Nem sempre é o que parece, eis o
que as encruzilhadas da existência deveriam estampar em suas placas de
sinalização. Ao caminharmos nessa vida, com a data de fabricação identificada e
o prazo de validade desconhecido, deveríamos ter acesso a indicações melhor definidas.
Ao contrário, somos obrigados a escolhas cruciais sem a menor certeza de opção
pelo rumo certo. Seguimos direções apenas sugeridas, desconhecendo a exatidão do
destino.
Muitas vezes andamos às cegas,
tão poucas as referências existentes. Em outras nos obrigamos a enveredar por
caminhos inexplorados, por imposições maiores do que a nossa vontade. Quando nos
falta o combustível para viver, precisamos buscar alternativas inexatas somente
porque podem encurtar a distância e nos permitir seguir a viagem. Desviar nosso
trajeto, abrir mão das paisagens agradáveis, dos personagens conhecidos, das paradas
preferidas e obrigatórias, das certezas que nos acostumamos. Isso pode nos
impor uma experiência solitária, tendo somente a companhia da música, dos sons
incidentais, de encontros fortuitos.
Tudo se renova, muito surpreende,
pouco ameniza. Desbravamos novas trilhas, enfrentamos obstáculos, custamos a encontrar
soluções. Olhamos ao redor e estranhamos rostos, locais e ambientes. Procuramos
um olhar suavizado pelo reencontro e nos deparamos com a desconfiança da novidade,
com a insegurança do ineditismo. Mas nos resta prosseguir, pois a vida segue
inexorável. As demandas nos exigem com a fria habitualidade, austera e implacável
como o carrasco em sua função.
Não interessa o momento, a fragilidade
da alma, a convalescença da mente. Caminhar é preciso, a qualquer custo, sob
qualquer sacrifício, no bom ou no mau tempo. Não se sabe onde leva o caminho, o
porquê de mudar. Acatamos as razões verdadeiras de deixarmos para trás o que
mais queremos, respeitando os anseios e as pretensões.
Possuímos uma autonomia parcial
sobre nós mesmos, não nos pertencemos, fazemos parte de uma engrenagem maior. E
essa continua voraz, insaciável. Ainda que independa de nós, ela se
alimenta de nossas forças, de nossos talentos, de nossas presenças. Pode nos
descartar, vai fazê-lo, mas não abre mão de desfrutar de nossos estertores. Passado
trocado pelo presente, seguiremos nos supondo felizes, imaginando ludibriar quem
escolhe por nós.
Se assim for, teremos perdido
pouco. Ganhar, jamais. No final, vence a banca.
Nem sempre é o que parece.
Nem sempre é o que parece.
No final, vence quem tiver analisado melhor as cartas da mesa e as da mão. Estudar o adversário é crucial. Mas sempre haverá o imponderável fator de sorte.
ResponderExcluirComo conheces a ti mesmo, logo superarás essas agruras momentâneas... e, a partir do momento em que transiges sobre circunstâncias que transcendem nossa limitada compreensão, as cicatrizes adquiridas serão, tão somente, tênues referências à bela trajetória de vida bem convivida...
ResponderExcluirLamento profundamente ler estas suas linhas. Entendi perfeitamente a mensagem implícita. Siga seu caminho e nunca se esqueça que há males que vem para o bem. Abração.
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