Praxe dessa época, dizer que estamos num momento de balanço, em
todas as áreas. Eu
tenho mesmo é saudade dos balanços da minha infância, num pneu pendurado pela
corda na árvore ou nos mais refinados, três ou quatro lado a lado, pintados em
cores vivas e seguros com corrente. Concorrente era o que não faltava, às vezes
dava até briga, pois naquele mercado então se começava a exercitar a regência
das leis da oferta e da procura. Resolvida essa questão, pela fila, pelo
tira-teima, pela opção pelo escorrega ou pela gangorra, a alegria estava na
simplicidade dos gestos. Esticar as pernas ao vento e recolhê-las no retorno,
aumentando o impulso até atingir o limite do voo controlado. Relaxados desafios
de superar recordes, de suplantar marcas, de dominar o frio na barriga e de
arriscar o máximo possível sem perder o domínio da situação. As disputas sob a
aura da pureza não prejudicavam ninguém, somente mexiam com a ansiedade de
novas conquistas. Chegar mais perto do céu, sentir o vento soprar cada vez mais
forte no rosto para depois voltar no movimento pendular da diversão inocente.
Em seguida, mais tardar noutro dia, começava tudo de novo. Felicidade sem
grandes compromissos, sem maiores restrições, sem preços abusivos, sem trocas
proibitivas, sem negociações culpadas. O balanço usado como divertimento,
brincadeira de criança sem qualquer preocupação. Os balanços que a vida trouxe
depois se mostraram muito sérios e desgastantes, não raro exigindo reduções
drásticas, corporativas ou pessoais, orçamentárias ou de alimentação. O tempo
pune com o rigor da maturidade, exige iniciativas experientes e sensatas, nos
impõe um comportamento sisudo. A responsabilidade aumenta numa progressão
incontrolável, o contexto muda de maneira radical, a leveza se torna incomum,
os passos deixam pegadas profundas, portanto necessitando de permanente
planejamento. Não se corre com freqüência, mas com oportunismo. Os sorrisos
escasseiam porque perdem espaço para a objetividade e para os resultados. Ao
crescermos física e mentalmente, brincamos apenas de viver. Enquanto isso,
envelhecemos, adoecemos e desaparecemos sem percebermos bem o que está
acontecendo. Mal nos damos conta de que as alegrias perdidas não têm volta. As
gargalhadas desenfreadas e os valores mais relevantes são relegados à enésima
prioridade, a felicidade se rarefaz, o sentido da vida se inverte. Nesse
período de balanços austeros, desejo a todos que 2011 fuja da regra. Espero que
nos agendamentos do novo ano os alarmes também soem para despertar de vez em
quando a criança adormecida em cada um de nós. Tomara que o façam num toque
lúdico, transformando a rigidez da seriedade na amenidade dos risos infantis.
Assim estaremos semeando saúde, paz e sucesso nos próximos trezentos e sessenta
e seis dias dessa efêmera existência. Se nos parece tão curta, poderia ser bem
mais prazerosa. Não adie esse plano, comece agora. No método do caminho
crítico, ultrapassamos a data mais tarde. Feliz 2012. Feliz sorrir de novo.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Boas Festas
Inexoravelmente sintomático. Chega dezembro e tudo se repete. Em nome de um dia marcante na fé cristã, uma semana antes do alvorecer mágico de novas esperanças, o comércio mostra as suas presas e abocanha um quinhão nem sempre disponível no bolso dos trabalhadores. As artimanhas espreitam os incautos, a avidez das metas dissimula os juros, a argumentação persuasiva bate a carteira dos sonhadores. As casas se engalanam, as famílias se reúnem, os amigos se confraternizam e os inimigos se perdoam. A solidariedade brota dos corações dadivosos, as pessoas parecem mais sensíveis do que o costume. Um período ungido pelas circunstâncias favoráveis transbordando nas músicas, nas imagens, nas ruas. Somos rebanhos de cordeiros despidos de nossas peles de rotina, esquecidos dos outros onze meses e tantos dias. Nosso andar quase em passos de dança parece ensaiado com os demais, num balé coreografado com esmero. A cada olhar uma nova esperança, as razões do amor ao próximo reveladas a cada esquina. Somos felizes mensageiros de uma ordem não duradoura, protegidos pela redoma de nossas culpas. Saberemos viver melhor apenas por uma efêmera fração de tempo, cíclica mas fugaz. O ideal escapa entre os dedos, na fraternidade dos grãos da ampulheta, esvaindo com rapidez. Buscamos agir diferente pelo anseio da remissão. A generosidade semeando frutos envenenados pelo interesse de resgatar o melhor dentro de nós. Planamos com a soberania de quem observa de cima, identificando o momento mais oportuno de mergulhar. Basta esperar, há diversidade e abundância. Sentimo-nos acolhidos pela sorte, alimentamos o espírito e com sutileza espalhamos as sementes para a humanidade. A natureza se incumbe de proliferar nossas intenções e o faz com refinada maestria, contra tudo e contra todos. Estamos restritos, precisamos ousar mais, ampliando a grandeza de nossos gestos ao restante do calendário. Só desta maneira conciliaremos o sono dos justos. Assim seja. Que as asas do destino nos assegurem a sobrevivência e nem por isso se arvorem a nos tolher de voos mais altos. Feliz Natal. Ótimo 2012.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Vida que segue
A celebração da vida sempre faz
bem e na companhia de queridos amigos surte um efeito muito melhor. Ontem
à noite me desviei do rumo rotineiro e fui ao encontro de um grupo pelo qual
tenho um especial apreço. Os inacianos, além de me recordarem lembranças
felizes da infância/adolescência, renovam a minha alegria de viver com doses
fartas de amizade e carinho, com muito bom humor e grande descontração. Não
usufruo mais desses preciosos instantes por não possuir o dom da onipresença. Tenho
vontade de estar com todos ao mesmo tempo, capturar cada expressão de
felicidade, cada sorriso, cada observação sobre a história de nossas caminhadas
de ontem e de hoje. Então só me resta circular entre eles o máximo possível,
procurar a simpatia oferecida nos gestos simples e nos comentários entrecortados.
Numa frase aqui, num abraço mais adiante, no afago ao coração e na massagem do
ego, busco amalgamar os diferentes contextos numa essência apenas. Ela reúne as
virtudes e apaga os defeitos, disfarçando a tristeza pelo contato efêmero. Com a
mesma presença de espírito, projetamos naquele diminuto lapso de tempo o desejo
de uma reunião prolongada, se não por muitos dias ao menos sem hora para
terminar. Talvez por isso costuremos os retalhos dos papos paralelos numa
extensa colcha que nos cubra a todos. A sede do reencontro se mostra insaciável
e nos estimula a beber de todos os potes, sem exceção. Não se privilegia os
mais próximos nem os menos assíduos, a expectativa maior reside em permear o
conjunto completo de recordações e atualizações. As lacunas das ausências menos
equilibram o esforço pela abrangência plena e mais evidenciam a falta que
alguém faz. Quem comparece faz jus à troca de informações remotas e
recentíssimas na dinâmica frenética de um escambo permanente. Rimos como se os
minutos não escapassem, reduzindo as possibilidades de retomar um assunto
interrompido. Inesperada e sutilmente chega a hora de ir embora. As despedidas
se travestem de até breve mesmo com a sombra de um adeus maquiado de espaçamento
longo. Marionetes de uma rotina estressante, preferimos crer na conspiração do
destino, cujas linhas de controle nos colocarão no caminho dos demais. A
satisfação obtida com essa imagem nos amordaça e manieta, impedindo palavras
mais sinceras e cobranças realistas. E ao virarmos as costas já aguardamos com
ansiedade pela próxima vez, incomodados com a demora e com as chances perdidas.
Olhamos os estranhos, calamos a alma e endireitamos o passo. Vida que segue.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Metáforas infinitesimais
O telescópio Kepler, em suas buscas para a NASA, descobriu um novo planeta fora do Sistema Solar,
o Kepler 22B, com temperatura média de 21˚C,
distante 600 anos-luz de nós e com quase duas vezes e meia do tamanho da Terra. O ano de Kepler 22B dura 290 dias e ele
se encontra numa chamada zona habitável, em torno de uma estrela cujas temperaturas
são amenas, propiciando a existência de água e de vida. Ano passado foi
descoberto outro planeta habitável, o Gliese 581G. Àquela época, Steven Vogt, um dos
descobridores, declarou haver na Via Láctea 10% a 20% de estrelas
com planetas habitáveis em suas órbitas. Se procede a afirmativa de um
estudioso do assunto, e considerando a existência de centenas de bilhões de
estrelas, projetamos dezenas de bilhões de chances de não estarmos sós nessa
vastidão celeste. Cada vez mais instigante a ideia de que não estamos sozinhos
no multiverso. Aumenta a probabilidade de outras civilizações estarem nos
observando também.
Sempre que me deparo com essas análises, e o fiz muitas vezes, tendo a
me apequenar. Vou mergulhando na minha insignificância até o limite da
consciência, no mais longínquo local onde poderia estar um ente parecido
conosco, gigantesco ou microscópico. Embora possível, pois desconhecemos o
processo de colonização ocorrido, não necessariamente uma semelhança física.
Talvez nos assemelhemos mentalmente, na inteligência maior ou menor que a
evolução tenha permitido. E a comunicação, estabelecida através de códigos
sonoros ou mentalizados? Sabe-se lá o que acontece por aí, nessas vias
estelares mal sinalizadas e cheias de buracos negros. A única certeza
disponível se disfarça de presunção. Respiramos e expiramos automaticamente, oxigenando
a vontade de manter batendo no mesmo ritmo um coração apertado pelas perguntas
sem resposta. Na verdade nem precisamos desses porquês, nos bastam as motivações
com as quais nos entretemos toda a vida. Ou as julgamos insuficientes? Os que
já pensaram nisso conseguiram chegar a uma conclusão?
Enquanto isso vamos vivendo nossos problemas maiores ou menores,
questão de ponto de vista, de dioptria. Adiamos o problema de quando e como desvendaremos
tamanho mistério escondido na poeira das estrelas começando a ser descoberta debaixo
do tapete do Criador. E falando em pó, aquele do qual viemos e ao qual
voltaremos, faríamos parte de qual das escalas, da macro ou da micro? Um sopro de
plenos pulmões nos dispersaria em direções inimagináveis, eventualmente numa
seqüência de atritos ígneos. Percurso resplandecente incandescendo novos sóis,
em volta dos quais gravitariam novos mundos, outras vidas, luminosas civilizações.
Metáforas infinitesimais do conceito de viver, trilhões de pulgas hospedeiras de
um cachorro peludo que passeia nas esquinas do meu cérebro desde criança. Bilhões de estrelas, trilhões de cães, decilhões de dúvidas compartilhadas com um inconsciente
coletivo astronomicamente superior ao suposto por nós. Nessa troca permanente envolvendo
um número incomensurável de outros pensamentos, alimentamos a esperança de um
dia conhecer a chave do enigma supremo. Decifra-me ou te devoro.
domingo, 4 de dezembro de 2011
O tempo seria ilusório?
Segundo Isaac Newton, “o tempo é
uma ilusão produzida pelos nossos estados de consciência à medida em que
caminhamos através da duração eterna”. Einstein, com a sua Teoria da
Relatividade, redimensionou a definição de tempo e de espaço, vinculando a
fenômenos psicológicos as figuras de passado, presente e futuro. A vida segue
seu rumo inexorável com ou sem eles. Com base em complexas teorias científicas
da física quântica, outros defendem esse conceito, partindo da premissa de que
o universo, ou o multiverso, seja estático.
A pesquisa incessante de
dimensões desconhecidas, da relação espaço-tempo, confere ao tema uma aura de
realidade impensável numa primeira análise. Precisamos nos aprofundar em
avaliações diferentes das usuais para conjecturar possibilidade tão
perturbadora. Afora os cérebros mais preparados para as contradições extremas,
os QIs diferenciados, os estudiosos de toda uma vida, a mente normal tem
dificuldade de conceber ideias conflitantes com os nossos fundamentos
primordiais. O tempo jamais me pareceu única e exclusivamente uma reles medida,
uma limitação, uma variável componente de nossas matrizes. Ele fez parte
integrante da minha existência de forma inalienável, quando o percebi ou não.
Muitas vezes volátil, ele passou sem que eu sentisse, noutras se arrastou
modorrento, submetendo minhas aflições a torturas atrozes.
Presente em todas as situações
independentemente da cronologia, é verdade, misturo os momentos mais e mais no
olhar difuso da vivência. Quase não posso distinguir com exatidão o remoto do
porvir, tal o distanciamento. Nem mesmo o hoje se concretiza, pois os fatos
ocorrem sem distinção. Tudo acontece, tudo muda, não necessariamente com o
tempo. Ele pode apenas rotular, estabelecido um padrão a pontuar o percurso.
Mudamos de aparência sob a ótica pouco observadora dos ingênuos ou seríamos
outros elementos de uma evolução despercebida? Temos muito mais em comum com o
atual do que com o que fomos, nos assemelhamos mais com estranhos do que com as
nossas formas anteriores. Pensamos e nos comportamos de acordo com o molde da
experiência adquirida, excludentes dos descartes e perfeccionistas do processo.
A abstração do quando requer um
esforço de lógica, uma isenção de modelos, um aprimoramento da percepção. Envoltos
nos mistérios da mente não prospectada, prosseguimos conscientes do moto
contínuo e inconscientes do contexto. A certeza da falência dos conceitos
básicos da natureza humana se assenhora de todos num piscar de olhos, no
descortinar de novas descobertas, na convicção de que muito há a entender
ainda. Quem sabe o direito de ir e vir seja muito mais fundamental do que
alguns passos errantes numa dimensão restrita? Sem pós nem pré-conceitos, sem
pós nem pré-posições, a resposta talvez não esteja num desde ou num após, mas
no ante.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
1º/12/1978
Hoje diga
trinta e três.
Por favor,
diga outra vez.
Não basta
ouvir a respiração,
preciso auscultar
o coração,
sabê-lo pulsando
por mim,
som do amor sem
fim,
eco de acerto
e erro,
aconchego e
desterro.
Relógio do desafio,
trinta e três
anos a fio,
na verdade,
pouco mais,
desde o
esboço dos ideais.
E fomos
fortes até agora,
nenhum revés
apavora,
ao contrário,
aproxima,
um ao outro
reanima,
revigora,
reabastece,
realenta, rejuvenesce.
Reconduz ao
passado,
namorada,
namorado,
total
cumplicidade,
paixão, tenra
idade,
namoro,
noivado,
projeto consagrado,
na saúde, na
doença,
os filhos, a
mantença,
todos dignos,
felizes,
sentimo-nos matrizes,
cuja solução
da vez
é o número trinta e três.
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