Em meio aos últimos suspiros de um péssimo ano, tudo aponta para a minha sobrevivência. Mesmo depois do emblemático 21/12
do calendário Maia. Contudo, restarão marcas. Se os anteriores da safra 2000
foram penosos, 2012 se superou. Enquanto após doze meses um ano comum se finda,
alguns se perpetuam por eventos intermináveis, positivos ou negativos. Esse ano
se esvai como todos os anteriores e os que virão, mas deixará em minha memória
um rastro doloroso de sua passagem.
Seja como for, num período de festas as tensões
tendem a se dissipar e as palavras soam mais doces. As pessoas aparentam uma
solidariedade maior, ensaiam um sentimento mais ameno, parecem se recordar da
humanidade como um preceito básico. O amor ao próximo ressurge de repente, as
atitudes se revestem de fraternidade e os espíritos se desarmam.
O comércio insufla um compromisso com a gratidão
travestida de mercadoria. Engalanados pelo melhor papel capaz de embrulhar
caixas, corações e mentes, lacrimejamos por consumismo. Chora de alegria quem
recebe os mimos e de emoção quem presenteia. Num piscar de olhos, a
generosidade vira a tristeza de quem se endivida pelos meses subsequentes.
Pouco importa, a festa esquece seu motivo
principal e se alimenta de um cardápio variado e proibitivo ao órgão mais
sensível do corpo humano, o bolso. Esse estará vazio, ao contrário das entupidas
coronárias e do estômago dilatado. A comemoração cristã se relega a um plano
secundário, exceto pela reunião da família. E nessa hora as ausências se fazem
sentidas com especial intensidade. Além do amigo oculto, outros protagonistas
estarão desaparecidos. As lembranças inevitáveis amargam o gosto das rabanadas
e das frutas cristalizadas, o bacalhau salga a alma e o vinho exige goles exagerados.
Portanto, cultivem o hábito de degustar o amor como um néctar dos deuses, celebrando ao máximo as presenças queridas.
Embriagados pela simbologia da época, sequer nos
damos conta da certeza da ressaca espiritual. O calendário frio e calculista
nos impõe novos tempos, felizes ou não. Cabe reservar para eles um sopro enorme
de esperança, uma dose imensa de saúde e um farto quinhão de paz. Protegidos
por essa alta cúpula da perfeição, poderemos enfrentar as surpresas de outros
dias, tão esperados e nem sempre melhores.
Aos que me privilegiam com a leitura dos meus
textos, familiares, amigos, colegas, desconhecidos virtuais ou esporádicos
visitantes, desejo um Natal de muita harmonia e plena reflexão. Que a data
magna da cristandade inspire a chegada do novo ano, propiciando mais flores do
que espinhos, mais sorrisos do que lágrimas. Essas, se teimarem em rolar em
nossas faces, que anunciem felicidade.
E, principalmente, abracem e beijem muito aqueles
que amam. Não só para reenergizar e registrar a nobreza do sentimento. Mais
relevante não esquecer de que, se isso terminará em dia, mês e ano
desconhecidos, sem dúvida terá um fim.
Feliz Natal e Melhor Ano Novo.
Que lindo... Alê!
ResponderExcluirUm 2013 FELIZ.
Com carinho e ADMIRAÇÃO, Vivi.
Caro Xandu, leio nos seus textos passagens com muita humanidade - algo raro nos dias que correm. Só posso me solidarizar contigo pois sei da sua dor, pela perda que você sofreu nesse ano que chega ao seu final. Concordo que muitas vezes nos esquecemos de celebrar as presenças, embrutecidos que estamos pelo cotidiano, pelos afazeres, pela falta de tempo...Precisamos encontrar novas energias que nos ajudem a superar esse automatismo vil, essa "idiotia da objetividade", conforme nos alertava o grande Nelson Rodrigues. Espero que o amigo encontre formas de renovar as energias de modo a superar a dor das "lembranças inevitáveis". Boas festas, paz e bem-aventurança!
ResponderExcluirBal, teremos um ótimo 2013. Acredite!
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