domingo, 23 de setembro de 2012

Resolvendo os problemas do mundo




Mais uma semana termina num sábado, diferente apenas pelo descortinar da primavera. No equinócio de setembro o dia tem a mesma duração da noite. Talvez isso explique um dia raro de reencontro de queridos amigos no outono da vida. Juntos desde as primeiras estações da existência, compartilharam o vicejar da primavera, aproveitaram o calor do verão e agora dividem a experiência outonal. Um deles se queixara da minha ausência prolongada, mesmo reconhecendo ser forçada. A amizade fraterna considera suave chamar de lapso o tempo decorrido desde o encontro anterior em janeiro. O período quantificado virou surpresa desagradável, colhendo minha consciência como se faz com as flores da estação. Segundo o lamento amigo, meu retorno teve a dor de um parto. Minha presença amadureceu numa gestação de nove longos meses. No eterno confronto de prós e contras resta o conforto de nossa falta sentida.
Superados o impacto do distanciamento e os cumprimentos calorosos, viramos a página e iniciamos o assunto. Rever pessoas tão caras sempre aumentou a relevância das reuniões em torno de uma mesa. A história testemunhou o mesmo ao redor de fogueiras e távolas. De temário mais ou menos significativo, florescem debates abastecidos com opiniões diversas. A democracia plena e a verdadeira liberdade de expressão trazem à tona profundas questões estruturais e filosóficas tanto quanto abordagens superficiais e simples. Nada se resolve, mas se lava a alma das aflições diárias. Pouco se transforma, exceto pela metamorfose de semblantes. Na tribuna livre das confrarias, o ar sereno dos conformados de cada dia dá lugar ao destemido vigor dos oradores de ocasião.
Defendemos os oprimidos, julgamos os impunes, sentenciamos os culpados. Nenhuma injustiça nos escapa e cobramos das viúvas as balas das execuções. O avançado da hora sinaliza o final. Saímos como chegamos, em meio a abraços demorados e beijos de irmãos. A celebração faz parte do respeito ao imponderável, um ritual valorizando a incerteza da repetição. Não concluímos tudo apenas para permitir outra oportunidade. Reservamos para a próxima os temas da sua vez. O local é incerto para despistar os ardilosos inimigos da humanidade. Basta um aviso pouco antes, sem agendamento, sem prévio compromisso, sem deixar rastros. Afinal, só ao término de nosso inverno estaremos impedidos de reencontrar queridos amigos para resolver os problemas do mundo.

Um comentário:

  1. muito bom o seu texto. Sua preseença transformou nosso encontro de sábados, que já e uma agradável rotina, numa tarde ainda mais especial, rara.

    um beijo em todos.

    oscar

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