terça-feira, 13 de setembro de 2011

Amamos a tragédia

Confesso me esforçar para escrever sobre assuntos que não sobrecarreguem o nosso já saturado cotidiano. Sou daqueles que procura evitar os noticiários, tamanha a quantidade de catástrofes sociais e da natureza que nos invadem pelas telas de TV, computadores e similares. Entretanto, nem sempre consigo evitar. Vira e mexe um tema pesado, desagradável e incômodo invade as minhas reflexões por imposição da mídia.
Dessa vez foi a enxurrada de especiais sobre os atentados de 11/09/2001. Desde a semana passada vemos inúmeros programas especialmente dedicados àqueles momentos terríveis, repassando a tragédia e a agonia que a sucedeu. Em geral se valendo de depoimentos dos sobreviventes relatando, após dez anos, as suas versões de um dia triste na história da humanidade. Ou dos parentes de vítimas transformadas em heróis por salvarem vidas em meio àquele terror.
Do ponto de vista jornalístico, penso remoerem um tema desgastado e explorado de maneira exaustiva, por mais que o registro ajude a reforçar o repúdio a ações como aquela. A simples revisão das cenas hediondas e chocantes nos aflige tanto que me parece não justificar a intenção. O mundo jamais esquecerá daquilo, não importa se nem tocarem no assunto. Nesse aspecto foi alcançado o intuito de quem cometeu aquele ato abominável.
E é exatamente sobre a exploração sensacionalista da imprensa que me detenho hoje nesse texto. Há tempos ouço dizer que vira notícia um homem morder um cachorro, pois o contrário seria bastante natural. Contudo, quão maior for o estrago num ataque canino maiores as possibilidades de ampla divulgação. Em caso de morte, certeza absoluta. O que leva os seres humanos a se interessarem por esse cunho catastrófico da vida?
Numa via de grande movimento, não raro nos deparamos com enormes congestionamentos que se explicam ao ultrapassarmos um acidente grave. Muito mais do que a obstrução das pistas, a resposta pelo gargalo está na curiosidade dos demais motoristas pelos detalhes mórbidos do ocorrido. Cada um diminui a velocidade de seu veículo apenas para melhor observar a cena e verificar os despojos. Como justificar esse comportamento?
Encontramos outro exemplo no filão do cinema-tragédia, nas superproduções milionárias abordando temas em que os desastres espetaculares lotam as bilheterias em todos os continentes. Naufrágios, desastres aéreos, tubarões assassinos, incêndios colossais, terremotos, ciclones, sinistros das mais variadas espécies garantem o retorno do investimento na produção. Com as Torres Gêmeas também foi assim.
Qual o cachorro que corre atrás do rabo, a conclusão infeliz a que chegamos é que o 11/09/2001 aconteceu por esse motivo. Obviamente, afora as questões políticas e filosóficas que cercam o assunto, para as quais necessitaríamos de outro texto. No ideário terrorista, aquele assassinato em massa só se concebeu pela sequiosa capacidade da natureza humana contemplar a tragédia. Chego a imaginar a impossibilidade de uma vida tranqüila num mundo ideal, cuja rotina impassível atormentaria a população ansiosa por uma desgraça de grandes proporções. Será?

Um comentário:

  1. Infelizmente sou obrigado a concordar. É triste, mas essa é a natureza humana. Graças a Deus, ainda nos restam as exceções. Parabéns, Abs.

    ResponderExcluir