Cada vez mais inacreditável a
inoperância dos serviços públicos no Brasil, com raras exceções que só
confirmam a regra. Sei que todo mundo sabe disso, mas quando ocorre conosco nos
assustamos. Vira e mexe tropeçamos em causos absurdos, acreditando apenas
porque passamos pela situação e não duvidamos de nós mesmos. Trabalhando em
Belo Horizonte sem perder as raízes cariocas, vou para as Alterosas às
segundas-feiras cedo e retorno às sextas-feiras à noite. O preço da passagem
aérea decresce à medida que antecipamos a compra. Os bilhetes providenciados
mais próximo da data do voo acabam ficando muito caros. Em razão de uma
reprogramação na semana passada, precisei repensar a despesa. Viajaria duas
vezes num intervalo de três dias. Foi quando me ocorreu a ideia de usar um
ônibus leito, executivo, especial, cujo preço se assemelha à passagem aérea
mais barata, comprada com bastante antecedência.
Realmente, os ônibus em questão
são novíssimos, estão rodando há três meses. O conforto justifica o preço e
quem não tem problema para dormir consegue relaxar a noite inteira. Nesse caso,
a saída de BH às 23:30 e a chegada ao RJ às 6:00 trocariam uma noite de
descanso comum pela viagem. Meu compromisso seria à tarde, portanto havia
margem de segurança significativa. Cheguei à rodoviária de BH, fiz uma refeição
leve e embarquei tranquilo. Partimos no horário e andamos alguns minutos até a
saída da cidade. Ao entrarmos na BR 040, o ônibus parou. A princípio não
entendi a razão e em breve pude observar que no sentido inverso também não
passava veículo algum. Os minutos foram se estendendo de forma preocupante. Logo
as pessoas acordadas começaram a se agitar. O motorista fez e recebeu algumas
ligações no celular. Consegui escutá-lo reclamando de não ter sido avisado que
o ônibus das 16:00 estava parado nesse congestionamento. Tratava-se de um
acidente por volta das 17:00 com uma carreta de combustível, interditando os
dois sentidos da BR 040, uma rodovia federal com grande fluxo. Aguardaríamos
por uma nova carreta e pelo apoio dos bombeiros. Daí em diante a agonia
aumentou em doses homeopáticas, qual uma tortura chinesa.
Os dramas dos passageiros
afloravam. A passageira na poltrona atrás da minha perdeu a homologação no Rio,
alem do dia de trabalho em BH e da passagem aérea de volta. Chegaria ao Rio e
de imediato se encaminhara para o aeroporto para voltar. Não foi possível
conciliar o sono sem saber como se resolveria o problema. Nenhuma informação,
ônibus desligado, ar condicionado sem funcionar, uma hora, duas, três, quatro, cinco.
Após cinco horas e vinte minutos os veículos em sentido contrário apareceram.
Em seguida nos mexemos e seguimos viagem. Encaramos um imenso congestionamento
a partir de Duque de Caxias e chegamos à rodoviária carioca quase 12:00.
Por que a transportadora não
avisou aos passageiros sobre a extensão do problema antes de sair da rodoviária
de BH? Isso viabilizaria alternativas como viajar de avião de manhã cedo,
reagendar os compromissos possíveis, evitar aborrecimentos maiores. O motorista, cujas atividades
anteriores desconheço, passou mais de doze horas sob tensão, num desgaste
bastante perigoso para a responsabilidade da função que exerce. Como acreditar
que uma intervenção numa rodovia federal, por mais complexa se possa imaginar,
demande tanto tempo? Como considerar a hipótese de múltiplos interesses,
pessoais ou empresariais, imobilizados, atrasados, prejudicados ou perdidos de
todo? Caso o acidente colocasse em risco a vida das pessoas mais próximas ou o
entorno num raio maior, o que seria delas? Ou estou conjecturando sem
conhecimento de causa e a ação empreendida foi rápida e eficaz?
Você se meteu numa arapuca, meu amigo. Com certeza, daqui para a frente, vai pensar duas vezes, antes de voltar a viajar de carruagem. Infelizmente, a infra-estrutura aeroportuária também não merece confiança. Para evitar os preços das viagens surpresa SP-Rio-SP eu comecei a usar Viracopos, deixando o carro lá. Assinado o contrato de privatização para a reforma do aeroporto (que, por enquanto, só tem o projeto), o preço da diária do estacionamento pulou de R$ 25,00 para R$ 40,00.
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