terça-feira, 9 de agosto de 2011

As gravatas de rapina

Crise no mundo globalizado. A economia mais uma vez sacode o planeta e as pessoas estão meio que espantadas, muitas preocupadas, outras buscando informações e outras tantas insensíveis. É difícil distribuir a população brasileira nesses extratos, porque há os que acompanham até a inflação na China e os que sequer se interessam pelo noticiário sombrio dos números. Enquanto alguns acordam menos ricos e de olho no comportamento das bolsas asiáticas, milhões se limitam aos sacrifícios rotineiros do transporte ruim para o trabalho.
Não importa o que pensem, todos de alguma forma estão ou estarão envolvidos nesse episódio em algum momento. Não se restringe a questão a um possível retorno a outra faixa de milhares atuais ocupantes da classe média. Espera-se uma condução equilibrada e atenta do governo em relação aos impactos desse tsunami nas finanças mundiais. Esses fenômenos monetários nos agridem mais do que os da natureza, dos quais estamos imunes a maior parte do tempo. Exceto, claro, quando as autoridades tratam com descaso as ocupações irregulares de encostas e terrenos sob risco, ocasionando tragédias desnecessárias.
Do ponto de vista cidadão, sempre que esses tremores nos surpreendem vemo-nos obrigados a repensar o planejamento pessoal. Apertamos o cinto pensando nas possíveis conseqüências dos fatos anunciados e passamos a um regime mais austero, se ainda há espaço para isso. Aqueles que vivem no fio da navalha, por assim dizer, nada podem fazer senão se manter acima da linha da água, lutando as batalhas diárias nas escaramuças da sobrevivência. Mesmo com as providências tomadas, até as divinas, a maioria fica ao sabor da borrasca. Na viagem no mar aberto da economia mundial, os ocupantes de embarcações mais sofisticadas estão mais protegidos, ainda que percam algum conforto. Os que fazem os destroços de bóia sofrem muito mais, muitas vezes sem sentir mudança, acostumados com o sol inclemente e as ondas agressivas.
Chamam a atenção os insensíveis, os inatingíveis que manipulam com o dinheiro alheio, sem correr riscos maiores, com exceção de ganhar menos numa ou outra operação. Ao contrário, muitos se aproveitam desses desequilíbrios para enriquecerem ainda mais, às custas dos incautos e dos infelizes. São os transformadores da crise em oportunidade, não necessariamente os empreendedores do exemplar ideograma chinês, mas os abutres que se alimentam da desgraça de terceiros. Basta um olhar mais detalhista, uma visão mais perspicaz para identificarmos esses facínoras, bastante conhecidos. Seus sorrisos satisfeitos contrastam com a apreensão geral, a não ser quando interpretam o papel de circunspectos apenas para jogar para a torcida.
Portanto, meus caros, independentemente do segmento em que estejam, olho vivo! Há alguém desejando lhe enganar, esperando só a ocasião mais oportuna para dar o bote. Não se iludam com o trajar requintado, nem com o discurso envolvente, nem com os eventos grandiosos. Uma gravata de rapina se reconhece com facilidade. Aliás, presentes em vários setores, muitas são bem antigas.

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