terça-feira, 26 de julho de 2011

O DNIT não é na Noruega

As tragédias pulam das manchetes da euforia midiática para o colo dos leitores sequiosos pelas novidades. Vivemos movidos pela ansiedade da atualização simultânea, consumidos pelas inúmeras alternativas de informação imediata. Engenhocas de todos os tipos e modelos nos acompanham dia e noite, trazendo notícias que desrespeitam nossos horários atendendo à volúpia dos fusos vanguardistas.
A velocidade dos fatos permanece a mesma, enquanto a divulgação se disseminou assustadoramente. Não escolhemos as notícias, apenas avaliamos se queremos ler uma ou outra, dependendo do que mais nos atrai. A classificação de nossos interesses acelera a necessidade de reposição das informações. Não podemos regular, por exemplo, quantos escândalos sobre corrupção no Brasil nos atingirão, tal a enxurrada de denúncias nos atropelando diariamente. Quando algo se supõe insuperável, vem algo novo desmentir. No mergulho da inadiável faxina feita no DNIT em Brasília submerge também a razão, ao sabermos que agora se exigirá ficha-limpa de quem ocupe os cargos de confiança naquele órgão. Agora?! E em todos os outros? Lembrei do político flagrado num comportamento prostituído, momento a partir do qual prometeu rever seus conceitos. Que exemplar!
Assim, nem bem se apurou com a devida profundidade o possível envolvimento de um governante com empresários interessados em negócios públicos, eis que já aflorou outra série de mazelas administrativas num ministério dos mais importantes. Tornou-se hábito, não o que faz os monges das improbidades, mas aquele que nos acostuma e nos leva a acabar esquecendo a desfaçatez de ontem por categorizarmos a maracutaia de hoje. Ao desvio de recurso público alocado para recuperar cidades destruídas pelas catástrofes se sobrepõe a compra de lotes destinados a assentamentos de trabalhadores rurais, que substituímos pelo propinoduto do Ministério dos Transportes, que dá lugar ao dinheiro público investido na Copa do Mundo de 2014 e por aí vai. Sai um de cena e entra outro, num revezamento incansável de achacadores.
Há quem diga que o Grande Arquiteto do Universo foi equilibrado ao definir o que colocar em cada país. Alegam que Ele nos premiou com a natureza invejada pelo mundo, além de nos poupar de acidentes naturais mais graves, em contrapartida a nos aquinhoar com a índole ruim dos que zelam pelo diversos níveis de gestão estatal. À medida que o tempo vai passando, tudo indica ser forçoso concordar com esses argumentos. Não nos deparamos com tsunamis, furacões ou terremotos. Entretanto, somos vítimas frequentes da flagelação pelos atentados à moral, à ética, às leis, sob enfoques separados ou juntos.
Por indiscutíveis diferenças culturais e históricas, não é comum nos defrontarmos com desequilibrados que perpetrem ataques a centenas de inocentes, qual os de Oslo. O caso da escola em Realengo trata-se de uma exceção em escala bem menor. Por outro lado, a nossa capacidade de reação aparenta ser inversamente proporcional ao nosso limite de indignação. Enquanto mais de dez por cento da população da capital norueguesa foi às ruas para homenagear as vítimas da hedionda chacina, por aqui mantemo-nos distantes da realidade e quase cúmplices das manchetes.
Por essas e por outras, o Haiti é aqui e o DNIT não é na Noruega.

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