terça-feira, 2 de agosto de 2011

Os festeiros

Quanto custaria uma creche, uma escola, equipamentos de exames de imagem para todos os hospitais municipais e estaduais que reclamam não possuí-los, novos carros para a segurança pública, um lote de casas populares para os desabrigados? Não tenho esses números, mas imagino que os responsáveis pelos respectivos setores da administração pública devem conhecê-los. Ou deveriam dispor deles em seus equipamentos de última geração custeados pelo governo, em seus gabinetes refrigerados pelo governo, com os salários pagos pelo governo. Ao governo subsidiamos nós, os contribuintes, intrépidos e fagueiros responsáveis por pagar as contas, colaboradores desde a primeira hora, quando são registrados nas moderníssimas urnas eletrônicas os desejados votos que elegem nossos mandatários.
Rapidamente caem no esquecimento os tempos da ribalta eleitoral, quando os candidatos procuram desempenhar com o máximo de seu talento teatral o papel de bons moços, prometendo mundos e fundos, assumindo compromissos sociais. É o momento do beijo nas crianças carentes e nas mulheres grávidas, do abraço nos idosos doentes, do aperto de mão em cada trabalhador que paga impostos e elege um sonho. Os interesses são maiores, os acordos foram feitos e a conta precisa ser paga. Ninguém se elege sem apoio de empreiteiros, empresários e tantas outras grandes personalidades, algumas até mundiais. Esse negócio de contribuinte e de eleitor sempre será apenas protocolar, servindo exclusivamente para legitimar o mandato. Assim que funciona.
Então, a grande badalação do último fim de semana aqui no Rio foi o show espetacular da FIFA custeado pelos impostos cariocas, uma vez que integralmente pago pela Prefeitura da Cidade e pelo Governo do Estado, não sei em que proporções. Ainda bem que o preço módico justificou o investimento. Pelo nível das atrações e pelo vulto do evento, até que R$ 30 milhões ficaram quase de graça. Não sei o porquê da execração pelos arautos da moral e da ética, os mesmos que torcem os narizes para os passeios do governador em jatinhos de parceiros da administração. Esses críticos são comadres que não têm o que fazer e passam o dia procurando pequenos e insignificantes detalhes, alvejando políticos de primeira linha cujo objeto maior e eterno é o cidadão. Não havia alternativa mais interessante para aplicar R$ 30 milhões, estejam certos os cariocas. Essa dinheirama, gasta com uma festa que nada tinha a ver com o Rio e deveria ter se realizado no auditório da FIFA em Zurique, prova a isenção dos nossos governantes.
Pois bem, o mundo viu os nossos músicos e craques da bola, os convidados e telespectadores se fascinaram com o sorriso e a simpatia dos apresentadores e com a parafernália tecnológica no palco. As autoridades presentes se deleitaram com momentos sublimes, um pequeno e modesto cartão de visitas dos rapapés que se realizarão por aqui até 2014. Em troca desses salamaleques foi necessário tão somente fechar o aeroporto Santos Dumont, estabelecer o caos no trânsito da Zona Sul do Rio de Janeiro e prejudicar a vida de alguns milhares de moradores da cidade. Claro e de menor importância, sem falar em torrarem R$ 30 milhões do nosso suado dinheirinho. Afinal, além do dinheiro não ser deles, para que perder tempo gastando essa pequena cifra com creches, escolas, hospitais, segurança e casas populares? O povo que se exploda, já dizia Justo Veríssimo, o hilário e fictício político personificado pelo Chico Anísio. Sorte nossa que políticos desse naipe no Brasil encontramos exclusivamente no humorismo.

Um comentário:

  1. É isso mesmo Alexandre, talvez a Cidade da Música também já esteja funcionando na Copa.
    Lá o Deputado Tiriica poderia cantar alguma coisa pra divulgar nossa cultura.
    Abração.

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