domingo, 12 de agosto de 2012

Elos da corrente



Há quarenta e um anos abracei meu pai pela última vez no Dia dos Pais. A coincidência do número se estende à idade que ele tinha quando um mal súbito nos privou de sua companhia. Eu nem completara quinze anos ao sofrer essa perda. Minha vida prosseguiu com a sustentação familiar proporcionada pela minha mãe, uma heroína na solitária criação de dois filhos. 

Passado todo esse tempo de muitas realizações, alguns insucessos, inúmeras alegrias. Tive filhos, conquistas inesquecíveis, êxitos pessoais, enfim, tanta coisa não compartilhada com quem eu pouca oportunidade tive de conviver. Dos quase cinquenta e seis anos da minha vida, na maior parte dela não pude contar com a presença inestimável da figura paterna.

Mas sinto que de alguma forma ele sempre esteve comigo em todos os momentos. Não sei explicar as razões e nem possuo embasamento suficiente para tal, apenas percebo. A ciência e a espiritualidade andam cada vez mais próximas, reforçando a minha impressão de que outras respostas ainda estão por vir.

Hoje, mais uma vez, não posso abraçá-lo. Minha mulher vive o primeiro Dia dos Pais com semelhante ausência. À medida que envelhecemos, outros tantos vivenciam a mesma inexorável experiência dessa lacuna. Trata-se da ordem natural das coisas. Terminada a jornada, ficam os ensinamentos, os exemplos, a inspiração e o legado. Em especial, a sensação de missão cumprida.

Estejam onde estiverem, nossos pais permanecerão conosco. Protagonistas de nossa existência, carregaremos sua herança genética até o último de nossos dias. Quanto mais profícuo for o replantio de suas sementes, mais perene sua permanência. Viramos cúmplices da eternidade ao nos tornarmos pais, nos metamorfoseando em elos de uma corrente com a presunção de não ter fim.
Nessa hora aumenta a importância de nos desejarem um Feliz Dia dos Pais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário