terça-feira, 16 de agosto de 2011

Na passarela da vida

Somos frágeis criaturas travestidas de destemidos, desfilando na passarela da vida. A exemplo dos modelos, encaramos as adversidades do cotidiano com uma disposição hercúlea, não poupando esforços no enfrentamento. Basta surgir algo efetivamente importante, uma dúvida ameaçadora de nossa existência e, pronto, o mundo desmorona. Assim ocorre com supostas doenças, quando em geral nos desesperamos antes mesmo da conclusão do diagnóstico.
É comum não destinarmos ao corpo a atenção devida, sobrecarregando a armadura que nos protege por toda a caminhada. A responsabilidade pesa quando as décadas começam a se acumular, cobrando o preço justo pelos descalabros cometidos. Abusamos da sorte ao comermos e bebermos as delícias oferecidas pela tentação mundana, sem sequer pensar no futuro. Nossa mentalidade sempre foi imprevidente e imediatista, valendo o sabor e o prazer de viver o momento. Não interessa se bem-vinda, a conta será paga um dia, com certeza.
Sem cerimônia, chega a hora em que a maneira desregrada de viver reaparece de repente, disfarçada de problema de saúde. Passado o susto, vem o temor pela extensão do mal, diante dos sintomas e das especulações que os mais informados costumam fazer. Uma súbita visão embaralhada, sem qualquer outro indício, leva a suposições extremas, angustiando o ameaçado. Mistério que uma tomografia desvenda, acalmando o assustado. Pronto, voltamos à irresponsabilidade do dia a dia até o próximo sobressalto. Absoluta falta de vergonha e total imprudência.
E vamos vivendo de impulsos, apostando na roleta da vida. Está mais para a russa do que para a viciada, aquela acionada pelo ímã escondido debaixo dos panos de outro cassino não menos implacável. Jogar todas as fichas no mesmo número evidencia uma atitude irrefletida, cujos riscos podem trazer prejuízos mais rápidos e maiores do que se imagina. Colocar nossos dias e meses amontoados numa pilha em cima de uma aposta pode ser um tiro pela culatra. Resta somente escolher a roleta.
A vida não é uma foto nem um álbum estático, mas um filme em que as cenas exigem o melhor desempenho do protagonista. A dinâmica desejada na interpretação do papel de longevo requer cuidados de longo prazo. Muitas vezes o mocinho tem diminuídas as páginas do seu script, não importando a qualidade de sua performance. Isso depende do Autor do roteiro, desde sempre acumulando as funções de Diretor.
Melhor não aguardar pelos sustos e optar pelo viver bem, de uma forma saudável, moderada. Portanto, a estrada pode ser longa e agradável se soubermos caminhar com inteligência. Nossa passagem por aqui poderia se traduzir através de metáfora da moda. Quando menos esperamos, as traças roem as peças da primavera/verão, nos obrigando a desfrutar mais da roupagem de outono/inverno. A mente veste o corpo, em qualquer circunstância, inclusive no momento de manter o equilíbrio na escolha do melhor figurino.

Um comentário:

  1. Muito bom Alexandre. Uma visão embaralhada as vezes faz a gente enxergar melhor. Abração,fica com Deus.

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