segunda-feira, 4 de julho de 2011

Deus, salve os Américas


Ainda que precisem entender não serem o centro do Universo, hoje é um dia importantíssimo para o pessoal de uma grande nação do hemisfério norte. Momento marcante deles, em que o nacionalismo transpira por todos os poros de lá, em cada estado representado pela estrela da bandeira que ostentam com orgulho e paixão.

Justo e louvável, diria até digno de inveja para nós, que só lembramos disso quando a pátria de chuteiras entra em campo ou quando o hino nacional toca por algum pódio alcançado muito eventualmente. Aí emerge um sentimento patriota, com frequência banhado em lágrimas, um repentino acometimento de brasilidade extremada.

Raro termos essa reação quando lemos os descalabros diários contra o bolso do contribuinte, travestidos de negociações espúrias, muitas vezes promíscuas, entre governantes e empresariado. A indignação do povo passa longe diante das manchetes dos escândalos que custariam a carreira de políticos em outros países. Queremos a Copa e as Olimpíadas, para vestirmos as camisas amarelinhas e desfraldarmos as bandeiras.



Os achaques à cidadania também não encontram repúdio dos movimentos coordenados pelas entidades de classe que tão bem se articulam em prol de interesses setoriais. Quando a causa é isolada há uma coesão enorme, uma participação ativa. Em situações mais abrangentes vemos um salve-se quem puder estabelecido com regras claras.

A minoria, os que estão defesos aos ataques dos homens públicos, ou seja, os moradores de casa própria, os detentores de planos de saúde, os protegidos por segurança privada, se encastelam em suas ilhas de felicidade e evitam se aprofundar nesses temas incovenientes. Vários sabem cantar o hino, preferindo deixar para fazê-lo nos eventos esportivos apenas por precaução.
A maioria, os habitantes de locais sem infraestrutura, muitos em encostas de morros, os frequentadores dos hospitais públicos e os que saem de casa sem saberem se voltam, esses oram a quem têm fé e às vezes lembram das eleições, apenas no auge da crise. Sem se revoltarem nem se unirem, esquecem do hino, que sequer conseguem decorar, imaginando escrito em outro idioma.

E aí, quando chega o dia 7 de setembro, todos aproveitam o feriado, seja regado a uma cachacinha, a uma cervejinha ou a um 12 anos.“Há os que vão pra mata, pra cachoeira ou pro mar, mas eu que sou do samba vou pro terreiro sambar”. Os demais levam mulher e filhos ao desfile das forças armadas, sem compreender exatamente o que fazem lá. E vida que segue.

Deus, salve os Américas. O do José Trajano, o Mineiro e o de Natal.

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