quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Vida que segue


A celebração da vida sempre faz bem e na companhia de queridos amigos surte um efeito muito melhor. Ontem à noite me desviei do rumo rotineiro e fui ao encontro de um grupo pelo qual tenho um especial apreço. Os inacianos, além de me recordarem lembranças felizes da infância/adolescência, renovam a minha alegria de viver com doses fartas de amizade e carinho, com muito bom humor e grande descontração. Não usufruo mais desses preciosos instantes por não possuir o dom da onipresença. Tenho vontade de estar com todos ao mesmo tempo, capturar cada expressão de felicidade, cada sorriso, cada observação sobre a história de nossas caminhadas de ontem e de hoje. Então só me resta circular entre eles o máximo possível, procurar a simpatia oferecida nos gestos simples e nos comentários entrecortados. Numa frase aqui, num abraço mais adiante, no afago ao coração e na massagem do ego, busco amalgamar os diferentes contextos numa essência apenas. Ela reúne as virtudes e apaga os defeitos, disfarçando a tristeza pelo contato efêmero. Com a mesma presença de espírito, projetamos naquele diminuto lapso de tempo o desejo de uma reunião prolongada, se não por muitos dias ao menos sem hora para terminar. Talvez por isso costuremos os retalhos dos papos paralelos numa extensa colcha que nos cubra a todos. A sede do reencontro se mostra insaciável e nos estimula a beber de todos os potes, sem exceção. Não se privilegia os mais próximos nem os menos assíduos, a expectativa maior reside em permear o conjunto completo de recordações e atualizações. As lacunas das ausências menos equilibram o esforço pela abrangência plena e mais evidenciam a falta que alguém faz. Quem comparece faz jus à troca de informações remotas e recentíssimas na dinâmica frenética de um escambo permanente. Rimos como se os minutos não escapassem, reduzindo as possibilidades de retomar um assunto interrompido. Inesperada e sutilmente chega a hora de ir embora. As despedidas se travestem de até breve mesmo com a sombra de um adeus maquiado de espaçamento longo. Marionetes de uma rotina estressante, preferimos crer na conspiração do destino, cujas linhas de controle nos colocarão no caminho dos demais. A satisfação obtida com essa imagem nos amordaça e manieta, impedindo palavras mais sinceras e cobranças realistas. E ao virarmos as costas já aguardamos com ansiedade pela próxima vez, incomodados com a demora e com as chances perdidas. Olhamos os estranhos, calamos a alma e endireitamos o passo. Vida que segue.  

Um comentário:

  1. fala xandu voce como sempre um astro na escrita...obrigado pelas palavras tao bem escritas...

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