quarta-feira, 23 de maio de 2012

Velho desafio



Ouço o som do novo dia. Carros, passos, portas, pássaros, louças, até um galo distante ecoa em meus ouvidos. Eis o velho desafio de novo. Abro os olhos e a luz do dia anuncia o reinício de tudo. A força para recomeçar tem nome de compromissos maiores. O privilégio de continuar a viver cobra um preço pela responsabilidade. Não há tempo para lamentos nem razão para esmorecer, há motivos mais nobres exigindo participação completa. Os astros continuam a girar e o universo a exercer a influência sobre nós. A vida torce e distorce sem nos dar o direito de fraquejar. O estímulo vem de cada preciosa rotina, do respirar com normalidade, do enxergar o entorno, do sentir o aroma das flores, do ouvir o canto dos passarinhos. A felicidade reside nos pequenos detalhes, no repetir de funções já consideradas automáticas. Desfrutar da alegria de abrir os olhos e ver o mundo por si só premia o esforço de perseverar na caminhada. Nenhum obstáculo pode oferecer maior resistência do que a possibilidade de perder a chance de usufruir das coisas de simples aparência à nossa volta. O mistério da existência refuga o desânimo, buscando em novas portas abertas as alternativas de eventuais janelas fechadas. Manter a chama acesa nos reanima frente às dificuldades, cria disposição para driblar as adversidades. Viver sempre será melhor, afinal, alguém conhece algo mais atrativo? Sob qualquer argumento ou restrição, a resposta nos impõe contornar as eventualidades e manter o passo. Embora semelhantes, os dias diferem uns dos outros, bastando aguçar a percepção. A roupagem usada na apresentação das situações altera o quadro, modificando o sentido das ações e a lógica dos acontecimentos. Mudar um percurso pode transformar os momentos, perceber uma forma nova de resolver uma pendência, também. Os artifícios nos oferecem total liberdade, apenas não aceitam a desistência. Ao fim de mais uma jornada estaremos exaustos, mas satisfeitos. Dormiremos cônscios do dever cumprido, descansaremos ansiosos pelos sonhos indicando mais do que a presença do desconhecido. Descobriremos mensagens do subconsciente, concluiremos pela integral sobrevivência mesmo em estado de repouso. Mergulhados numa viagem no intervalo do irreal, navegamos sem bússola, guiados pelo GPS do caminho virtual, onde os fatos, pessoas e lugares espelham desejos e projeções da realidade. A vida, portanto, se mostra plena e rica em todos os sentidos. Nesse exato momento tenho um fraterno amigo do outro lado do mundo, solitário mesmo cercado por quase um bilhão e meio de chineses. Dedico a ele esse texto, buscando amenizar seu forçado isolamento em mais um dia especial. Não importa onde estejamos ou quem sejamos, Mermão. A vida, só nos resta desfrutá-la da maneira mais prazerosa possível. Com a devida licença dos problemas, vamos viver.    

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