quarta-feira, 6 de julho de 2011

Encruzilhadas

Somos parecidos na essência, temos a mesma direção, ainda que divergentes nos sentidos. Quantas vezes nos vemos nas encruzilhadas da vida, tão complexas quanto nossas expectativas. O mais modesto trabalhador, saindo de casa quando o sol sequer raiou, supera as suas, certamente. Por mais óbvia a diferença das cruzadas, por exemplo, pelo empresário bem sucedido, ambos se consomem em seus momentos de preocupação.
O homem do povo dribla as dificuldades imitando os ídolos no futebol. Só se distinguem porque o craque da bola recebe num mês o que o outro não acumula numa vida de trabalho. Contorcionista ao entrar no trem, o operário garante espaço para os seus graves problemas cotidianos. Gladiador urbano, acostumou-se ao bafo do leão que mata a cada dia, só fraquejando diante do débito social com a família e frente à permanente falta de dinheiro. Equilibrista sem rede, o salário morre na queda após o eterno duelo com a folha do calendário. Mas dá um jeito de arranjar algum para o donativo de fé ou para beber com os amigos, inclusive o santo. Sonha ser patrão e, sobretudo, adora viver.
O empresário, de parâmetros e status distintos, tem compromissos de toda a ordem. O helicóptero, qual o beija-flor e o artilheiro, pára no ar e finta o trânsito. O espaço aéreo não tem esquinas e vira a arena onde os guerreiros mal se vêem, muito se falam, sempre se enfrentam. Pequenos aparelhos de última geração os conectam com todas as mídias. Na presunção de aumentar o tempo de lazer, a tecnologia escravizou a todos, acirrou as batalhas e desumanizou os contatos. As manobras não dependem mais do dia ou da noite, de local ou de estação. Precisam acontecer continuamente. Na agenda nada mais cabe e o homem de negócios quer mais do que possui, não importa quanto e a que preço. Sonha ser dono do mundo e, convicto, pensa que vive.
São tantas e perigosas as decisões, tortuosos os caminhos, que pouco dormem, porque um não consegue e o outro supõe não poder. Ainda assim conseguem sonhar, mesmo acordados. Enxergam novas alternativas, singelas ou grandiosas, quase imperceptíveis a um e a outro, sob perspectivas bem singulares. Em suma, desejam mais, cada um a seu modo. E, ao desejarem mais, multiplicam as encruzilhadas.

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