sábado, 2 de julho de 2011

A metáfora do cachorro e suas pulgas


Devemos acreditar que o Universo seja um gigantesco lustre, com milhões de pequenas lâmpadas, que foi pendurado num teto que se autoconstruiu? Guardadas as proporções da explicação simplista, diante de tal complexidade e magnitude, essa imagem me intrigou a vida inteira.
Desde menino desenvolvi uma aguçada curiosidade em relação ao assunto. Em busca de uma definição mais compreensível para essas dúvidas, procurei uma figura que trouxesse um esclarecimento mais óbvio. Foi então que, não sei exatamente por que razão, me ocorreu a imagem do cachorro e suas pulgas. Poderiam ser as inexploradas profundezas do mar, seus milhares de cardumes e respectivos hospedeiros. Porém, o melhor amigo do homem me inspirou antes de ler Jules Verne.
Vamos supor que um cão de rua tenha uma infestação de pulgas. Hospedagem indesejada, natural e diversificada. Os cientistas já catalogaram mais de duas mil espécies diferentes desse inseto. Partindo da premissa de que uma pulga coloca de vinte a cinquenta ovos por dia, quantas centenas de pulgas carregaria um animal de pequeno porte? Imagine que cada um desses minúsculos seres, entranhados na pelagem canina, representasse um mundo à parte.
Do ponto de vista microscópico, pouco importa quantas dioptrias usemos para ampliação, podemos aventar a hipótese de universos paralelos. Em cada um desses pontículos observaríamos a pluralidade da vida, as inúmeras diferenças, as várias semelhanças.
Abstraindo um pouco mais, quantos cachorros há nas ruas, em quantas ruas, quantas cidades, quantos estados e países? Quantas pulgas e quantos mundos? Essa projeção é infinita. De tal maneira nos apequena, que deixa de ser intrigante para nos afrontar. Dediquei vários momentos a essa viagem sem fim, introspectando as perguntas. É incrível não se saber onde termina.
Olhando para um cenário maior ou menor podemos nos encontrar disfarçados de mitológicos cíclopes ou de poeira invisível. A cada microsegundo as transformações ocorrem em escalas distintas, imperceptíveis ou assustadoras, criando ou destruindo, evoluindo ou degenerando, num pulsar frenético e incontrolável. Podemos estar numa galáxia, num quasar ou numa bactéria, tudo muito relativo e imponderável, bastando alterar o foco.
E só abordamos aqui uma dimensão, a espacial. Poderíamos recordar de Newton e de Einstein, suas elucubrações sobre o tempo, as teorias da simultaneidade de acontecimentos, a percepção sobre o comportamento da matéria, com pitadas de filosofia e de fundamentos da física, quântica ou não.
O que resta, em última análise, é a dualidade que nos permite o poder esmagador sobre pulgas e outros seres, ao mesmo tempo que nos sentimos infinitesimais diante da galáxia. Aquela mesma travestida de lustre num teto rebaixado por alguém, não se sabe quando nem como. Afinal, somos pequenos ou enormes? Depende de quem nos olha.

Um comentário:

  1. A analogia feita, realmente acompanha a idéia dos mundos paralelos que nortearam nossas mentes ao longo de toda a infancia e juventude. Respostas que não vinham, conhecimentos apenas teóricos, pouca pauta discursiva sobre o tema, muito se deixou de saber porém, acredito que o grande poder está exatamente na dimensão valores que aplcamos quando vemos as coisas e as pessoas. Isso, é o que realmente determina o impacto positivo ou não, para definições do quão podemos ser pequenos ou enormes...!!!
    Isso é um grande tema...!!!

    ResponderExcluir