Além da Dilma, como escreveu
Aldir Blanc com maestria, “chora a nossa Pátria Mãe gentil, choram Marias e
Clarisses no solo do Brasil. Mas sei que uma dor assim pungente, não há de ser
inutilmente, a esperança...”. As lágrimas nos pertencem, mortais brasileiros.
Aqueles sem parentes nem amigos com DAS, sem nepotismo nem qualquer privilégio,
ao sabor das ondas colossais dos precários serviços públicos. Nós, aqueles
submetidos a décadas de corrupção inoculada nas veias de políticos, governantes
ou não. Nós, aqueles subtraídos da cidadania, uns mais outros menos, dependendo
da sorte que tiveram ao nascer ou ao longo da vida. Todos sem os mais básicos
preceitos de uma vida cidadã.
Quando as tragédias estremecem cidades,
como Rio e São Paulo e suas balas perdidas de cada dia, assassinam um pouco de
todos nós, do Oiapoque ao Chuí. Dia sim outro também, muito dinheiro segue para
o ralo enquanto Petrópolis, Nova Friburgo ou Santa Maria choram seus mortos por
falta de estrutura, de segurança, de prevenção, de responsabilidade ou qualquer
motivo semelhante. Enquanto as flores dos velórios ainda não murcharam, as
promessas se avolumam com a velocidade das mentiras de pernas curtas. Até
donativos destinados às vítimas costumam se desviar pelo caminho. Verbas
especiais, então, nem pensar. E a vida segue inexorável, com as capitanias
hereditárias da politicagem preservando seus feudos, de pais para filhos, sem
risco algum.
As muitas lágrimas derramadas aliviam
os corações amargurados pelas perdas, porém não lavam o descaso, a improbidade,
a insensatez, a ganância. Nada aplaca a dor da saudade e da certeza da
impunidade. Não se quer um ou dois bodes expiatórios, queremos todos os
culpados, as autoridades que nunca são atingidas. Governadores, prefeitos,
secretários, comandantes, enfim, todos os que deveriam se prontificar a
eliminar o mínimo risco de tragédias anunciadas. Lá estão para isso, foram
eleitos, designados, encastelados, pagos para prestar um serviço de qualidade
para a população. Essa, coitada, desvalida, agarrada às velas que iluminam a
escuridão mais profunda, protegendo a tênue luz da esperança sempre exposta aos
sopros do destino. As mesmas velas que clareiam o espírito dos que partem
inocentes.
O problema é que, menos de uma
semana após a tragédia de Santa Maria, nova catástrofe assola o país: Renan
Calheiros eleito presidente do Senado Federal com quase 80% dos votos. As
mazelas recorrentes, os nomes que vão e vêm, como que apagando delitos
conhecidos, rasgando sem vestígio as páginas marrons de suas biografias. No mesmo
dia se revela um aumento de 68% nos orçamentos das obras para a Copa, dois dias
depois de se multiplicar por dez o valor da obra para recuperar o Elevado do
Joá. Isso à luz do dia, no Rio de Janeiro, muito distante de Caixa-Prego no
interior da Bahia, com a sua Praça do Pau Mole, aonde a mídia não chega. Assim,
Aldir, fica difícil ter alguma esperança. Seremos eternamente bêbados ou
equilibristas.
A roda não muda, nossa consciência cidadã é muda.
ResponderExcluirCélio Coelho
É, Célio, resumo perfeito.
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