sábado, 8 de setembro de 2012

Iludindo o tempo




Pesquisa após pesquisa, a física quântica revela novidades beirando o inverossímil. Cogita-se viajar no tempo, ainda não se sabe quando. O estágio atual dos estudos nos compara a amebas sonhando com viagens espaciais. Fala-se no “paradoxo do avô”, a possibilidade de se retornar ao passado e matar o pai do próprio pai, eliminando a chance de ser gerado. Essa e outras questões complexas se antepõem à concretização das hipóteses viáveis na teoria e até em alguns experimentos.
Em contraponto a esse emaranhado de dúvidas há quem viva a simplicidade de preciosos minutos. A sobrevivência tem preço e exigências proporcionais às demandas de cada um. Os abutres famintos também sobrevoam, aguardando a oportunidade do bote certeiro. As ameaças de um mundo materialista açoitam a todos. Não podemos nos manter escravizados. A solução exige o aperfeiçoamento do ser humano adormecido no interior de todos nós, através do resgate de valores esquecidos.
Produto da safra de setembro de 1956, completo cinquenta e seis anos agora. Na coincidência das dezenas o balanço de uma vida. Tenho hoje mais quinze anos do que meu pai quando morreu. Nascemos ambos em 10 de setembro e ele se casou na mesma data. Nasci em tempos de parto normal, da quase infalível contagem de luas ensinada pelos índios. Fui o presente de aniversário de 26 anos de um jovem dois anos mais velho que o meu caçula hoje. A título de bônus, presenteei também um feliz casal pelo primeiro ano de casamento.
Pena que as comemorações cumulativas nem debutaram, sequer chegaram a efêmeros quinze anos. Os cientistas decodificaram o DNA, mas nos devem a viagem ao passado. Enquanto isso viajo pelas lembranças. Meus filhos jamais se interessaram pelo “paradoxo do avô” e só conheceram o “velho” Dario por fotografia. Em outra coincidência, já sou mais longevo do que ele os mesmos quinze anos. Curiosa constatação dessa dimensão dita ilusória por muitos estudiosos, contagem crescente em números, decrescente em vida.
Pelo sim, pelo não, comemoro sempre em dobro, celebrando por ele e por mim. Afinal, temos muito mais em comum do que a data de nascimento. Meus cromossomos carregam seus genes, a hereditariedade nos assemelha, a essência se transferiu e segue em frente com os meus filhos. Teremos eterna cumplicidade no calendário e na perpetuação de nossa presença por aqui. Pouco importa se o tempo é uma ilusão, se continuaremos a iludi-lo.

5 comentários:

  1. Esta e uma cronica triste. Nos faz mergulhar em tempos longiquos e de muitas saudades. Cada qual le e cria o filme a sua maneira e experiencia de vida. Um grande abraco do Attilio.

    ResponderExcluir
  2. "Em outra coincidência, já sou mais longevo do que ele os mesmos quinze anos."

    E fico mt feliz por isso. Rumo à longa jornada, pai!

    Bjs

    ResponderExcluir
  3. Grande Bal
    Desde já, feliz aniversário. Bjs no seu coração e de todos os da sua família.
    Normando

    ResponderExcluir
  4. Mais tarde te ligarei. Já mandei felicitações por e- mail. Abração.

    ResponderExcluir