domingo, 24 de março de 2013

A vez da Nena




Os desígnios do destino estão agressivos nas escolhas de quem me rodeia. Seria hipócrita não aceitar que o espetáculo abre e fecha cortinas todos os dias, não importa o horário, o humor e a capacidade de aplaudir, chorar ou rir. Tudo bem. Tenho plena consciência disso desde que me entendo por gente. Mas, os Cavaleiros do Apocalipse têm cavalgado nessa direção com muita voracidade, com uma insaciável sede de beber mais e mais, numa volúpia avassaladora. Em pouco mais de um ano, em especial nos últimos meses, arrebataram personagens importantes da minha vida, ignorando as regras da faixa etária, da predileção, enfim, do perfil a se adotar.
Agora foi a Nena, de uma forma abrupta, mais do que inesperada, ceifando sua família de uma esposa querida, mãe dedicada, esteio de marido e filho inconsoláveis com toda a razão. As sutilezas dessa partida começam com uma vinda minha ao Rio na última quarta-feira, para comparecer a uma audiência que acabou adiada para maio. Na quinta-feira reagendei meus compromissos para aproveitar minha estada por aqui, quando fui colhido de surpresa pela informação de um mal súbito que acometera a Nena. Daí para o desfecho foi necessário pouco mais de um dia. Portanto, vim para me despedir dela. Em Belo Horizonte estava mais distante, agora ficou muito mais.
Conheci a Maria José, Nena para os mais próximos, há alguns anos. Tive o privilégio de contratá-la para ser uma nova colaboradora na empresa e com o tempo ela passou a ser minha amiga. Não desfrutamos de um convívio maior fora do trabalho, embora mesmo à distância observasse uma mulher de muita fibra. Coração de uma família modesta e feliz, ela conseguiu estruturá-la de maneira exemplar. Trabalhando com dedicação e dividindo o seu tempo com os familiares, sempre soube contornar seus problemas com sabedoria. De honestidade e fidelidade a toda prova, bondade, sensibilidade e generosidade incomuns, contagiava a todos com sua fé e seu otimismo. Possuía uma palavra amiga para todas as dificuldades. Contudo, o seu coração enorme fraquejou de repente e ela nos privou de suas virtudes.
Sua passagem por aqui não foi em vão, certamente. A forma diferente de se conduzir deixará sementes importantes, além da saudade inevitável. As palavras para esses momentos escapam entre lembranças e questionamentos. O que nos resta, para variar, é seguir em frente. O elenco vai se renovando, porém a peça continua em cartaz. Nesse 23/03/13, ao se abrirem as cortinas do horizonte, os primeiros e insistentes raios de sol não conseguiram iluminar o palco. Desde a véspera, à noite, a natureza choveu as lágrimas de sua perda. O sábado amanheceu cinzento e acabrunhado. Faltava aquele sorriso cheio de simpatia e disposição. Imagino que Ele estivesse precisando mais de você do que nós. Siga em paz o seu novo caminho. Não se esqueça de dar um beijo na Márcia e de fazer um afago na Naná, no Popó, no Scottie e na Princesa. E, por favor, diga que tenho muita saudade de todos. Inclusive de você. Valeu, Nena.   
P.S.: Embora não professássemos a mesma fé, escolhi um vídeo de música gospel. Cântico da sua religião, seu gosto musical em sua fé inabalável. Estou certo lhe agradaria ouvir agora.






4 comentários:

  1. Sábias palavras meu amigo.

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  2. Demais Xandu...

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  3. "Desde a véspera, à noite, a natureza choveu as lágrimas de sua perda. O sábado amanheceu cinzento e acabrunhado."

    Linda sua foram de trasmitir a tristeza e a melancolia de uma perda.

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