quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Metáforas infinitesimais



O telescópio Kepler, em suas buscas para a NASA, descobriu um novo planeta fora do Sistema Solar, o Kepler 22B, com temperatura média de 21˚C, distante 600 anos-luz de nós e com quase duas vezes e meia do tamanho da Terra. O ano de Kepler 22B dura 290 dias e ele se encontra numa chamada zona habitável, em torno de uma estrela cujas temperaturas são amenas, propiciando a existência de água e de vida. Ano passado foi descoberto outro planeta habitável, o Gliese 581G. Àquela época, Steven Vogt, um dos descobridores, declarou haver na Via Láctea 10% a 20% de estrelas com planetas habitáveis em suas órbitas. Se procede a afirmativa de um estudioso do assunto, e considerando a existência de centenas de bilhões de estrelas, projetamos dezenas de bilhões de chances de não estarmos sós nessa vastidão celeste. Cada vez mais instigante a ideia de que não estamos sozinhos no multiverso. Aumenta a probabilidade de outras civilizações estarem nos observando também.
Sempre que me deparo com essas análises, e o fiz muitas vezes, tendo a me apequenar. Vou mergulhando na minha insignificância até o limite da consciência, no mais longínquo local onde poderia estar um ente parecido conosco, gigantesco ou microscópico. Embora possível, pois desconhecemos o processo de colonização ocorrido, não necessariamente uma semelhança física. Talvez nos assemelhemos mentalmente, na inteligência maior ou menor que a evolução tenha permitido. E a comunicação, estabelecida através de códigos sonoros ou mentalizados? Sabe-se lá o que acontece por aí, nessas vias estelares mal sinalizadas e cheias de buracos negros. A única certeza disponível se disfarça de presunção. Respiramos e expiramos automaticamente, oxigenando a vontade de manter batendo no mesmo ritmo um coração apertado pelas perguntas sem resposta. Na verdade nem precisamos desses porquês, nos bastam as motivações com as quais nos entretemos toda a vida. Ou as julgamos insuficientes? Os que já pensaram nisso conseguiram chegar a uma conclusão?
Enquanto isso vamos vivendo nossos problemas maiores ou menores, questão de ponto de vista, de dioptria. Adiamos o problema de quando e como desvendaremos tamanho mistério escondido na poeira das estrelas começando a ser descoberta debaixo do tapete do Criador. E falando em pó, aquele do qual viemos e ao qual voltaremos, faríamos parte de qual das escalas, da macro ou da micro? Um sopro de plenos pulmões nos dispersaria em direções inimagináveis, eventualmente numa seqüência de atritos ígneos. Percurso resplandecente incandescendo novos sóis, em volta dos quais gravitariam novos mundos, outras vidas, luminosas civilizações. Metáforas infinitesimais do conceito de viver, trilhões de pulgas hospedeiras de um cachorro peludo que passeia nas esquinas do meu cérebro desde criança. Bilhões de estrelas, trilhões de cães, decilhões de dúvidas compartilhadas com um inconsciente coletivo astronomicamente superior ao suposto por nós. Nessa troca permanente envolvendo um número incomensurável de outros pensamentos, alimentamos a esperança de um dia conhecer a chave do enigma supremo. Decifra-me ou te devoro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário