quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Balanço de fim de ano



Praxe dessa época, dizer que estamos num momento de balanço, em todas as áreas. Eu tenho mesmo é saudade dos balanços da minha infância, num pneu pendurado pela corda na árvore ou nos mais refinados, três ou quatro lado a lado, pintados em cores vivas e seguros com corrente. Concorrente era o que não faltava, às vezes dava até briga, pois naquele mercado então se começava a exercitar a regência das leis da oferta e da procura. Resolvida essa questão, pela fila, pelo tira-teima, pela opção pelo escorrega ou pela gangorra, a alegria estava na simplicidade dos gestos. Esticar as pernas ao vento e recolhê-las no retorno, aumentando o impulso até atingir o limite do voo controlado. Relaxados desafios de superar recordes, de suplantar marcas, de dominar o frio na barriga e de arriscar o máximo possível sem perder o domínio da situação. As disputas sob a aura da pureza não prejudicavam ninguém, somente mexiam com a ansiedade de novas conquistas. Chegar mais perto do céu, sentir o vento soprar cada vez mais forte no rosto para depois voltar no movimento pendular da diversão inocente. Em seguida, mais tardar noutro dia, começava tudo de novo. Felicidade sem grandes compromissos, sem maiores restrições, sem preços abusivos, sem trocas proibitivas, sem negociações culpadas. O balanço usado como divertimento, brincadeira de criança sem qualquer preocupação. Os balanços que a vida trouxe depois se mostraram muito sérios e desgastantes, não raro exigindo reduções drásticas, corporativas ou pessoais, orçamentárias ou de alimentação. O tempo pune com o rigor da maturidade, exige iniciativas experientes e sensatas, nos impõe um comportamento sisudo. A responsabilidade aumenta numa progressão incontrolável, o contexto muda de maneira radical, a leveza se torna incomum, os passos deixam pegadas profundas, portanto necessitando de permanente planejamento. Não se corre com freqüência, mas com oportunismo. Os sorrisos escasseiam porque perdem espaço para a objetividade e para os resultados. Ao crescermos física e mentalmente, brincamos apenas de viver. Enquanto isso, envelhecemos, adoecemos e desaparecemos sem percebermos bem o que está acontecendo. Mal nos damos conta de que as alegrias perdidas não têm volta. As gargalhadas desenfreadas e os valores mais relevantes são relegados à enésima prioridade, a felicidade se rarefaz, o sentido da vida se inverte. Nesse período de balanços austeros, desejo a todos que 2011 fuja da regra. Espero que nos agendamentos do novo ano os alarmes também soem para despertar de vez em quando a criança adormecida em cada um de nós. Tomara que o façam num toque lúdico, transformando a rigidez da seriedade na amenidade dos risos infantis. Assim estaremos semeando saúde, paz e sucesso nos próximos trezentos e sessenta e seis dias dessa efêmera existência. Se nos parece tão curta, poderia ser bem mais prazerosa. Não adie esse plano, comece agora. No método do caminho crítico, ultrapassamos a data mais tarde. Feliz 2012. Feliz sorrir de novo.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Boas Festas




Inexoravelmente sintomático. Chega dezembro e tudo se repete. Em nome de um dia marcante na fé cristã, uma semana antes do alvorecer mágico de novas esperanças, o comércio mostra as suas presas e abocanha um quinhão nem sempre disponível no bolso dos trabalhadores. As artimanhas espreitam os incautos, a avidez das metas dissimula os juros, a argumentação persuasiva bate a carteira dos sonhadores. As casas se engalanam, as famílias se reúnem, os amigos se confraternizam e os inimigos se perdoam. A solidariedade brota dos corações dadivosos, as pessoas parecem mais sensíveis do que o costume. Um período ungido pelas circunstâncias favoráveis transbordando nas músicas, nas imagens, nas ruas. Somos rebanhos de cordeiros despidos de nossas peles de rotina, esquecidos dos outros onze meses e tantos dias. Nosso andar quase em passos de dança parece ensaiado com os demais, num balé coreografado com esmero. A cada olhar uma nova esperança, as razões do amor ao próximo reveladas a cada esquina. Somos felizes mensageiros de uma ordem não duradoura, protegidos pela redoma de nossas culpas. Saberemos viver melhor apenas por uma efêmera fração de tempo, cíclica mas fugaz. O ideal escapa entre os dedos, na fraternidade dos grãos da ampulheta, esvaindo com rapidez. Buscamos agir diferente pelo anseio da remissão. A generosidade semeando frutos envenenados pelo interesse de resgatar o melhor dentro de nós. Planamos com a soberania de quem observa de cima, identificando o momento mais oportuno de mergulhar. Basta esperar, há diversidade e abundância. Sentimo-nos acolhidos pela sorte, alimentamos o espírito e com sutileza espalhamos as sementes para a humanidade. A natureza se incumbe de proliferar nossas intenções e o faz com refinada maestria, contra tudo e contra todos. Estamos restritos, precisamos ousar mais, ampliando a grandeza de nossos gestos ao restante do calendário. Só desta maneira conciliaremos o sono dos justos. Assim seja. Que as asas do destino nos assegurem a sobrevivência e nem por isso se arvorem a nos tolher de voos mais altos. Feliz Natal. Ótimo 2012.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Vida que segue


A celebração da vida sempre faz bem e na companhia de queridos amigos surte um efeito muito melhor. Ontem à noite me desviei do rumo rotineiro e fui ao encontro de um grupo pelo qual tenho um especial apreço. Os inacianos, além de me recordarem lembranças felizes da infância/adolescência, renovam a minha alegria de viver com doses fartas de amizade e carinho, com muito bom humor e grande descontração. Não usufruo mais desses preciosos instantes por não possuir o dom da onipresença. Tenho vontade de estar com todos ao mesmo tempo, capturar cada expressão de felicidade, cada sorriso, cada observação sobre a história de nossas caminhadas de ontem e de hoje. Então só me resta circular entre eles o máximo possível, procurar a simpatia oferecida nos gestos simples e nos comentários entrecortados. Numa frase aqui, num abraço mais adiante, no afago ao coração e na massagem do ego, busco amalgamar os diferentes contextos numa essência apenas. Ela reúne as virtudes e apaga os defeitos, disfarçando a tristeza pelo contato efêmero. Com a mesma presença de espírito, projetamos naquele diminuto lapso de tempo o desejo de uma reunião prolongada, se não por muitos dias ao menos sem hora para terminar. Talvez por isso costuremos os retalhos dos papos paralelos numa extensa colcha que nos cubra a todos. A sede do reencontro se mostra insaciável e nos estimula a beber de todos os potes, sem exceção. Não se privilegia os mais próximos nem os menos assíduos, a expectativa maior reside em permear o conjunto completo de recordações e atualizações. As lacunas das ausências menos equilibram o esforço pela abrangência plena e mais evidenciam a falta que alguém faz. Quem comparece faz jus à troca de informações remotas e recentíssimas na dinâmica frenética de um escambo permanente. Rimos como se os minutos não escapassem, reduzindo as possibilidades de retomar um assunto interrompido. Inesperada e sutilmente chega a hora de ir embora. As despedidas se travestem de até breve mesmo com a sombra de um adeus maquiado de espaçamento longo. Marionetes de uma rotina estressante, preferimos crer na conspiração do destino, cujas linhas de controle nos colocarão no caminho dos demais. A satisfação obtida com essa imagem nos amordaça e manieta, impedindo palavras mais sinceras e cobranças realistas. E ao virarmos as costas já aguardamos com ansiedade pela próxima vez, incomodados com a demora e com as chances perdidas. Olhamos os estranhos, calamos a alma e endireitamos o passo. Vida que segue.  

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Metáforas infinitesimais



O telescópio Kepler, em suas buscas para a NASA, descobriu um novo planeta fora do Sistema Solar, o Kepler 22B, com temperatura média de 21˚C, distante 600 anos-luz de nós e com quase duas vezes e meia do tamanho da Terra. O ano de Kepler 22B dura 290 dias e ele se encontra numa chamada zona habitável, em torno de uma estrela cujas temperaturas são amenas, propiciando a existência de água e de vida. Ano passado foi descoberto outro planeta habitável, o Gliese 581G. Àquela época, Steven Vogt, um dos descobridores, declarou haver na Via Láctea 10% a 20% de estrelas com planetas habitáveis em suas órbitas. Se procede a afirmativa de um estudioso do assunto, e considerando a existência de centenas de bilhões de estrelas, projetamos dezenas de bilhões de chances de não estarmos sós nessa vastidão celeste. Cada vez mais instigante a ideia de que não estamos sozinhos no multiverso. Aumenta a probabilidade de outras civilizações estarem nos observando também.
Sempre que me deparo com essas análises, e o fiz muitas vezes, tendo a me apequenar. Vou mergulhando na minha insignificância até o limite da consciência, no mais longínquo local onde poderia estar um ente parecido conosco, gigantesco ou microscópico. Embora possível, pois desconhecemos o processo de colonização ocorrido, não necessariamente uma semelhança física. Talvez nos assemelhemos mentalmente, na inteligência maior ou menor que a evolução tenha permitido. E a comunicação, estabelecida através de códigos sonoros ou mentalizados? Sabe-se lá o que acontece por aí, nessas vias estelares mal sinalizadas e cheias de buracos negros. A única certeza disponível se disfarça de presunção. Respiramos e expiramos automaticamente, oxigenando a vontade de manter batendo no mesmo ritmo um coração apertado pelas perguntas sem resposta. Na verdade nem precisamos desses porquês, nos bastam as motivações com as quais nos entretemos toda a vida. Ou as julgamos insuficientes? Os que já pensaram nisso conseguiram chegar a uma conclusão?
Enquanto isso vamos vivendo nossos problemas maiores ou menores, questão de ponto de vista, de dioptria. Adiamos o problema de quando e como desvendaremos tamanho mistério escondido na poeira das estrelas começando a ser descoberta debaixo do tapete do Criador. E falando em pó, aquele do qual viemos e ao qual voltaremos, faríamos parte de qual das escalas, da macro ou da micro? Um sopro de plenos pulmões nos dispersaria em direções inimagináveis, eventualmente numa seqüência de atritos ígneos. Percurso resplandecente incandescendo novos sóis, em volta dos quais gravitariam novos mundos, outras vidas, luminosas civilizações. Metáforas infinitesimais do conceito de viver, trilhões de pulgas hospedeiras de um cachorro peludo que passeia nas esquinas do meu cérebro desde criança. Bilhões de estrelas, trilhões de cães, decilhões de dúvidas compartilhadas com um inconsciente coletivo astronomicamente superior ao suposto por nós. Nessa troca permanente envolvendo um número incomensurável de outros pensamentos, alimentamos a esperança de um dia conhecer a chave do enigma supremo. Decifra-me ou te devoro.

domingo, 4 de dezembro de 2011

O tempo seria ilusório?



Segundo Isaac Newton, “o tempo é uma ilusão produzida pelos nossos estados de consciência à medida em que caminhamos através da duração eterna”. Einstein, com a sua Teoria da Relatividade, redimensionou a definição de tempo e de espaço, vinculando a fenômenos psicológicos as figuras de passado, presente e futuro. A vida segue seu rumo inexorável com ou sem eles. Com base em complexas teorias científicas da física quântica, outros defendem esse conceito, partindo da premissa de que o universo, ou o multiverso, seja estático.
A pesquisa incessante de dimensões desconhecidas, da relação espaço-tempo, confere ao tema uma aura de realidade impensável numa primeira análise. Precisamos nos aprofundar em avaliações diferentes das usuais para conjecturar possibilidade tão perturbadora. Afora os cérebros mais preparados para as contradições extremas, os QIs diferenciados, os estudiosos de toda uma vida, a mente normal tem dificuldade de conceber ideias conflitantes com os nossos fundamentos primordiais. O tempo jamais me pareceu única e exclusivamente uma reles medida, uma limitação, uma variável componente de nossas matrizes. Ele fez parte integrante da minha existência de forma inalienável, quando o percebi ou não. Muitas vezes volátil, ele passou sem que eu sentisse, noutras se arrastou modorrento, submetendo minhas aflições a torturas atrozes.
Presente em todas as situações independentemente da cronologia, é verdade, misturo os momentos mais e mais no olhar difuso da vivência. Quase não posso distinguir com exatidão o remoto do porvir, tal o distanciamento. Nem mesmo o hoje se concretiza, pois os fatos ocorrem sem distinção. Tudo acontece, tudo muda, não necessariamente com o tempo. Ele pode apenas rotular, estabelecido um padrão a pontuar o percurso. Mudamos de aparência sob a ótica pouco observadora dos ingênuos ou seríamos outros elementos de uma evolução despercebida? Temos muito mais em comum com o atual do que com o que fomos, nos assemelhamos mais com estranhos do que com as nossas formas anteriores. Pensamos e nos comportamos de acordo com o molde da experiência adquirida, excludentes dos descartes e perfeccionistas do processo.
A abstração do quando requer um esforço de lógica, uma isenção de modelos, um aprimoramento da percepção. Envoltos nos mistérios da mente não prospectada, prosseguimos conscientes do moto contínuo e inconscientes do contexto. A certeza da falência dos conceitos básicos da natureza humana se assenhora de todos num piscar de olhos, no descortinar de novas descobertas, na convicção de que muito há a entender ainda. Quem sabe o direito de ir e vir seja muito mais fundamental do que alguns passos errantes numa dimensão restrita? Sem pós nem pré-conceitos, sem pós nem pré-posições, a resposta talvez não esteja num desde ou num após, mas no ante.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

1º/12/1978



Hoje diga trinta e três.
Por favor, diga outra vez.
Não basta ouvir a respiração,
preciso auscultar o coração,
sabê-lo pulsando por mim,
som do amor sem fim,
eco de acerto e erro,
aconchego e desterro.
Relógio do desafio,
trinta e três anos a fio,
na verdade, pouco mais,
desde o esboço dos ideais.
E fomos fortes até agora,
nenhum revés apavora,
ao contrário, aproxima,
um ao outro reanima,
revigora, reabastece,
realenta, rejuvenesce.
Reconduz ao passado,
namorada, namorado,
total cumplicidade,
paixão, tenra idade,
namoro, noivado,
projeto consagrado,
na saúde, na doença,
os filhos, a mantença,
todos dignos, felizes,
sentimo-nos matrizes,
cuja solução da vez
é o número trinta e três.

domingo, 27 de novembro de 2011

A felicidade está em todas as gotas



Resistimos aos melhores momentos e sobrevivemos aos piores, na verdade as fotos da vida representam registros isolados. Se gravada em película a felicidade seria um filme. Numa ferrovia seria todo o percurso, ao invés das estações de lembranças alegres ou não. O equívoco maior reside em buscar algo indeterminado, abstrato, atemporal. Um estado de espírito não se mede por eventos nem se avalia por cenas isoladas. Vivemos, mais ou menos longevos, saboreando a sensação permanente de altos e baixos, às vezes mais altos, outras mais baixos. Nossa existência também se assemelha a um vinho vintage do ano em que nascemos, cujo aroma e sabor merecem a observação de cada detalhe, gole a gole. Ansiosos e inexperientes, de início bebemos o néctar do bem viver com sofreguidão, supondo tudo acabar com rapidez. Isso volatiliza situações especiais, tornando-as fugitivas da memória, pulverizando ocasiões preciosas em meio a tantos lugares-comuns. A experiência nos harmoniza, nos equilibra, trazendo uma temperança carregada de sabedoria. Nesse estágio passamos a sorver cada instante com parcimônia, prolongando o prazer cuja repetição não se pode assegurar. A necessidade, mãe da invenção, nos condiciona ao aprofundamento da essência guardada nas partículas imperceptíveis do destino. A individualidade dos seres nos identifica de maneira inconfundível, rótulo peculiar de safras complexas. À medida que as gotas invadem as papilas gustativas da vivência, palavras, sons e lembranças se misturam numa combinação difusa e única. Liquefazem numa cronologia particular o conteúdo de uma ampulheta de Baco, uma enológica abordagem da linha do tempo. Quando tudo termina e a garrafa esvazia, o bouquet permanece, valorizando a degustação prolongada e consciente. A singularidade dos grandes vinhos soma inúmeras qualidades, todas dependentes da moderação e da sensibilidade do consumo. Talvez assim se explique a tristeza da quebra do vaso que preserva um líquido tão valioso. A perda de oportunidades tão singelas transfere aos cacos uma condição sui generis. Embora apenas fragmentos de embalagem, reúnem as provas materiais do gosto derramado, do odor evaporado. Farão parte do imaginário, das condicionantes não experimentadas. Talvez por isso a felicidade não caiba numa taça, mas se saboreie repetidas vezes, da primeira à última gotícula envasada. O frutado, o tanino, a acidez e outras alternativas diversificam o mistério a desvendar.  E, a propósito, jamais se esqueça de beber em seguida ao brinde, antes de repousar o copo. Dizem prolongar a felicidade. Saúde!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Todos querem levar vantagem





As pessoas estão ficando cada vez mais desacreditadas. A palavra tem valido pouco e só há alguma certeza nos contratos, cujos itens estabelecem deveres e defendem os direitos das partes envolvidas. E ainda assim com ressalvas, pois já há quem diga que os contratos foram feitos para não se cumprir, para tal bastando só verificar os termos das cláusulas rescisórias. Ou seja, o oportunismo dos acordos já antevê o desfecho no momento do ajuste. Cheguei a viver uma época em que o fio do bigode valia mais do que uma assinatura, embora uma peça de propaganda do passado tivesse como tema “O importante é se levar vantagem em tudo, certo?”. Óbvio se tratar de uma visão míope e ela estigmatizou o protagonista, um grande jogador de futebol, que padeceu muitos anos sob a pecha de enganador. Infelizmente, salvo raras exceções que confirmam a regra, celebridades de todos os setores, empresários e, em especial, os políticos levaram ao homem do povo o hábito de se locupletar com o dinheiro alheio e de não honrar os compromissos. Hoje em dia vemos uma disputa acirrada de quem se comporta mais espertamente, no sentido de ludibriar o máximo todos com quem se mantenha alguma relação, comercial ou pessoal. Os pais ensinam aos filhos toda a sorte de desonestidade, em doses pequenas e aparentemente inofensivas. O problema é que elas se proliferam na consciência de cada um até se transformarem num conceito de caráter desprezível. Na atualidade ele grassa entre os seres humanos em geral, tornando o mundo pior e levando as pessoas a um permanente sentimento de revanchismo. Atingidos pelo comportamento deplorável de quem não tem ética e o menor resquício de princípios morais, a maioria aguarda apenas o momento de se vingar, passando de vítimas a algozes. Não conseguindo devolver a desfaçatez a quem lhe impingiu, esperam a oportunidade de agir da mesma maneira com outro incauto. E por aí vai, em todos os níveis da escala social, num interminável desabar de peças de dominó. O homem perdeu a noção do que significa cidadania, regras de boa convivência, bons costumes, urbanidade, educação em última instância. As pessoas buscam a sobrevivência como se estivessem numa selva, animais famintos dispostos a qualquer atitude para garantir sua primazia, procurando manter ou melhorar suas condições a qualquer custo. Não importa se com o sacrifício de outrem, se relegando as necessidades comuns, se impondo prejuízo material, físico ou sentimental a terceiros. A relevância maior deixou de ser o melhor para todos, isso nada significa. Olha-se todo o tempo para o próprio umbigo, se esquecendo da importância de quem nos cerca, em todas as circunstâncias da vida. Se profissionalmente, as atitudes éticas semeiam futuros negócios, divulgação de uma imagem positiva, multiplicação de serviços, maior rendimento. Se pessoalmente, o procedimento correto estreita laços familiares, angaria amizades, sustenta relacionamentos. Entretanto, a ânsia de levar vantagem vem se disseminado de forma assustadora, colocando ainda mais em xeque a estabilidade de um mundo pior dia após dia, conturbado exatamente pela ignorância de quem o habita. Até onde chegaremos?

domingo, 20 de novembro de 2011

Lutar é preciso


As lutas na moda e mais luto na vida,
no embate diário, na perda sentida,
no suor escorrido, fluído no sangue,
dor contorcida por golpes da gangue.

Derrubado, levanto, resisto à contagem,
inspiro, expiro, enxergo a miragem,
no oásis divino do gongo ecoado,
na esponja da cura, no palavreado.

Um assalto termina e outro começa,
o tempo extermina, o destino tem pressa,
os golpes abatem, contundem a razão,
agridem a moral com letal precisão.

Um mata-leão na dignidade,
imobilizam a lei, nocauteiam a verdade,
manipulam juízos, enganam demais,
dividem o butim e nos roubam a paz.

Assaltos em ringues, consciências, esquinas,
batalhas inglórias, são carnificinas,
desiguais na essência, por definição,
todas perdidas, quase sem exceção.

Os ricos mais ricos em qualquer hemisfério,
massacram inocentes, sem pudor, sem mistério,
e beijamos a lona do circo sem riso,
hoje tem marmelada, mas lutar é preciso.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Raro brilhante

Corrupção, escândalos, outro ministro caindo, a crise na Europa, a pacificação da Rocinha, as sucessivas decisões no futebol. Roda mundo, roda-gigante, rodamoinho, roda pião e o tempo rodando num instante nas voltas do meu coração, segundo já disse o poeta. Não falta assunto nessa roda-viva, a velha máxima do mundo mudar a cada segundo. Às vezes falta iniciativa, de quando em vez disposição, mas do temário ninguém pode reclamar, há muitas alternativas.
Num contraponto ao rol interminável de abordagens possíveis, falarei de musa anônima, inspiradora de alguém muito próximo de mim. Uma pedra preciosa de muitos quilates, embora se apresente com sobriedade e simplicidade incomuns. O aprimoramento da existência depende da permanente lapidação do diamante bruto que somos ao nascermos. Transformá-lo numa joia de grande valia resulta do trabalho dedicado, paciente e exaustivo ao longo de toda a vida. Jamais conseguimos chegar à perfeição, o trabalho sempre se vê interrompido durante o percurso, uns mais cedo, outros mais tarde. Entretanto, há brilhantes naturais, com menos arestas, cujo polimento exige menos sacrifício em razão da maior generosidade da natureza com eles. São criaturas iluminadas, confundidas com brilhantes muito especiais. Assim é a personagem homenageada por mim.
Bastante reservada, gestos recatados, fala baixa e tranquila, seria imperceptível não fosse o brilho próprio e o magnetismo natural. Sua aura emana energia positiva todo o tempo, sua presença suave equilibra o ambiente. Enfim, uma exceção num mundo conturbado e conflituoso ao qual nos acostumamos. Ao acalentar os sonhos de outra pessoa rara, com a qual tenho permanente convívio, potencializa a propagação de positividade entre nós.
Seu lapidar rotineiro completa hoje vinte e um anos, maioridade formalizada nesse plano inferior habitado por nós. Sua caminhada se mostra firme e imperturbável, quase levitando pelos tortuosos caminhos a percorrer. Seus objetivos solidários e suas ações humanitárias expressam o que de melhor indicam seus olhos mansos, espelhos de uma serenidade inabalável. A felicidade longeva se colhe no semear do amor ao próximo, na preservação do carinho irradiado, no despojamento, nas atitudes mais nobres. Nesse aspecto nossa pequena musa se agiganta, refletindo sua poderosa luz em forma de filosofia de vida. Obrigado por compartilhar conosco, mais diretamente com alguém tão especial para nós, sua maneira singela e construtiva de ser. Desejo a você uma caminhada longa e sublime, harmonizada e apoiada pela alma gêmea do caminhante ao seu lado, semente de amor que orgulhosamente ajudei a gerar.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

11/11/11

Os mais místicos entendem o dia de hoje como especial, pela singularidade do 11/11/11, considerado um portal da tríplice felicidade, uma emanação forte de energia. Acreditando ou não, que mal poderia existir na renovação das fontes de nossa manutenção física e espiritual? Seres finitos, a única certeza que temos, dependemos da realimentação permanente de nossas baterias. A vida segue no seu ritmo, sem se preocupar muito com nomes, particularidades, situações individuais. A sobrevivência transcende a necessidade das calorias que consumimos, embora seja um aspecto muitas vezes relegado a um plano secundário. O resumo mais objetivo pode se definir numa pergunta: se não cuidarmos de nós mesmos, quem cuidará? Acordar a cada dia caracteriza um fenômeno físico, orgânico, funcional. Enfrentar e superar as adversidades deixa de ser mental para embutir uma demanda anímica. Podemos atribuí-lo ao espiritual ou à inexperiência na administração dos noventa por cento do cérebro que não utilizamos. Pouco importa, seremos obrigados a conviver com isso. Reserve um pouco desse dia diferente pelo menos no calendário, inédito e sem reincidência, para refletir sobre as conjunções astrais possíveis. Ore, repita um mantra, professe a sua fé como julgar mais adequado, apenas não permita que passe em branco. Num mundo convulsionado, dependemos de muitas mudanças e devemos começá-las por nós mesmos.
Mudando de fio a pavio, como diziam os mais antigos, finalmente prenderam o “Nem”, um dos mais procurados traficantes do Brasil. Uma captura cinematográfica, muito provavelmente em breve transportada para uma tela perto de você. Parece um filme a maneira como se sucederam os fatos, numa blitz parando um carro de luxo, com ocupantes bem vestidos tentando corromper os policiais com um milhão de reais. O “Nem” estava na mala. Quantas vezes a mesma situação pode ter ocorrido? Há dez anos esse traficante impera na Rocinha, sempre escapando de cercos e ações programadas com cuidado pela área de inteligência policial. Ainda que respeitemos o QI desse criminoso, dito acima da média, somos forçados a crer em algo mais nas escapadas por tanto tempo. Agora preso, ele tem muitas informações relevantes a divulgar. Vivemos numa era de descrença nos valores fundamentais do ser humano, quando se ignora a ética e a moral numa rotina em geral desenvolvida no âmbito familiar. As notícias, os exemplos, os políticos, os escândalos só estimulam um comportamento danoso e repugnante. Há poucos dias desarticularam uma quadrilha composta de policiais que cobravam por visitas íntimas e negociavam uma série de regalias para criminosos presos. Assim sendo, não podemos deixar de registrar a atitude dos policiais responsáveis pela prisão do “Nem”. Ao rejeitarem a propina, esses representantes de todos nós, cidadãos apreciadores da lisura e da honestidade, provaram que existimos. Retornaram às suas casas utilizando o trem como transporte, após mais de um dia envolvidos numa operação complexa. Esses militares, homens de bem, foram recebidos com orgulho por seus familiares e deitaram a cabeça no travesseiro com a consciência do dever cumprido. Com a dignidade imaculada. Isso não tem preço, mesmo que os escândalos continuem. E vão continuar. Nós também, afinal, temos fé cega e faca amolada.

sábado, 5 de novembro de 2011

A mesa e a ampulheta

O tempo vai passando rapidamente, impingindo um preço mais caro aos desencontros. As oportunidades vão ficando mais escassas, as restrições aumentam, as razões se mostram mais contundentes no impedimento de nossos desejos. Rever prezados amigos sempre foi e será uma das maiores satisfações pessoais. A freqüência com que isso acontece estabelece uma gradação diretamente proporcional. Ou seja, maior o intervalo entre um encontro e outro, maior a alegria no reencontro. Pelo menos assim funciona comigo. O que não pode determinar o espaçamento grande entre as reuniões, pois havendo uma repetição razoável os reflexos se tornam muito mais saudáveis. Traz maior benefício esse remédio tomado em doses homeopáticas e permanentes, ao invés da ingestão de doses fortes e extemporâneas.
Assim foi um almoço entre inacianos no CADEG, em Benfica, vizinho do aprazível e imperial bairro de São Cristóvão. O local, antes apenas um grande mercado atacadista, pelo qual circulei antes do compromisso, hoje abriga também uma interessante alternativa gastronômica, culinária excelente e carta de vinhos variada. Foi o que encontramos no BARSA. Aos cuidados do Marcelo Barcellos, que nos acolheu pessoalmente com muita gentileza, e da cuidadosa atenção de sua eficientíssima equipe, pudemos desfrutar de sabores muito especiais. Num passe de mágica, saímos do estresse de nosso dia a dia para a conversa agradável e a degustação da comida muito bem preparada. O vinho foi escolhido pelo sommelier Camizão, o legítimo iniciado nos mistérios de Baco em nosso grupo.
Rever o Antonio Marcos, o Attílio, o Camizão, a Fernanda, o Quintanilha, alguns com suas caras metades, transformou a obrigação de repor a necessária energia ao corpo num exercício de relaxamento, numa restauração da alma. O coelho, o pato e o bacalhau se ofereceram ao sacrifício em prol de uma causa justa, respeitosamente perfumados pelos aromas das especiarias e envoltos nos rótulos de seleto bouquet. Tiveram participação destacada, quase protagonizaram a cena, mas se contentaram em coadjuvar nossas lembranças, nossas gargalhadas, nossos abraços. Falamos de tudo, muito de alegria, pouco de tristeza. Sobretudo nos repaginamos uns aos outros, encadernados pela eterna amizade, uma enciclopédia de muitos mais volumes do que a inspiradora do nome do restaurante.
São fortuitos, efêmeros e preciosos esses momentos de descontração junto a queridos companheiros de nossa tortuosa, imprevisível, mas instigante caminhada. Desde os primórdios da civilização o homem celebra a fraternidade em torno da boa mesa. Também por isso, o sabor inesquecível do alimento e da bebida permanecerá na memória gustativa dos que lá estivemos. Certamente semeou o jardim de nossos pensamentos felizes, atrelado aos sorrisos e à energia emanada por cada palavra trocada entre amigos de tão longa data. Florescerá sempre que abrirmos a janela da consciência, aquela a nos estimular a repetição de experiências gratificantes, persistentes promotoras da longevidade. A cada virada da ampulheta elas se fazem mais raras. E, qual as pérolas de maior valor, exigem mais esforço para as encontrarmos. Mais que uma obrigação, um privilégio poder continuar procurando por tais preciosidades.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Outros caminhos

A vida se traduz numa grande metáfora, na qual esclarecemos o inédito através de imagens conhecidas. Assim tem sido desde que o homem das cavernas viu o raio destroçar uma árvore e o julgou divino, idéia transmitida às gerações vindouras até a interpretação científica daquilo. Vivemos cercados por circunstâncias inesperadas, pela repetição ou pela novidade a nos surpreender a cada momento, conforme ocorrem. Nada parece impossível, ao mesmo tempo em que projetos desaparecem num piscar de olhos, castelos de areia derrubados no vai e vem da espuma das ondas. A ação pode vir de uma força da natureza, da natureza humana ou da economia mundial, embora a culpa sempre se atribua ao destino. Há valores impossíveis de avaliar, variáveis incontroláveis, influências intangíveis, em suma, supostamente obras do acaso. No fim das contas, na prática essencial do simples viver, uma existência inteira se modifica num estalar de dedos, nosso ou de terceiros. Haverá um dia explicação para isso?
Por vezes decidimos mal e somos forçados a assumir as conseqüências danosas desses atos. Não se trata de imprudência, de agir sabendo com precisão dos riscos embutidos nessas decisões, mas de nos faltar o dom permanente da premonição, a capacidade de aventar hipóteses desconhecidas. Mesmo assim, há iniciativas evitáveis, quando o livre arbítrio nos concede o direito de optar e escolhemos a alternativa errada. Problema nosso, nesse caso, administrar a velha questão do ônus e do bônus. E quando nada nos sinaliza como agir, quando sem o menor domínio dos fatos somos colhidos pela surpresa dos acontecimentos? Sequer temos poder de reação, qual uma folha arrancada da árvore pela tormenta, arrastada pelo vendaval para lugar ignorado, próximo ou distante, desconhecido ou não.
A força desses eventos nos apequena diante da imensidão das probabilidades. A sobrevivência pode ser uma minissérie ou uma longa história, ainda que isso dependa ou não de nossa muitas vezes insignificante vontade. Resta-nos diligenciar pela melhoria ou pela manutenção das conquistas, a torcida para as tormentas passarem longe, a fé inabalável de que haja alguém no controle quando ele nos foge. Se algo der errado, a crença nos impele à resignação pela opção suprema. A descrença nos leva ao ceticismo com relação ao futuro. Na linguagem futebolística, estejamos na figura A ou na figura B, nossa posição será de impedimento. As câmeras celestiais ou dos satélites comprovam, acima da sinalização da arbitragem terrena.
Meu saudoso avô costumava dizer “menino, vamos em frente que atrás vem gente”. Vem mais do que gente, velho Guila. Você estava correto, do alto de sua sabedoria, que agora imagino muito mais consistente, munido dos manuais indisponíveis por aqui. Meu sábio e querido velho, minha caminhada continuará imperturbável, com certeza, inobstante as perguntas sem respostas. Elas virão a seu tempo, como tantas outras se descortinaram após a infinidade de passos percorridos. Nesse dia especial homenageio a todos cuja visão se ampliou além desse horizonte limitado pela cronologia dos calendários, pela inquietude do desconhecimento, pela imprecisão das avaliações, pela incredulidade nos conceitos. Eles passaram a seguir seus caminhos de maneira diferente, sem a regência do tempo, sem a restrição da dimensão, inatingíveis por fenômenos inesperados. Enquanto isso, a exemplo dos nossos mais remotos ancestrais na face da Terra, o sagrado e o inexplicável se mesclam na indefinição dogmática. Uns buscamos força no incompreensível, respeitosamente a Ele atribuindo nossos acertos e nossos erros. Outros aceitamos o imponderável, a ele vinculando os descompassos da trajetória. De alguma forma, contudo, sentimos falta dos que já não caminham conosco.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Panis et Circenses

P&C1: Mais uma vez num evento mundial os próceres do futebol se superaram. Não bastassem os descalabros dos orçamentos estratosféricos das obras que nos enfiaram goela abaixo para a realização da Copa no Brasil, as revisões dos projetos, as isenções fiscais, os desmandos, o jogo sujo de sempre, agora veio a tabela. E o Maracanã, mesmo esse arremedo do outrora Maior do Mundo, somente receberá a seleção brasileira se chegarmos à final. Trata-se de uma agressão ao palco mais significativo desse esporte, uma afronta ao povo brasileiro, não a um suposto bairrismo carioca. Os profanadores do templo sagrado do futebol conseguiram a façanha de destruí-lo e humilhá-lo em seguida, com requinte de crueldade. Lançando mão de critérios politiqueiros e rasteiros, ignoraram a possibilidade do Maracanã passar pela Copa sem receber a seleção brasileira uma vez sequer. Dizem ter havido mais de cinqüenta alternativas de tabela e escolheram exatamente a que comete uma falha inédita em outra Copa. O mais importante estádio brasileiro corre o risco de passar a Copa sem receber o Brasil em campo.
P&C2: Nessa aldeia chamada mundo, prenderam o Polegar no Paraguai e a dúvida reside apenas em se saber o local mais adequado para mantê-lo preso. De uma maneira ou de outra, um dos mais procurados criminosos brasileiros, acusado de diversos crimes, será mantido afastado da sociedade. E cadê os outros? Qual o valor do rombo, social ou pecuniário, cometido pelo Polegar? Seria comparável com as cifras gigantescas que tomam rumo ignorado sob chancela oficial? Quantos crimes são cometidos diariamente pelos corredores tortuosos dos governos municipal, estadual e federal? Quantas tramóias, quantos superfaturamentos, quantos escândalos, quantas ONGs, quantos desvios, quantos desastres, quantas mortes, quanta corrupção? E onde estão os culpados, os de ontem, os de hoje, os de amanhã? Onde foi o dinheiro há decadas escamoteado ou não em cuecas, em malas, em contas-fantasmas, aqui e no exterior, por qual ralo escorreu? Muitos ajustes devem estar acontecendo nesse exato momento, em gabinetes, em quartos de hotéis, em qualquer parte, à luz do dia ou na calada da noite. Os protagonistas vestem roupas de grife, não se escondem, não se camuflam na selva, não fogem o tempo todo. Mas prenderam o Polegar, a dúvida ficou só no destino. Que destino?
P&C3: A cada dia um bilhão de pessoas no mundo dorme com fome. Enquanto isso, um terço dos alimentos produzidos na face da Terra é mal aproveitado, desperdiçado, jogado fora. E seres humanos morrem de inanição a cada segundo, recém-nascidos mal têm força para chorar, mães, pais, irmãos disputando comida como uma alcatéia faminta, desnutrida de corpo e de alma. O que fazemos por aqui na verdade? Que tipo de espécie representamos, como definir a humanidade? Quantos se enojam diante das notícias, das imagens cruéis nas mídias cada vez mais instantâneas? Até quando haverá esse descompromisso com uma verdade tão agressora, mesmo às consciências mais insensíveis? Afinal, que objetivo sensato nos move a continuar contemplativamente impassíveis. Há dignidade em fazermos parte de uma encenação sórdida, onde poucos se locupletam, muitos sobrevivem e inúmeros são execrados? Quem somos, de onde viemos, para onde vamos? Há conotações diferentes, mas a pergunta se repetirá sempre, eternamente.