quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O mistério da realização

Muitos se questionam sobre o que fazem, por que fazem e há quanto tempo fazem. As rotinas por vezes são estressantes e não traduzem as aspirações pessoais e os sonhos de infância. Mesmo os jogadores de futebol e até os artistas, ramos de atividade que passam a impressão de lazer remunerado, nos surpreendem reclamando do desgaste após um longo período do exercício da profissão. E sobre outras profissões mais exaustivas e menos prazerosas, o que dizer?
Há pessoas muito volúveis, de temperamento bastante instável, apresentando evidências de inadequação mais precocemente do que as demais. São verdadeiros itinerantes, profissionais de muitos empregos, apenas porque a instabilidade faz parte de suas vidas. Nem bem se ajustam às características do novo local de trabalho e já cogitam a próxima mudança. Preferem a troca frequente, sem criação de raízes que dificultem uma saída futura, seja por laços de amizade ou por estreitamento da relação profissional.
Na ótica do trabalhador de perfil normal, além da rejeição à rotatividade, a visão é de absoluta incompreensão. Alguém bem empregado, com um ambiente saudável e com perspectivas de crescimento, não tem razão para pensar em mudar de empresa. O mais incrível, há os que pretendem mudar de ramo de atividade, não raro de maneira radical. A explicação para esse fenômeno está no início do processo, na origem dos fatos, na escolha da profissão.
Tropeçamos em profissionais desajustados, gente que optou errado ao definir a carreira a seguir e, por diversas razões, se manteve assim todo o tempo. Em geral, lhes falta coragem para sair da zona de conforto, nenhuma disposição para abrir mão de vantagens alcançadas ao longo da vida. Sobretudo os benefícios materiais, via de regra impossíveis numa outra alternativa. As demandas vão se agigantando, surgem novas responsabilidades, vem a família, os filhos e, quando menos se espera, a vida passou. Aquele desejo de menino, aquele sonho não realizado ficou para trás.
A necessidade é a mãe da invenção, dizem muitos, tentando justificar a união do útil ao agradável. A alegação é simplista, por considerarem incompatível a junção de projetos pessoais com a escalada social e o conceito de realização profissional. Há controvérsias, comprovadas em casos e casos de pessoas felizes com suas tarefas, independentemente do status alcançado. Isso passa por uma questão de foro íntimo, muito mais do que pela abordagem romântica de determinadas teses. Fazer o que gosta não garante necessariamente riqueza material, porém assegura uma vida sem remorsos. Nunca é tarde para o resgate de valores inegociáveis. Na hipótese de buscá-los no apagar das luzes, trata-se de decisão inadiável.
Não sabemos a extensão da estrada, quanto nos resta na direção, quando passaremos a caronas e onde será o ponto final. Exerça o seu direito de usufruir da felicidade oferecida pelo destino, distanciada dos apelos mercadológicos e dos pasteurizados conceitos de massificação dos gostos. Portanto, escreva, toque, cante, pinte, desenhe, fotografe, cozinhe, construa, plante, organize, produza, enfim, reaja aos estímulos aprisionados por seus interesses de consumo. Com certeza há algo que você faz muito melhor do que qualquer outra coisa, fundamentalmente pela injeção de alegria auto-aplicada nesses momentos. Dê asas à imaginação e deixe fluir a intuição em forma de dom. Impeça que apelidem de passado a convivência com uma enorme lacuna.

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