segunda-feira, 11 de julho de 2011

E o consumidor, o que é?

Seria cômico, não fosse trágico, o tratamento destinado aos consumidores em quase todas as áreas de prestação de serviço. Acumulei, ao longo da vida, inúmeras contrariedades criadas pelo péssimo atendimento recebido. Passei por toda a sorte de absurdos, desde compra de automóvel dito novo e já usado, até sofrimentos frequentes no serviço de TV por assinatura.
Comprei um carro zero quilômetro, usado duas semanas por um diretor da concessionária, um dos sócios da mesma. Em conversas informais no setor de manutenção do local, descobri que isso era habitual. Todas as vezes que o caminhão-cegonha chegava, o tal diretor escolhia um carro entre os melhores, mandava desconectar o cabo do hodômetro e rodava com ele por uns dez, quinze dias. Reconectado o cabo do hodômetro e providenciada uma geral, veículo no salão para ser vendido como novo.
Já assinante de TV fechada, optei por um pacote novo, com a instalação de um equipamento mais sofisticado. A mensalidade aumentou a partir do mês seguinte, único ônus informado. Ano e pouco mais tarde, sem explicação ou aviso anterior, me cobraram o equipamento. Questionei a operadora e fui informado que eu sabia. Pedi a minha assinatura num documento ou uma gravação de contato telefônico. Nada tinham e alegaram que a gravação mantinham em arquivo por apenas três meses. Ou seja, supostamente após noventa dias, jogam fora o comprovante da dívida contraída. Passados treze meses a debitam à revelia, alegando eliminada a única comprovação. Excelente negócio.
O governo criou canais para nos socorrermos desses contos do vigário. Entretanto, nem sempre eficientes como deveriam, levam o consumidor à exaustão no trâmite insano de cada reclamação. Com respostas infundadas e explicações vazias, a empresa alvo da reclamação cumpre um ritual protocolar ante o órgão regulador. Ao que parece, objetivam cansar o reclamante, qual boxeador aceitando apanhar em todos os rounds para ganhar a luta com um golpe certeiro no último assalto.
À justiça poucos recorrem, até denotando alguma evolução, pois por muitas décadas sequer defendemos esses direitos. Resta o problema do tempo, seja para acionar seja para esperar, pelo árduo e longo caminho a percorrer. Pior, nem sempre exitoso, por incrível que isso possa parecer.
Sempre que me obrigo a efetuar um depósito judicial, sofro na fila do banco que monopoliza a operação, em média cinquenta minutos cada vez. Resolvi acionar a referida instituição, partindo do pressuposto da existência de uma lei determinando o prazo máximo para a permanência em filas de banco. Passados muitos meses, tive o dissabor de ver minhas pretensões jogadas por terra. Ficou o dito pelo não dito e o processo arquivado.
Depois de tantos infortúnios, pelo menos tive uma vantagem curiosa, ao ficar mais risonho. Todo dia, ao acordar e lavar o rosto, dou sonoras gargalhadas ao me olhar no espelho para fazer a barba. Sempre me surpreendo com o meu redondo nariz vermelho e minha roupa engraçada, inclusive um hilário chapéu com bolinhas coloridas.
E reflito feliz: ainda bem que esse pessoal todo que me reconhece como consumidor se diverte muito mais do que eu. Senão, qual seria a graça?

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