quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Divagando

Pensei em escrever sobre a absolvição de mais uma corrupta na Câmara Federal, mas a reincidência e a larga margem de votos favoráveis me desestimularam. De novo a sombra acolhedora dos votos secretos garantiu a impunidade, embora eu acredite não ser a única motivadora. Aquele ambiente acima da lei, useiro e vezeiro em “ações entre amigos”, não justifica a perda de tempo com esse tipo de iniciativa. Merece outra atitude, mais incisiva e saneadora, diria até profilática. Mas isso é assunto para ocasião oportuna, mais próxima de data estratégica. Só para não passar totalmente em branco, enojam a falta de caráter e a total indiferença à ética naquela confraria.
Essa insatisfação procede pelo inaceitável comportamento de supostos representantes do povo. Nesse caso, devemos exercitar o direito sagrado dos seres insatisfeitos por natureza. Mas, em geral, a inquietude impera no reino das mudanças prementes, quando a alteração do rumo tomado se mostra necessária. Muitas vezes o imobilismo nos leva ao estresse, estimulados que somos pelo instinto mutante dos inconformados. Em permanente erupção de não conformidades dos nossos padrões de exigência, o vulcão expulsa de suas entranhas a lava da estagnação.
Corre sério risco de se adaptar à falta de ânimo quem se propõe a aceitar sem resistência as condições normais de temperatura e pressão. A vida sempre se apresenta dinâmica e volúvel, num balé sincopado de pessoas gravitando em torno de seu núcleo de decisões. Há um vírus de intempestividade inoculado em cada um de nós, pronto a aflorar seus efeitos colaterais quando menos esperamos. Temos um potencial chute no balde preparado todo o tempo, com o corpo ajeitado na direção entendida como a mais adequada. A potência do arremate é diretamente proporcional ao estado de espírito do momento.
Os derrotistas, pessimistas de carteirinha incapazes de se rebelar diante das mais ostensivas demonstrações de incoerência, mesmo eles estão sujeitos a uma revolta eventual. Na explosão de magnitude extrema dos incômodos represados, revelam um altíssimo poder de destruição. São mais calados, quase silenciosos, até irromperem numa verborragia avassaladora, numa saída repentina da letargia para descrever o indescritível e qualificar o inqualificável. Ficam incontroláveis, destemperados, hostis. Passam de criaturas a criadores em fração de segundo.
Os celerados representam maior perigo. Dotados de um minúsculo, quase imperceptível, rastilho de pólvora condutor ao estoque de explosivos, detonam tudo com muita antecedência. Não raro sucumbem no próprio cogumelo da devastação, desaparecendo em meio às cinzas e aos escombros do imediatismo. Preferem perder espaço do que a oportunidade do confronto, guerreiros ensandecidos e alimentados pela indignação absoluta. Inobstante sua beligerância e acentuado risco, têm lá a sua utilidade, disponíveis ad eternum para o alavancar de reações.
Os otimistas possuem um perfil mais equilibrado, especialistas na crença de um mundo melhor, construído a partir do resgate de valores esquecidos. Acreditam na renovação da filosofia de vida, fundamentada nos princípios éticos e na valorização da moral. Apreciam a defesa de seus conceitos, prezam o bom combate pela argumentação de ideias vanguardistas. Odeiam discutir o óbvio, mas consideram imprescindível a democracia plena, vivendo da esperança das mudanças desejadas.
Em qual deles você se enxerga?

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