada dia caracteriza um fenômeno físico, orgânico, funcional. Enfrentar e superar as adversidades deixa de ser mental para embutir uma demanda anímica. Podemos atribuí-lo ao espiritual ou à inexperiência na administração dos noventa por cento do cérebro que não utilizamos. Pouco importa, seremos obrigados a conviver com isso. Reserve um pouco desse dia diferente pelo menos no calendário, inédito e sem reincidência, para refletir sobre as conjunções astrais possíveis. Ore, repita um mantra, professe a sua fé como julgar mais adequado, apenas não permita que passe em branco. Num mundo convulsionado, dependemos de muitas mudanças e devemos começá-las por nós mesmos.
Mudando de fio a pavio, como diziam os mais antigos, finalmente prenderam o “Nem”, um dos mais procurados traficantes do Brasil. Uma captura cinematográfica, muito provavelmente em breve transportada para uma tela perto de você. Parece um filme a maneira como se sucederam os fatos, numa blitz parando um carro de luxo, com ocupantes bem vestidos tentando corromper os policiais com um milhão de reais. O “Nem” estava na mala. Quantas vezes a mesma situação pode ter ocorrido? Há dez anos esse traficante impera na Rocinha, sempre escapando de cercos e ações programadas com cuidado pela área de inteligência policial. Ainda que respeitemos o QI desse criminoso, dito acima da média, somos forçados a crer em algo mais nas escapadas por tanto tempo. Agora preso, ele tem muitas informações relevantes a divulgar. Vivemos numa era de descrença nos valores fundamentais do ser humano, quando se ignora a ética e a moral numa rotina em geral desenvolvida no âmbito familiar. As notícias, os exemplos, os políticos, os escândalos só estimulam um comportamento danoso e repugnante. Há poucos dias desarticularam uma quadrilha composta de policiais que cobravam por visitas íntimas e negociavam uma série de regalias para criminosos presos. Assim sendo, não podemos deixar de registrar a atitude dos policiais responsáveis pela prisão do “Nem”. Ao rejeitarem a propina, esses representantes de todos nós, cidadãos apreciadores da lisura e da honestidade, provaram que existimos. Retornaram às suas casas utilizando o trem como transporte, após mais de um dia envolvidos numa operação complexa. Esses militares, homens de bem, foram recebidos com orgulho por seus familiares e deitaram a cabeça no travesseiro com a consciência do dever cumprido. Com a dignidade imaculada. Isso não tem preço, mesmo que os escândalos continuem. E vão continuar. Nós também, afinal, temos fé cega e faca amolada.

sábado, 5 de novembro de 2011

A mesa e a ampulheta

O tempo vai passando rapidamente, impingindo um preço mais caro aos desencontros. As oportunidades vão ficando mais escassas, as restrições aumentam, as razões se mostram mais contundentes no impedimento de nossos desejos. Rever prezados amigos sempre foi e será uma das maiores satisfações pessoais. A freqüência com que isso acontece estabelece uma gradação diretamente proporcional. Ou seja, maior o intervalo entre um encontro e outro, maior a alegria no reencontro. Pelo menos assim funciona comigo. O que não pode determinar o espaçamento grande entre as reuniões, pois havendo uma repetição razoável os reflexos se tornam muito mais saudáveis. Traz maior benefício esse remédio tomado em doses homeopáticas e permanentes, ao invés da ingestão de doses fortes e extemporâneas.
Assim foi um almoço entre inacianos no CADEG, em Benfica, vizinho do aprazível e imperial bairro de São Cristóvão. O local, antes apenas um grande mercado atacadista, pelo qual circulei antes do compromisso, hoje abriga também uma interessante alternativa gastronômica, culinária excelente e carta de vinhos variada. Foi o que encontramos no BARSA. Aos cuidados do Marcelo Barcellos, que nos acolheu pessoalmente com muita gentileza, e da cuidadosa atenção de sua eficientíssima equipe, pudemos desfrutar de sabores muito especiais. Num passe de mágica, saímos do estresse de nosso dia a dia para a conversa agradável e a degustação da comida muito bem preparada. O vinho foi escolhido pelo sommelier Camizão, o legítimo iniciado nos mistérios de Baco em nosso grupo.
Rever o Antonio Marcos, o Attílio, o Camizão, a Fernanda, o Quintanilha, alguns com suas caras metades, transformou a obrigação de repor a necessária energia ao corpo num exercício de relaxamento, numa restauração da alma. O coelho, o pato e o bacalhau se ofereceram ao sacrifício em prol de uma causa justa, respeitosamente perfumados pelos aromas das especiarias e envoltos nos rótulos de seleto bouquet. Tiveram participação destacada, quase protagonizaram a cena, mas se contentaram em coadjuvar nossas lembranças, nossas gargalhadas, nossos abraços. Falamos de tudo, muito de alegria, pouco de tristeza. Sobretudo nos repaginamos uns aos outros, encadernados pela eterna amizade, uma enciclopédia de muitos mais volumes do que a inspiradora do nome do restaurante.
São fortuitos, efêmeros e preciosos esses momentos de descontração junto a queridos companheiros de nossa tortuosa, imprevisível, mas instigante caminhada. Desde os primórdios da civilização o homem celebra a fraternidade em torno da boa mesa. Também por isso, o sabor inesquecível do alimento e da bebida permanecerá na memória gustativa dos que lá estivemos. Certamente semeou o jardim de nossos pensamentos felizes, atrelado aos sorrisos e à energia emanada por cada palavra trocada entre amigos de tão longa data. Florescerá sempre que abrirmos a janela da consciência, aquela a nos estimular a repetição de experiências gratificantes, persistentes promotoras da longevidade. A cada virada da ampulheta elas se fazem mais raras. E, qual as pérolas de maior valor, exigem mais esforço para as encontrarmos. Mais que uma obrigação, um privilégio poder continuar procurando por tais preciosidades.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Outros caminhos

A vida se traduz numa grande metáfora, na qual esclarecemos o inédito através de imagens conhecidas. Assim tem sido desde que o homem das cavernas viu o raio destroçar uma árvore e o julgou divino, idéia transmitida às gerações vindouras até a interpretação científica daquilo. Vivemos cercados por circunstâncias inesperadas, pela repetição ou pela novidade a nos surpreender a cada momento, conforme ocorrem. Nada parece impossível, ao mesmo tempo em que projetos desaparecem num piscar de olhos, castelos de areia derrubados no vai e vem da espuma das ondas. A ação pode vir de uma força da natureza, da natureza humana ou da economia mundial, embora a culpa sempre se atribua ao destino. Há valores impossíveis de avaliar, variáveis incontroláveis, influências intangíveis, em suma, supostamente obras do acaso. No fim das contas, na prática essencial do simples viver, uma existência inteira se modifica num estalar de dedos, nosso ou de terceiros. Haverá um dia explicação para isso?
Por vezes decidimos mal e somos forçados a assumir as conseqüências danosas desses atos. Não se trata de imprudência, de agir sabendo com precisão dos riscos embutidos nessas decisões, mas de nos faltar o dom permanente da premonição, a capacidade de aventar hipóteses desconhecidas. Mesmo assim, há iniciativas evitáveis, quando o livre arbítrio nos concede o direito de optar e escolhemos a alternativa errada. Problema nosso, nesse caso, administrar a velha questão do ônus e do bônus. E quando nada nos sinaliza como agir, quando sem o menor domínio dos fatos somos colhidos pela surpresa dos acontecimentos? Sequer temos poder de reação, qual uma folha arrancada da árvore pela tormenta, arrastada pelo vendaval para lugar ignorado, próximo ou distante, desconhecido ou não.
A força desses eventos nos apequena diante da imensidão das probabilidades. A sobrevivência pode ser uma minissérie ou uma longa história, ainda que isso dependa ou não de nossa muitas vezes insignificante vontade. Resta-nos diligenciar pela melhoria ou pela manutenção das conquistas, a torcida para as tormentas passarem longe, a fé inabalável de que haja alguém no controle quando ele nos foge. Se algo der errado, a crença nos impele à resignação pela opção suprema. A descrença nos leva ao ceticismo com relação ao futuro. Na linguagem futebolística, estejamos na figura A ou na figura B, nossa posição será de impedimento. As câmeras celestiais ou dos satélites comprovam, acima da sinalização da arbitragem terrena.
Meu saudoso avô costumava dizer “menino, vamos em frente que atrás vem gente”. Vem mais do que gente, velho Guila. Você estava correto, do alto de sua sabedoria, que agora imagino muito mais consistente, munido dos manuais indisponíveis por aqui. Meu sábio e querido velho, minha caminhada continuará imperturbável, com certeza, inobstante as perguntas sem respostas. Elas virão a seu tempo, como tantas outras se descortinaram após a infinidade de passos percorridos. Nesse dia especial homenageio a todos cuja visão se ampliou além desse horizonte limitado pela cronologia dos calendários, pela inquietude do desconhecimento, pela imprecisão das avaliações, pela incredulidade nos conceitos. Eles passaram a seguir seus caminhos de maneira diferente, sem a regência do tempo, sem a restrição da dimensão, inatingíveis por fenômenos inesperados. Enquanto isso, a exemplo dos nossos mais remotos ancestrais na face da Terra, o sagrado e o inexplicável se mesclam na indefinição dogmática. Uns buscamos força no incompreensível, respeitosamente a Ele atribuindo nossos acertos e nossos erros. Outros aceitamos o imponderável, a ele vinculando os descompassos da trajetória. De alguma forma, contudo, sentimos falta dos que já não caminham conosco.