Li dia desses que um ator
argentino famoso naquelas plagas, Ricardo Darín, virou persona non grata na Casa Rosada por ter criticado o aumento do
patrimônio da família Kirchner. O ator cometeu a blasfêmia de questionar a
multiplicação por doze do patrimônio do casal presidencial argentino depois da
chegada ao poder. Também sempre me intrigou o fenomenal sucesso dos políticos em geral nas finanças
pessoais. Um verdadeiro milagre dos peixes não repetido nos números do erário.
Na prática, a exponencial evolução
patrimonial respeita uma relação direta com o status do cargo ocupado. Jamais
entendi porque não se estabelece um controle sobre o descalabro desse enriquecimento mágico. Os vencimentos de qualquer função pública são conhecidos e
publicados nos Diários Oficiais. Inclusive faz tempo que a internet facilita o
acesso a essas informações. Ainda assim, a execução de uma simples operação, a
de multiplicar a remuneração pelos meses decorridos entre a posse e a
exoneração, não consegue esclarecer.
Desafio qualquer um a fazer essa
elementar prova dos nove, digamos assim. Procurem as origens dos políticos mais
conhecidos, só a título de exemplo. Caso não venham de uma tradição familiar no
ramo político, justificando por si só, ou não tenham nascido em famílias ricas,
chega ser espantoso o tino comercial de todos. Os zeros à esquerda nos saldos
bancários se catapultam para a direita, antes da vírgula, é óbvio, com uma
facilidade impressionante.
Eles, esposas, filhos e agregados
usam as grifes mais famosas em itens de vestuário, acessórios, relógios,
gravatas, perfumes, mimos de todo o tipo. Imóveis residenciais, de praia e de
campo, não raro fazendas de pecuária leiteira ou de reprodução. Enfim, um
rol inimaginável de opções de investimento com retorno espetacular em
poucos anos, garantindo o futuro da família por algumas gerações.
Apenas confirmam a regra as raríssimas exceções dos que assumem
pobres e saem remediados. Um mistério impenetrável, um
exercício de economia merecedor de atenção mais detida. Um tema digno de
consultorias e palestras desses gênios da economia, decerto muito bem pagas,
proporcionando à humanidade a oportunidade de aprender o caminho das pedras
dentro da legalidade.
Nem falo do turismo forçado que
os dedicados homens públicos e sua prole costumam fazer pelo mundo. Globe-trotters por dedicação extrema,
sempre em causa justa pela melhoria de vida da população. No ímpeto de nos servirem
cegamente, nossos governantes rodam o mundo durante seus mandatos, uns mais
outros menos. Alguns ficando mesmo mais no exterior do que na região sob sua
responsabilidade. Viagens pagas pelo dinheiro do contribuinte, diga-se de
passagem, sem trocadilho.
Apesar de todos esses gastos e
sinais de riqueza aparente, os políticos conseguem amealhar fortunas
incalculáveis. Será impossível monitorar isso através de auditoria da Receita
na saída desse pessoal dos corredores felpudos
palacianos? Ao menos nas contas mais estratosféricas? Estou exagerando ou conhecem alguém que se enquadre nesse perfil? Qual a origem
de tanto dinheiro? Alguma vez ele nos foi devolvido, a título de doação, em obras de
saneamento básico, em investimentos na saúde, em melhorias na educação?
O que fazemos a respeito, entra
governo, sai governo? Somos meros espectadores observando estarrecidos o despontar de carreiras
políticas de esposas, amantes, filhos, filhas, netos, netas, parentes próximos
ou não, todos seguidores da mesma cartilha. Se pudessem se
defender, o que diriam o meu, o seu, os nossos suados cobres tributados? Como entender por que o cio é só na terra dos privilegiados? Pior, como aceitar isso com tamanha resignação?
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