terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Desequilibrados e impunes



Acompanhando a apuração das notas do desfile das escolas de samba de SP, acabei me deparando com uma cena inacreditável. Faltavam duas notas para o término quando um cidadão, digo, um marginal driblou a frágil segurança, pulou a mesa de contagem, tomou os documentos, os rasgou e saiu lépido e fagueiro diante de policiais e demais participantes do evento. Daí em diante se estabeleceu um caos, com a invasão de outros vândalos que atiraram documentos, mesas e cadeiras para o alto. Baderneiros travestidos de torcedores de escolas/clubes de SP transformaram o local em verdadeira praça de guerra. Não satisfeitos, ao serem obrigados a sair, passaram a depredar o que viram pelo caminho, numa das principais vias da capital paulista. Chegaram ao extremo de incendiar um carro alegórico num depósito do sambódromo de SP, colocando em risco outras alegorias e todo o patrimônio público e privado em seu entorno. Fiquei estarrecido com as imagens dantescas às quais assisti ao vivo com as incômodas sensações de impotência e de desespero pelo desfecho. Discordo terminantemente desse tipo de hostilidade, em qualquer circunstância, sob qualquer argumento. Essa turba de desordeiros, antes contaminando o futebol e agora alastrada pelo samba paulista, há décadas permanece quase impune. Quando há coerção, os irresponsáveis escapam com ligeiros arranhões e retornam às atividades. Dessa forma garantem o estímulo a outros tantos desocupados, presentes a estádios e situações em geral sempre com o intuito maior do vandalismo e da agressão gratuita. Não há a mínima defesa para esse comportamento lamentável e anti-social. Apenas me questiono por que não vemos reação nem de longe parecida contra as deploráveis atitudes de políticos corruptos que desviam do povo a verba da saúde, da educação e da moradia. Essas gangues que se prestam a confrontos sangrentos entre eles, com mortes marcadas pela internet, são os mesmos a reagir com violência e destemperança contra um mero resultado de desfile no carnaval. Poderiam usar esse ímpeto na organização ordeira pelos destinos da sociedade, pela moral e pela ética de quem legisla, na contestação contra as indecentes propinas recebidas pelos mais importantes mandatários espalhados pelo país. É evidente que não podemos esperar da turba tal conscientização, mas incomoda o fato de que a canalização da revolta não se foque nos verdadeiros responsáveis pelo estado de coisas vivido há tempos pela população. Talvez um dia esses destemperados compreendam que se ganha e se perde em competições esportivas ou carnavalescas, bastando haver apenas dois concorrentes. Contudo, nas restrições impostas pela desigualdade social, perdemos todos o tempo todo. É contra esse mal que, sem barbárie, precisamos concentrar nossa energia e nossa insatisfação. Para coibir a atitude insana do tresloucado que deu início ao tumulto de dimensões imprevisíveis só resta uma punição exemplar e duríssima. Já identificado e preso, aguardamos por justiça. Caso contrário se estimulará outros idiotas a repetirem o que ele fez. A impunidade nos presta esse desserviço.

2 comentários:

  1. Belo texto ! Temos que deixar a nossa voz falar sobre essa impunidade frequente. Ninguem tolera mais isso..

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  2. Os dois principais selvagens estão presos. A confusão revela não apenas a fragilidade da segurança coordenada pela Prefeitura, mas da própria estrutura do evento e, também, dos pilares que sustentam uma sociedade que Rousseau, Locke e Hobbs não previram. Sobre o desfile, talvez, no ano que vem, a Gaviões decida homenagear Sarney e no ano seguinte, Marco Aurélio Mello, representando a nossa Justiça. Abraços,

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