Quantas vezes nos sentimos
observados por alguém à distância? Por incrível que pareça, muitas delas
estando de costas para o observador. E visões, algumas inclusive premonitórias?
Há quem possa fazer isso com uma, por assim dizer, religiosa frequência. Até
hoje me recordo de aromas marcantes do passado. Os perfumes usados pelo meu pai
no final dos anos sessenta estão vivos em minha memória olfativa. A fragrância
do Nau, do Lancaster ou do Avant la fête indicava que ele já estava de saída para
o trabalho. E o cheiro de couro da pasta nova no início do ano letivo?
Inesquecível. O cheiro de terra molhada, que denominamos cheiro de chuva, o odor de cola
de madeira derretida, a simbologia de alguns incensos e outros registros me transportam para
momentos específicos da vida. Tanto quanto sons, imagens, sabores e texturas, os
sentidos projetam cenas no córtex cerebral. Pesquisadores de áreas inexploradas
do cérebro humano se aproximam da existência de um sexto sentido fundamentado
em comprovação científica ao invés de traduzido por um dom singular. Alguns
deficientes visuais, por exemplo, demonstram uma possibilidade ainda mal
esclarecida na identificação de emoções faciais de seus interlocutores. Talvez
a justificativa esteja num sistema sensorial subconsciente ligado a uma parte
oculta da mente humana. Por outro lado, nosso sistema visual está ligado a nove
caminhos diferentes do cérebro e só começamos a entender com perfeição um deles. Os outros oito caminhos
podem ser alternativas não mapeadas. Experimentos também conduzem à constatação
da transmissão de pensamentos entre as pessoas, fenômeno que em larga escala se
chama de inconsciente coletivo. Desde criança me incomodei com a afirmativa de
que usamos apenas dez por cento da capacidade cerebral. Quando estendermos isso
a parcelas maiores, com certeza nos surpreenderemos com um descortinar de
percepções até então inalcançadas. A ciência caminha a passos largos para
estreitar nossos laços com descendentes sequer conhecidos, num passe livre na
linha do tempo como especulado por Einstein. Dimensões desconhecidas, talvez
muito mais próximas do imaginável, aguardam pela nossa visita. As doses de
compreensão dos fatos novos precisarão ser mantidas na forma homeopática da
evolução das pesquisas, numa progressão compatível com a acomodação das camadas
de conhecimento. Nem a vastidão do ultrapassado universo e do atual multiverso será
o limite. A título de referência, há quem defenda a inexistência de vida em
outros planetas em razão da não confirmação da tese ao longo de tantos anos de
busca. Basta imaginarmos um desavisado retirando um copo como amostra da água
de um oceano e em seguida atestando inexistir vida marinha pela ausência de indícios
naquela insignificante quantidade. Quantos milhões de litros restarão a examinar? Submersos em
semelhante mergulho, nos aprofundamos em mares misteriosos onde a massa encefálica flutua quase
inexpugnável.
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