sábado, 9 de março de 2013

Inacreditável




Cada vez mais inacreditável a inoperância dos serviços públicos no Brasil, com raras exceções que só confirmam a regra. Sei que todo mundo sabe disso, mas quando ocorre conosco nos assustamos. Vira e mexe tropeçamos em causos absurdos, acreditando apenas porque passamos pela situação e não duvidamos de nós mesmos. Trabalhando em Belo Horizonte sem perder as raízes cariocas, vou para as Alterosas às segundas-feiras cedo e retorno às sextas-feiras à noite. O preço da passagem aérea decresce à medida que antecipamos a compra. Os bilhetes providenciados mais próximo da data do voo acabam ficando muito caros. Em razão de uma reprogramação na semana passada, precisei repensar a despesa. Viajaria duas vezes num intervalo de três dias. Foi quando me ocorreu a ideia de usar um ônibus leito, executivo, especial, cujo preço se assemelha à passagem aérea mais barata, comprada com bastante antecedência.
Realmente, os ônibus em questão são novíssimos, estão rodando há três meses. O conforto justifica o preço e quem não tem problema para dormir consegue relaxar a noite inteira. Nesse caso, a saída de BH às 23:30 e a chegada ao RJ às 6:00 trocariam uma noite de descanso comum pela viagem. Meu compromisso seria à tarde, portanto havia margem de segurança significativa. Cheguei à rodoviária de BH, fiz uma refeição leve e embarquei tranquilo. Partimos no horário e andamos alguns minutos até a saída da cidade. Ao entrarmos na BR 040, o ônibus parou. A princípio não entendi a razão e em breve pude observar que no sentido inverso também não passava veículo algum. Os minutos foram se estendendo de forma preocupante. Logo as pessoas acordadas começaram a se agitar. O motorista fez e recebeu algumas ligações no celular. Consegui escutá-lo reclamando de não ter sido avisado que o ônibus das 16:00 estava parado nesse congestionamento. Tratava-se de um acidente por volta das 17:00 com uma carreta de combustível, interditando os dois sentidos da BR 040, uma rodovia federal com grande fluxo. Aguardaríamos por uma nova carreta e pelo apoio dos bombeiros. Daí em diante a agonia aumentou em doses homeopáticas, qual uma tortura chinesa.
Os dramas dos passageiros afloravam. A passageira na poltrona atrás da minha perdeu a homologação no Rio, alem do dia de trabalho em BH e da passagem aérea de volta. Chegaria ao Rio e de imediato se encaminhara para o aeroporto para voltar. Não foi possível conciliar o sono sem saber como se resolveria o problema. Nenhuma informação, ônibus desligado, ar condicionado sem funcionar, uma hora, duas, três, quatro, cinco. Após cinco horas e vinte minutos os veículos em sentido contrário apareceram. Em seguida nos mexemos e seguimos viagem. Encaramos um imenso congestionamento a partir de Duque de Caxias e chegamos à rodoviária carioca quase 12:00.
Por que a transportadora não avisou aos passageiros sobre a extensão do problema antes de sair da rodoviária de BH? Isso viabilizaria alternativas como viajar de avião de manhã cedo, reagendar os compromissos possíveis, evitar aborrecimentos maiores. O motorista, cujas atividades anteriores desconheço, passou mais de doze horas sob tensão, num desgaste bastante perigoso para a responsabilidade da função que exerce. Como acreditar que uma intervenção numa rodovia federal, por mais complexa se possa imaginar, demande tanto tempo? Como considerar a hipótese de múltiplos interesses, pessoais ou empresariais, imobilizados, atrasados, prejudicados ou perdidos de todo? Caso o acidente colocasse em risco a vida das pessoas mais próximas ou o entorno num raio maior, o que seria delas? Ou estou conjecturando sem conhecimento de causa e a ação empreendida foi rápida e eficaz?

Um comentário:

  1. Você se meteu numa arapuca, meu amigo. Com certeza, daqui para a frente, vai pensar duas vezes, antes de voltar a viajar de carruagem. Infelizmente, a infra-estrutura aeroportuária também não merece confiança. Para evitar os preços das viagens surpresa SP-Rio-SP eu comecei a usar Viracopos, deixando o carro lá. Assinado o contrato de privatização para a reforma do aeroporto (que, por enquanto, só tem o projeto), o preço da diária do estacionamento pulou de R$ 25,00 para R$ 40,00.

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