segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Futebol geriátrico



Será demolido o palco da final da Copa de 1958, o estádio de Hasunda em Estocolmo. Por conta disso, houve um encontro comemorativo daquele dia inesquecível. Alguns cronistas menos informados se impressionaram com o aspecto conservado do Pelé entre os demais homenageados, atribuindo ao Rei mais esse fenômeno. Ora, o Pelé em 1958 era um garoto de dezessete anos de idade entre balzaquianos, a maioria com pouco menos ou mais de trinta anos. Passado mais de meio século, chega a ser covardia comparar um senhor septuagenário com um grupo de octogenários. Nessa faixa etária uma década faz muita diferença.
A minha turma do Colégio Santo Inácio postou no facebook as fotos de um encontro futebolístico nesse fim de semana. A aventura dos meus contemporâneos foi encarar um time mais novo quase dez anos. De forma bem adequada, a pelada foi batizada de futebol geriátrico. Comentando o evento, eu e outros reconhecemos não reunir mais condições de atuar nem nessa divisão. Difícil deixar de recordar o viço da juventude, em especial porque o campo era o mesmo de muitas jornadas e algumas das pessoas também. Naquela época, se fosse possível, jogávamos duas, três vezes seguidas.
Parece inapelável uma saudade daquele tempo, quando de certa maneira éramos invencíveis. Não nos jogos, pois perdíamos, ganhávamos ou empatávamos, como dizem os doutos comentaristas da bola. Falo de outra invencibilidade, a de um sopro divino, de um ar jovial inatingível pelos problemas mais complexos. A vida então se resumia a agendas saudáveis de corpo, mente e alma. Viver, longe de ser um fardo, refletia uma leveza permanente. Quase flutuávamos ao invés de caminhar, alçávamos voo ao correr.
Hoje o tempo já começa a cobrar seu inexorável preço, uma conta impossível de “pendurar”. Já nem são tão raras as contusões crônicas e as agudas respostas de músculos e articulações. Embora em pleno outono das estações da existência, ainda vai demorar muito para apagar da memória os felizes registros do nosso verão. Esses heróis do futebol geriátrico aplicaram um “doping do bem” em tantos ex-atletas. Injetaram alegria numa overdose de lembranças em todos nós, parceiros de cabeça descoberta ou de cabelos nevados.

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