sábado, 9 de fevereiro de 2013

Hoje é Carnaval





Me diga o dia e a hora exata em que nasceu o grande amor entre você e eu, vou consultar no céu o nosso mapa astral e a influência do ascendente universal. Assim começa um dos meus sambas do Bloco da Barata de Costazul/Rio das Ostras. Depois de quase uma década de carnavais na Marquês de Sapucaí e quase outra na região dos Lagos, pensei ter deixado o reino de Momo. Até que em 2005, quando o futebol aos sábados no Montanha ainda contava com a minha bissexta participação, ocorreu o inesperado. Depois do violento esporte bretão, era de lei a resenha acompanhada de cerveja gelada e dos tira-gostos do Bar da Dona Maria na Rua Garibaldi, ali na Muda. Além da simpatia da D. Maria e da rabugice do seu filho Zezinho, não raro dividíamos o espaço com o Moacyr Luz e com o Aldir Blanc, frequentadores assíduos e moradores da área. Até que, às vésperas de um Carnaval, circulou um prospecto falando do novo enredo do bloco “Nem Muda nem sai de cima” para a escolha do samba-enredo. 
O tema era o aniversário de dez anos do bloco e uma homenagem ao artista plástico Mello Menezes, autor, dentre outras obras, de várias capas de LPs da MPB. A rapaziada do futebol cismou que eu tinha que participar e, quase obrigado, entrei na disputa. Chamei o meu irmão Marcão, parceiraço de todas as horas, ele cantarolou uma melodia e eu coloquei a letra no samba. Passamos nas classificatórias na sede do América F.C. e chegamos à final. A Rua Garibaldi estava tomada de gente de todas as tribos. Jovens e velhos, jurados do mundo do samba, intérpretes amadores ou semiprofissionais, vendedores ambulantes, muvuca generalizada e o cavaco gemeu. Uma noite de verão de céu estrelado e muito calor, tipicamente carioca. O cenário perfeito para uma escolha de samba de bloco de rua. 
Depois das apresentações, do voto dos jurados e do voto popular, o suspense da contagem dos votos até a explosão da nossa alegria: o nosso samba venceu e aí não deu mais para conter a emoção. Muita comemoração e alegria pela vitória que não nos valia nada além do prazer de ter os meus versos cantados pelo povo durante o desfile quinze dias depois. E isso era muito, considerando a multidão atrás do bloco cuja madrinha Beth Carvalho compareceu para prestigiar. Walter Alfaiate, Nelson Sargento e outros mitos do samba carioca assinaram na minha camisa de compositor. 
Ao meu lado no desfile, batendo com categoria num tamborim, um inacreditável Aldir Blanc. Perto de mim o Moacyr Luz. Todos me cumprimentaram pelo samba e eu me sentia um verdadeiro sambista de raiz. Um dia inesquecível, cercado pela minha mulher, meus filhos, minha mãe, meus amigos que ajudaram a ter a composição escolhida. Uma história para contar para os netos e compartilhar com vocês, como faço agora. O personagem principal, o samba, não poderia faltar nesse texto de sábado de Carnaval. Portanto, Gabriel da Muda, chora cavaco:

Amor por favor não reclama,
a folia me chama, já é Carnaval.
É tempo de rever amigos,
amores antigos, etc e tal.
Eu bebo na fonte dos bambas,
nas rodas de samba no Dona Maria.
Lugar do batuque na mesa
e um gingar de princesa que a alma arrepia.
Mas fique tranquila querida,
eu volto pra casa ao raiar do dia.

Não mudo de amor, nem muda você,
Chega na hora o couro come e ninguém vê!
NEM MUDA eu já vou, levo o meu tamborim,
O coração vai bater forte até o fim!

Mistura a aquarela o artista,
pintou o passista na evolução.
Imagens o Mello Menezes
criou tantas vezes com inspiração.
O sol que eu trago no peito
me deixa de um jeito que chego a brilhar!
É Luz de Moacyr e Pixinga,
de Aldir e de Guinga,
de Elis vou lembrar!
NEM MUDA NEM SAI DE CIMA
dez anos fazendo a Tijuca sambar.

Não mudo de amor, nem muda você,
Chega na hora o couro come e ninguém vê!
NEM MUDA eu já vou, levo o meu tamborim,
O coração vai bater forte até o fim!

Ô amor! Amor por favor não reclama ...





4 comentários:

  1. Mais um talento para a sua vasta coleção...
    Não tem como apreciarmos a composição com letra e música?

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  2. Meu grande amigo, procurei até na internet, mas não encontrei registro de áudio nem de vídeo do desfile nem da escolha do samba. Só achei desfiles mais recentes do bloco. Garanto que a melodia é belíssima e valorizou a minha letra.

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  3. Tem que achar o samba cantado Alexandre.

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  4. Seria uma injstiça se o samba não fosse o escolhido. Lembro perfeitamente da festa na sede do Mequinha.

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