domingo, 2 de outubro de 2011

Chorar faz bem

Ainda soam os últimos acordes na Cidade do Rock, os derradeiros suspiros de duas semanas diferentes no cenário mundial. Um evento de congraçamento e de muita paz, de alegria transbordante, de comunhão do sentimento de amor à música, menos importando o estilo e os apelos mercadológicos. Vimos jovens e velhos unidos na mesma sintonia, uns levando outros e outros levando uns. Uma festa inesquecível para quem esteve na plateia e no palco. Momentos sublimes de troca de energia entre os artistas e a multidão. A esmagadora maioria simplesmente interessada em absorver aquelas doses fartas de harmonia e de felicidade.
Vi muita gente chorando de emoção, astros e público, não tendo vergonha de expressar a emoção de viver uma situação singular e mágica. A vida nos proporciona isso, acontecimentos únicos e marcantes pela companhia, pelo visual, pelo som. Passa o tempo e lá estão, num canto especialmente reservado em nossa memória, as luzes, a música, as lembranças mais belas de cenas incomparáveis. Farão parte do imaginário eterno das horas intermináveis, superando em intensidade dias, meses, anos vividos. Falaremos delas para filhos, netos e bisnetos, para amigos e para nós mesmos, sempre que vierem à tona. Soberanas do coração, redesenham a caricatura do bem viver, espelhando a verdade do que somos, nos apresentando como gostaríamos de ser todo o tempo.
Sou daqueles emotivos de plantão, não me envergonho das lágrimas vertidas. Pouco importa se pela arte me contagiando o espírito, embalando sonhos existenciais, ou se pela constatação de me defrontar com aquilo para o qual não temos solução. Chorar não nos diminui nem nos fragiliza. Ao contrário, purifica, desabafa, desafoga, abre as comportas da represa de reações mais espontâneas. Quando nos vemos impedidos de exteriorizar sentimentos, eles se alojam num compartimento próprio. Os mecanismos que definem se o último a entrar será o primeiro a sair se misturam com as cores da paleta do quadro nosso de cada dia. De repente, no limiar do exercício da natureza, o rio corre para o mar. Enxaguamos as margens dos nossos limites, arrancando raízes do preconceito e espalhando o húmus da sensibilidade pelos demais poros.
Eventualmente pegos de surpresa, a singeleza da lágrima percorre caminhos inexplorados e inusitados. Rega as sementes de novos conceitos e a prática do sensível, respeitando o terreno arado pela virtude. O equilíbrio entre a razão e a emoção constitui o ideal entre o óleo e a água dos nossos potes de vida. Mas lidar com a emoção aflorada nos aproxima mais da humanidade, do calor das experiências de sabor inolvidável e, em última análise, da motivação de viver. Portanto, chore quando sentir vontade, exercendo na plenitude o direito de ser humano.

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