sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Bêbados ou equilibristas




Além da Dilma, como escreveu Aldir Blanc com maestria, “chora a nossa Pátria Mãe gentil, choram Marias e Clarisses no solo do Brasil. Mas sei que uma dor assim pungente, não há de ser inutilmente, a esperança...”. As lágrimas nos pertencem, mortais brasileiros. Aqueles sem parentes nem amigos com DAS, sem nepotismo nem qualquer privilégio, ao sabor das ondas colossais dos precários serviços públicos. Nós, aqueles submetidos a décadas de corrupção inoculada nas veias de políticos, governantes ou não. Nós, aqueles subtraídos da cidadania, uns mais outros menos, dependendo da sorte que tiveram ao nascer ou ao longo da vida. Todos sem os mais básicos preceitos de uma vida cidadã.
Quando as tragédias estremecem cidades, como Rio e São Paulo e suas balas perdidas de cada dia, assassinam um pouco de todos nós, do Oiapoque ao Chuí. Dia sim outro também, muito dinheiro segue para o ralo enquanto Petrópolis, Nova Friburgo ou Santa Maria choram seus mortos por falta de estrutura, de segurança, de prevenção, de responsabilidade ou qualquer motivo semelhante. Enquanto as flores dos velórios ainda não murcharam, as promessas se avolumam com a velocidade das mentiras de pernas curtas. Até donativos destinados às vítimas costumam se desviar pelo caminho. Verbas especiais, então, nem pensar. E a vida segue inexorável, com as capitanias hereditárias da politicagem preservando seus feudos, de pais para filhos, sem risco algum.  
As muitas lágrimas derramadas aliviam os corações amargurados pelas perdas, porém não lavam o descaso, a improbidade, a insensatez, a ganância. Nada aplaca a dor da saudade e da certeza da impunidade. Não se quer um ou dois bodes expiatórios, queremos todos os culpados, as autoridades que nunca são atingidas. Governadores, prefeitos, secretários, comandantes, enfim, todos os que deveriam se prontificar a eliminar o mínimo risco de tragédias anunciadas. Lá estão para isso, foram eleitos, designados, encastelados, pagos para prestar um serviço de qualidade para a população. Essa, coitada, desvalida, agarrada às velas que iluminam a escuridão mais profunda, protegendo a tênue luz da esperança sempre exposta aos sopros do destino. As mesmas velas que clareiam o espírito dos que partem inocentes.  
O problema é que, menos de uma semana após a tragédia de Santa Maria, nova catástrofe assola o país: Renan Calheiros eleito presidente do Senado Federal com quase 80% dos votos. As mazelas recorrentes, os nomes que vão e vêm, como que apagando delitos conhecidos, rasgando sem vestígio as páginas marrons de suas biografias. No mesmo dia se revela um aumento de 68% nos orçamentos das obras para a Copa, dois dias depois de se multiplicar por dez o valor da obra para recuperar o Elevado do Joá. Isso à luz do dia, no Rio de Janeiro, muito distante de Caixa-Prego no interior da Bahia, com a sua Praça do Pau Mole, aonde a mídia não chega. Assim, Aldir, fica difícil ter alguma esperança. Seremos eternamente bêbados ou equilibristas.


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