quinta-feira, 21 de julho de 2011

Muita luz

Respeito a crença de todos nesse espaço tão laico quanto esse país miscigenado. Sinto-me à vontade para escrever que há um lugar no Rio, em meio à selva de hostilidades e de intransigência, onde se pode respirar ar puro, tranquilidade e amor. Um oásis de espiritualidade e equilíbrio, fonte de energia para a recuperação do corpo e da alma. Uma pedra preciosa incrustada na montanha de problemas do dia a dia, um local de meditação e iluminação do espírito.
O acesso nos transporta a um cenário bucólico, uma espécie de área rural dentro da cidade, a minutos do trânsito caótico e do nervosismo em ebulição. Não raro passarmos por carroças, cavalos e outros animais, numa regressão gradual da tecnologia e da modernidade. Ao transpormos o portão de entrada nos obrigamos a desligar celulares, rádios e qualquer outro equipamento cuja frequência interfira no campo energético do local.
A paisagem é sublime, uma tela de natureza virgem emoldurada por quase todas as pessoas de branco, a simpatia e a solidariedade se sobrepondo a tudo. A paz se observa em cada gesto, em cada olhar, em cada palavra. O objetivo principal de apoiar o próximo se expressa no tratamento generoso de todos a todos, sem distinção de classe social, raça ou cor.
O som ambiente transmite harmonia, purificando a mente e favorecendo a absorção de tanta positividade. Espaçadamente, se ouve uma mensagem pausada e inspiradora, estimulando a reflexão. Tudo conspira a favor da reenergização e do fortalecimento da essência que nos mantem vivos. É impossível negar a contemplação da felicidade, seja qual for o motivo que nos leva até ali.
No silêncio de minhas orações me flagrei observando algumas borboletas que vagavam sobre uma fonte de água corrente. O bailar de suas asas coloridas elevou meu pensamento para a imensidão do universo. A pequenez de minhas súplicas se inferiorizou ainda mais. Voltei à realidade no chiar dos micos que se enfileiravam dos cipós aos muros, demonstrando intimidade com os presentes. Um recado de Darwin religou meus contatos.
Religar, religare, religião. Nem sempre a fé nos guia, nos obrigando a enxergar a vida com a insensibilidade de quem busca respostas imediatas, sem explicações inexatas e com esclarecimentos simples. Na falta de um manual, de um padrão, temos como alternativa internalizar a visão, permitir a introspecção, descortinar o caminho.
O Lar de Frei Luiz, a querida Boiúna, aquele sagrado reduto de paz e fraternidade, pode deixar algumas questões sem resposta, em especial àqueles que não percebem os sinais menos evidentes. Lá nos sentimos fragmentos de um conjunto, frações infinitesimais da unidade, poeira das estrelas. Naquela ilha de placidez, estreitamos nossos laços de amor ao próximo, nos completamos como seres e descobrimos o sentido de uma existência mais plena. Quase desfrutamos da perfeição, assunto de outro capítulo, noutro plano.

2 comentários:

  1. Você meu irmão, cada vez mais sedimenta, a certeza que tenho e a muito, direcionada ao seu talento, não só pela riqueza das palavras, como também, pelas comparações criativas que emolduram o cenário que, por alguns instantes, chegamos quase sentir o aroma e ouvir os guinchos e chiados nessa narrativa. Isso é sabedoria, arte, puro talento...!!!

    ResponderExcluir
  2. Alexandre, parabéns pelos textos.

    ResponderExcluir