segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Eles ou as chuvas deverão?


Andei afastado e aproveitei para amolar a faca para não perder o fio. A fé permanece inalterada. O ano já engoliu uma quinzena e o ralo dos nossos dias continua com a goela escancarada, abocanhando torrentes. Enquanto isso, não menos torrencialmente, as novidades do álbum de 2012 se restringem a figurinhas repetidas. Nada mais previsível do que as catástrofes da incompetência remunerada, da desumanidade explícita, da imobilidade corrupta. As chuvas caem e destroçam vidas com a força da rotina, o poder público usa as águas para lavar as mãos como Pilatos. Afoga-se a esperança em dias melhores, arrastando-a pela correnteza em rede nacional. As vítimas mudam de nome, os locais nem sempre. As desculpas e as promessas se revezam nas caras e bocas da hipocrisia. Não me surpreenderia o esclarecimento de que os impostos sobem para fugir do nível da água. Pior, as verbas alocadas para a prevenção percorreram um caminho indevido e repousam nos colchões dos deitados eternamente em berço esplêndido. A mãe natureza cobra um preço antigo e anunciado. A natureza humana também. Ilimitados interesses escusos, escaramuças engendradas em gabinetes, dão vazão a caudalosos rios de lágrimas. Por que beber nessa fonte amaldiçoada, como justificar algum benefício trocado pela desgraça de tantos inocentes? Quantos crimes cometidos com a frieza dos calculistas profissionais, dos burocratas insensíveis, dos comerciantes da miséria alheia?  E nada acontece com eles, ano após ano, gestão após gestão, tragédia após tragédia. O choro anônimo das famílias dilaceradas não os comove. Há um distanciamento protocolar, um semblante impassível para cada morte, uma falta absoluta de consciência. Transfere-se a culpa, altera-se o sentido, deturpa-se o fato. Afinal, todos sabemos da impossibilidade de se prever tamanha concentração pluviométrica. Nessa época, já nos acostumamos com a precipitação esperada em um mês ocorrer em alguns dias. É assim e pronto. O resto faz parte do sensacionalismo da imprensa e da difamação costumeira de gente tão proba. Bem que a justiça divina poderia vitimá-los nesses episódios. A dos homens não me parece atenta aos acontecimentos recorrentes. Nem quando vai às urnas.

P.S.: Hoje faz um ano da perda de um inconformado com essas injustiças cometidas por aqui. Renato, meu inesquecível e querido amigo, tenho certeza de sua campanha contra isso tudo junto à rapaziada daí. Ajude a não deixarmos a peteca cair diante de tanta desilusão. Um grande e saudoso abraço.

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