domingo, 8 de julho de 2012

Sexto sentido

Quantas vezes nos sentimos observados por alguém à distância? Por incrível que pareça, muitas delas estando de costas para o observador. E visões, algumas inclusive premonitórias? Há quem possa fazer isso com uma, por assim dizer, religiosa frequência. Até hoje me recordo de aromas marcantes do passado. Os perfumes usados pelo meu pai no final dos anos sessenta estão vivos em minha memória olfativa. A fragrância do Nau, do Lancaster ou do Avant la fête indicava que ele já estava de saída para o trabalho. E o cheiro de couro da pasta nova no início do ano letivo? Inesquecível. O cheiro de terra molhada, que denominamos cheiro de chuva, o odor de cola de madeira derretida, a simbologia de alguns incensos e outros registros me transportam para momentos específicos da vida. Tanto quanto sons, imagens, sabores e texturas, os sentidos projetam cenas no córtex cerebral. Pesquisadores de áreas inexploradas do cérebro humano se aproximam da existência de um sexto sentido fundamentado em comprovação científica ao invés de traduzido por um dom singular. Alguns deficientes visuais, por exemplo, demonstram uma possibilidade ainda mal esclarecida na identificação de emoções faciais de seus interlocutores. Talvez a justificativa esteja num sistema sensorial subconsciente ligado a uma parte oculta da mente humana. Por outro lado, nosso sistema visual está ligado a nove caminhos diferentes do cérebro e só começamos a entender com perfeição um deles. Os outros oito caminhos podem ser alternativas não mapeadas. Experimentos também conduzem à constatação da transmissão de pensamentos entre as pessoas, fenômeno que em larga escala se chama de inconsciente coletivo. Desde criança me incomodei com a afirmativa de que usamos apenas dez por cento da capacidade cerebral. Quando estendermos isso a parcelas maiores, com certeza nos surpreenderemos com um descortinar de percepções até então inalcançadas. A ciência caminha a passos largos para estreitar nossos laços com descendentes sequer conhecidos, num passe livre na linha do tempo como especulado por Einstein. Dimensões desconhecidas, talvez muito mais próximas do imaginável, aguardam pela nossa visita. As doses de compreensão dos fatos novos precisarão ser mantidas na forma homeopática da evolução das pesquisas, numa progressão compatível com a acomodação das camadas de conhecimento. Nem a vastidão do ultrapassado universo e do atual multiverso será o limite. A título de referência, há quem defenda a inexistência de vida em outros planetas em razão da não confirmação da tese ao longo de tantos anos de busca. Basta imaginarmos um desavisado retirando um copo como amostra da água de um oceano e em seguida atestando inexistir vida marinha pela ausência de indícios naquela insignificante quantidade. Quantos milhões de litros restarão a examinar? Submersos em semelhante mergulho, nos aprofundamos em mares misteriosos onde a massa encefálica flutua quase inexpugnável.  

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