quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Reencontro

Costumo dizer que a citação é gêmea siamesa do esquecimento, porém vou arriscar. Abel, Abílio, Afonso Eduardo, Alexandre Fernandes, Alexandre Costa, Aluísio, Ângela Moraes, Antonio Marcos, Antonio Paulo, Cláudia Sant'Anna, Constance, Fernando Gamma, João Carlos Chaves, Lúcia Miceli, Marcos Sarvat, Margarida, Maria Cristina Barros, Maria Helena, Maurício Keller, Mauro, Nazaré, Ricardo Faria, Roberto Jesus, Rogério Campello, Ruy. Ontem, cada um desses colegas, alguns nominados com sobrenome a título de identificação, respondeu presente numa chamada sem pauta, sem mestre, sem a austeridade das antigas salas de aula. Mas estávamos todos lá, dando um abraço simbólico naqueles quase duzentos e cinquenta sobreviventes que concluíram o curso no Santo Inácio em 1974. Todos estivemos ali de alguma forma, em pensamento, em intenção, em lembrança. A querência pairava no ar, num banzo de escravos de momentos mágicos, de reminiscências tão gratificantes quanto enriquecedoras. A sensação prenhe da riqueza maior que é a valorização da vida, a celebração de mais um ano juntos.
Não usávamos uniformes, não sentávamos em carteiras, nem portávamos as cadernetas. Estávamos todos à paisana, informalmente distribuídos por uma longa mesa, entre chopes, whisky, sucos e refrigerantes, além de fartas porções de crepes e pizzas. O que não nos impediu de fazermos outra de nossas viagens no tempo, lembrando de inúmeros companheiros que ali não estavam e das situações marcantes ou inusitadas com os quais tivemos oportunidade de viver. Esse exercício metafísico nos retira de uma zona de conforto e acomodação, aumentando a sensação de bem estar ao liberar uma espécie de endorfina espiritual. Ao transcender a realidade que conhecemos, passeando por décadas de acontecimentos diversos, sentimos a adrenalina anímica a nos renovar o espírito.
Corremos pelos corredores do passado, pelo recreio de nossas vidas, passando com louvor nas provas do destino, resgatando deliciosas experiências que ajudaram a escrever as páginas da história de cada um de nós. Sempre que isso acontece, o ambiente se enche de uma energia maravilhosa, as auras de todos brilham intensamente, o corpo rejuvenesce. Também falamos de fatos recentes, atualizando registros sobre a caminhada de quem não temos visto. Um e outro contribuem com informações preciosas, dados merecedores de uma compilação mais detalhada e precisa, que um dia comporá um livro de nossas memórias, projeto pelo qual me responsabilizaram. Logo eu, meio ausente dos encontros, por motivos alheios à minha vontade, óbvio. O projeto existe, não esqueci.
De uma certa maneira me senti orgulhoso dessa vez, pois o mote do reencontro foi a comemoração do meu aniversário, da Cláudia e da Maria Helena. A badalação ajudou a aumentar o quorum que andava meio baixo nas reuniões das primeiras terças-feiras do mês. Seja como for, a minha alegria nesses eventos não é novidade, eu a transpiro por todos os poros, a transformo em beijos e abraços, saudações efusivas ao rever gente tão querida. Curiosa e ironicamente, o local era o Frontera, talvez apenas para ratificar a inexistência de fronteiras a nos separar. Pelo simples fato de estarmos ligados de forma indissociável por uma relação muito forte, razão da nossa união em definitivo, bissexta ou não.
Para completar o quadro, ao invés do impessoal transporte de um táxi de fim de noite, consegui uma carona até a minha casa. A Cláudia e seu marido Carlos, ex-inaciano de 1968, se propuseram a entregar em domicílio essa encomenda transbordante de satisfação. Isso ainda estendeu por todo o percurso a perambulação pelos cantos da memória e o prazeroso compartilhar de outras lembranças. Meu aniversário é sábado, mas o presente chegou mais cedo. Hoje é feriado nacional, menos no meu peito, onde algo pulsa muito mais ativamente no ritmo da celebração de ontem. Essas injeções milagrosas de felicidade nos reanimam e nos impulsionam a um viver mais pleno. Valeu demais, inacianos e inacianas do meu coração.

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