quinta-feira, 14 de julho de 2011

O dia de glória não chegou ainda

Poucos sabem o significado formal do 14 de julho para o povo francês. Diferentemente da apregoada comemoração da Queda da Bastilha, dia envolto em violência e linchamento, em 1880 os deputados franceses escolheram a Festa da Federação, ocorrida em 14 de julho de 1790. A data cívica diz respeito ao momento de reconciliação do povo com a burguesia, aproximando a monarquia da nova Constituição e efetivando a República.
Só a partir de então, numa confraternização sem contestar a monarquia mas ratificando a revolução, com a presença do povo e do exército, foram superadas as feridas ainda não cicatrizadas e proclamaram a união nacional. Apesar do sentimento conciliador do parlamento, do ponto de vista prático, entretanto, o mundo todo considera a tomada da Bastilha pelo povo como o marco histórico daquela nação.
Muito já li e ouvi a respeito da construção das grandes nações. É costume dizer que a sedimentação de uma potência mundial ocorre em grandes revoluções, normalmente banhadas em sangue. Sob o rigor dos fatos, vários dos países mais desenvolvidos acompanharam essa regra. O tema é por demais polêmico e não vou me furtar a opinar a respeito.
Ao convivermos com os achaques conhecidos, a desconsideração da ética e da moral, os escândalos sucessivos e quase diários, podemos supor que a adoção de um caminho de confronto no passado fosse a panacéia para os nossos problemas. Não concordo, pois sempre haverá espaço para o diálogo.
Mudanças mais significativas dependem de amadurecimento por longo tempo, plena democracia e discussões amplas com participação do povo através de seus representantes eleitos. Buscar o consenso é um exercício de cidadania e uma demonstração de evolução social. A truculência deixa cicatrizes muitas vezes profundas e incuráveis, lembranças mal resolvidas ao longo do tempo.
Escutar a Marselhesa é agradável e inspirador. Melhor mesmo seria que toda terceira semana de novembro, quando a safra do Beaujolais embarca para o mundo, qualquer cidadão no Brasil, na África ou na América Central já tivesse a certeza de poder degustá-lo acompanhado de um queijo brie. Nesse caso, o espírito da Revolução Francesa estaria disseminado pela face da Terra. Portanto, lavado no sangue de tantas mortes, em 14/07/1789 o dia de glória não chegou. Com o Beaujolais e o queijo brie mais democráticos ele chegaria.

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