Não sei se o título “O cio da
terra dos privilegiados” assustou, mas não houve muito interesse num assunto
sério. Afinal, corrupção mata. Por isso, volto a escrever sobre o tema. Exceção a um e outro escândalo,
como agora os 700 milhões desviados da saúde em Duque de Caxias, a impunidade
deita e rola nos contratos superfaturados, conchavos, acordos espúrios, associações
escusas, o nome que se queira dar. Como suportar isso sem reagir? Não há uma
forma de monitorar e coibir essas tramoias? Quando perpetradas e descobertas,
caso do Mensalão, por exemplo, como reaver tão significativos valores? Ao
contrário, ainda vemos quem os defenda. Mais ou menos no tom “se eu estivesse
lá faria a mesma coisa”.
Afora os exorbitantes salários
dos governantes, benesses, vantagens e nepotismo, a prática das negociatas
precisa ser banida em definitivo. Convivemos com o enriquecimento de quem
exerce o poder sem a nossa devida contestação, sem uma reação à altura da
gravidade da questão. São recursos embolsados e diminuídos das aplicações
sociais tão carentes, seja na saúde, na segurança, na educação ou em outra área
cuja premência todos conhecemos. O povo precisa se mexer, discordando de um
hábito abominável, mesmo em regiões de pouca mídia e divulgação pequena. Nas
praças de maior vulto então, é inaceitável fechar os olhos à situação.
O exercício que pretendo fazer
aqui diz respeito ao melhor instrumento de aferição. As declarações de
rendimento confrontadas com o aumento de patrimônio em desacordo com os
vencimentos pode ser um bom início. Porém, não deve ser o único. Os parentes,
próximos ou não, precisam acompanhamento. Heranças, prêmios de loteria, enfim,
tudo que se assemelhe às cortinas de fumaça. A atividade do homem público não
pode se limitar a ser honesta, tem que parecer honesta. Sinais de riqueza
aparente não combinam com essas funções. Não merece isso o povo miserável,
padecendo nas filas do INSS e dos hospitais públicos, morrendo nas enchentes e
desabamentos. Chega a ser afronta.