terça-feira, 11 de outubro de 2011

Trilha

Após descer do carrinho da montanha russa, vivo a estranha sensação de que a vida continua. Estranho porque os sobressaltos e a adrenalina nos levam a acreditar inexistir outra coisa além daquilo. Gravitamos em torno de fatos marcantes, perdas inestimáveis, tristezas enormes e inesperadamente chega um alento, uma alegria inusitada a nos resgatar para a nossa efêmera existência. Como explicar a velocidade dos acontecimentos? Num dia o coração apertado pela saudade, noutro acelerado por uma alegria isolada. Ela vem disfarçada por lembranças trazendo a saudade de volta, mas pelo menos nos permite esboçar um sorriso no rosto.
Somos movidos pelas circunstâncias, vivemos num moto contínuo, seguimos uma vereda de final igual para todos. Enquanto ele não chega superamos obstáculos, sensibilizamo-nos com os passantes, com os terminais, mas caminhamos em frente. Por que? Porque estamos determinados a prosseguir não importa como. Dois passos podem significar grandes mudanças, alterações de humor, alternativas novas, visões desconhecidas. As parcerias do caminho se renovam, não há tempo para lamentos. Tudo se move com rapidez e indiferença, a prioridade está no ir adiante, sempre em direção ao fim.
A maneira como fazemos isso nos qualifica diante dessa caminhada. Valorizar os circunstantes e a nós mesmos tem uma valia especial, pois nos projeta a uma perspectiva diferente. O cenário muda muito pouco, os nomes se revezam, entretanto as histórias são únicas e, às vezes, pouco as percebemos exatamente. Seus detalhes e expressões oferecem experiências ricas, suas particularidades povoam as mais instigantes metáforas do andarilho que representamos, falta-nos querer enxergá-las na plenitude. As jornadas mal terminam e começam outras, nossa missão é manter o ritmo, assim como apenas cumpríssemos uma rotina.
Qual o real sentido de mantermos passadas tão obstinadas se não aproveitamos a ambiência, se sublimamos tão rápido as rupturas, se desperdiçamos com vulgaridade as essências? Sequer exercitamos o amadurecimento em forma de dor, por uma suposta e absoluta falta de tempo. E o que seria esse lapso mensurável? Considerado pouco para a maioria, parece demasiado ante o desestímulo e o cansaço de muitos. A imprescindível renovação tem o efeito de um portal cujo posicionamento muda de acordo com as contingências. Quase um rito extemporâneo de passagem, as idas e vindas viraram um lugar comum aos olhos de quem testemunha.
Enfim, há uma trilha percorrida nem se imagina desde quando, miscelânea de pegadas inexatas, rastros desaparecendo repentinamente, pistas surgidas do nada. Só a observação mais atenta viabiliza a melhor opção de caminho. Não basta somente andar a esmo e ignorar os sinais, percepção inadequada dessa viagem. Estamos todos no mesmo passo, inconscientemente representando papéis diferentes. Desconhecemos de onde viemos e para onde vamos. Acordamos para recomeçar e dormimos para descansar. E caminhamos, com ou sem razão.

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