quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Rock in dreams

Eu queria um festival de Rock, assim mesmo, com letra maiúscula de John Lennon, George Harrison, Keith Moon, John Entwistle, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Fred Mercury, Cazuza, Raul Seixas, Renato Russo. Sem saudosismo, acompanho a evolução da música, procuro me manter atualizado, mas me parece impossível deixar de venerar a verdadeira essência desse estilo. Sou capaz de assistir uma noite inteira, hoje instalado no meu sofá, acompanhado pela minha mulher e por um bom vinho. De gosto heterogêneo, amante do bom som independentemente do ritmo, aprecio o Red Hot e o Guns tanto quanto o Coldplay. Mas me desculpo pela indisfarçável satisfação ao escutar Titãs, Paralamas, Sir Elton, Stevie Wonder, Frejat, Capital e Legião.
Um espetáculo emocionante ver o Capital Inicial regendo um coral de milhares de pessoas depois de décadas de estrada. A maioria esmagadora daqueles jovens sequer havia nascido quando o Dinho entoava os maiores sucessos da banda, em alguns acompanhado à época pelo Kiko Zambianchi. Especial ver aquela multidão cantar “Meu caminho é cada manhã/Não procure saber onde vou/ Meu destino não é de ninguém/ Eu não deixo meus passos no chão”. O vocalista quase cinqüentão não escondia seu êxtase diante de uma plateia tão participativa, embora aguardassem pela atração principal. A boa música não tem idade. A química entre o povo e o artista traz a mais contundente e definitiva comprovação da eternidade harmônica de versos e melodia. A vida é musical, não importa.
Claro que há distorções incontroláveis. Sir Elton deixou de fazer um bis e nos brindar com “Your song” e “Skyline pigeon” porque, depois do penúltimo acorde e das luzes apagadas, a multidão pedia Rihanna, Rihanna, Rihanna. Mr Reginald se desestimulou e não voltou. Uma pena a sobra de ansiedade e a falta de sensibilidade do público. Essas coisas acontecem na reunião de grandes multidões, risco assumido na aglomeração de ideias diferentes e espíritos rebeldes. Sem problema, foram vários sucessos do Rockaday Johnnie, suficientes para agradar a todos. O castigo no público foi a espera de uma hora e meia pela atração seguinte. Atração?
O tempo vai passando nem rápido nem devagar, apenas com a velocidade relativa das perdas inestimáveis. Meu grande amigo Renato, por exemplo, também apaixonado pelo rock & roll, está assistindo tudo de outro plano. Enquanto isso seguimos por aqui testemunhando os acordes recentes e antigos, lacrimejando com as lembranças irresistíveis de eventos grandiosos ou não, quando o coração pulsou mais forte e a adrenalina fervilhou o sangue na batida da batera e no swing do baixo. Essa emoção indescritível nos faz sentir mais vivos e felizes. Esse legado é tatuado na alma pelo solo das guitarras, pelos arranjos nos teclados e pelo timbre dos metais. As vozes declamam poemas musicados, mensagens perenes de um mundo em conflito ou em paz, sempre deixando uma indelével marca. Os sinais dos novos e dos velhos, sem antagonismo, em equilíbrio, escritos na mesma pauta, cantados no mesmo tom, ecoados na mesma rima. Tudo harmonicamente.

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