domingo, 9 de dezembro de 2012

Nem sempre é o que parece





Nem sempre é o que parece, eis o que as encruzilhadas da existência deveriam estampar em suas placas de sinalização. Ao caminharmos nessa vida, com a data de fabricação identificada e o prazo de validade desconhecido, deveríamos ter acesso a indicações melhor definidas. Ao contrário, somos obrigados a escolhas cruciais sem a menor certeza de opção pelo rumo certo. Seguimos direções apenas sugeridas, desconhecendo a exatidão do destino.
Muitas vezes andamos às cegas, tão poucas as referências existentes. Em outras nos obrigamos a enveredar por caminhos inexplorados, por imposições maiores do que a nossa vontade. Quando nos falta o combustível para viver, precisamos buscar alternativas inexatas somente porque podem encurtar a distância e nos permitir seguir a viagem. Desviar nosso trajeto, abrir mão das paisagens agradáveis, dos personagens conhecidos, das paradas preferidas e obrigatórias, das certezas que nos acostumamos. Isso pode nos impor uma experiência solitária, tendo somente a companhia da música, dos sons incidentais, de encontros fortuitos.
Tudo se renova, muito surpreende, pouco ameniza. Desbravamos novas trilhas, enfrentamos obstáculos, custamos a encontrar soluções. Olhamos ao redor e estranhamos rostos, locais e ambientes. Procuramos um olhar suavizado pelo reencontro e nos deparamos com a desconfiança da novidade, com a insegurança do ineditismo. Mas nos resta prosseguir, pois a vida segue inexorável. As demandas nos exigem com a fria habitualidade, austera e implacável como o carrasco em sua função.
Não interessa o momento, a fragilidade da alma, a convalescença da mente. Caminhar é preciso, a qualquer custo, sob qualquer sacrifício, no bom ou no mau tempo. Não se sabe onde leva o caminho, o porquê de mudar. Acatamos as razões verdadeiras de deixarmos para trás o que mais queremos, respeitando os anseios e as pretensões.
Possuímos uma autonomia parcial sobre nós mesmos, não nos pertencemos, fazemos parte de uma engrenagem maior. E essa continua voraz, insaciável. Ainda que independa de nós, ela se alimenta de nossas forças, de nossos talentos, de nossas presenças. Pode nos descartar, vai fazê-lo, mas não abre mão de desfrutar de nossos estertores. Passado trocado pelo presente, seguiremos nos supondo felizes, imaginando ludibriar quem escolhe por nós.
Se assim for, teremos perdido pouco. Ganhar, jamais. No final, vence a banca.  
Nem sempre é o que parece.



3 comentários:

  1. No final, vence quem tiver analisado melhor as cartas da mesa e as da mão. Estudar o adversário é crucial. Mas sempre haverá o imponderável fator de sorte.

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  2. Como conheces a ti mesmo, logo superarás essas agruras momentâneas... e, a partir do momento em que transiges sobre circunstâncias que transcendem nossa limitada compreensão, as cicatrizes adquiridas serão, tão somente, tênues referências à bela trajetória de vida bem convivida...

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  3. Lamento profundamente ler estas suas linhas. Entendi perfeitamente a mensagem implícita. Siga seu caminho e nunca se esqueça que há males que vem para o bem. Abração.

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