Triste surpresa para um Dia do
Amigo. Só reforça a ideia de vivermos cada dia como se fosse o último, saboreado
qual preciosa dádiva cuja repetição jamais sabemos se ocorrerá. Um coração repleto de amizades nem por isso fica invencível. Ninguém foge da inexorável e derradeira
lista de chamada, feita por Quem dita o destino de todos nós. Não se pode
responder por outro, muito menos fingir não escutar o chamado. De repente, sem
respeitar uma sequência lógica, chega a nossa hora. Por mais inesperada e
inaceitável, nos obrigamos a responder: Presente! Na infância e na adolescência
passamos anos a fio fazendo isso conforme a ordem alfabética. Parecia mais
fácil esperar o momento certo e, às vezes, até driblávamos a perspicácia de um
ou outro mestre. As coisas então se mostravam muito mais simples no ritmo da
rapaziada bem humorada lá no fundo da sala, o pessoal da “cozinha”. Dentre
outros, o Tarabini, o Cabral, o Zé Otávio e, a partir de hoje, um saudoso frequentador
daquele local. O Paulo Arthur da Costa Ribenboim das chamadas escolares identificávamos
como Tuta, o Guru, um hábil surfista. Cabelos longos tal a moda da época
ditava, mas divididos do lado como a tribo inspirava. Num grupo muito risonho,
ele em especial mantinha um bom humor permanente. Seu sorriso estampado no
rosto em tempo integral acolhia melhor quem se aproximasse. Nossa amizade nem foi
tão estreita, pois pertencíamos a grupos diferentes, embora estudássemos na
mesma turma. Por outro lado, por transitar bem entre todos os clãs, sempre
conversei com ele com descontração, pegando a emanação de suas ondas de
simpatia serena. Excelente aluno, o Tuta se destacava naquele conjunto. Não sei
se fruto de muito esforço ou se pela absorção com maior facilidade das
informações nas aulas. A exemplo do Cabral, que não anotava quase nada e se saía
muito bem nas provas, o Tuta conseguia sucesso. O fato é que o desempenho deles
era acima da média. Depois da formatura no colégio nos distanciamos ainda mais.
Há muito morava nos Estados Unidos e quando visitava o Brasil, em geral de
férias, aproveitava para reencontrar o pessoal mais ligado nas pranchas, dentre
os quais não me incluo. Escolheu para as manobras finais no mar o Trajano, o Marcelo
Sertã e o Pecego, que sofreram mais de perto a sua perda e contam com a minha
solidariedade. Estivemos juntos pela última vez num jantar de fim de ano no
restaurante do Jockey Club. Lá encontrei um Tuta de cabelos curtos grisalhos e
de bigode, quase irreconhecível, não fosse o tradicional sorriso escancarado. Atualizamos
o papo e falamos de amenidades. Inúmeros os reencontros daquela noite,
impedindo a dedicação do tempo exigido para todos os resgates. Mas consegui
recuperar na memória um personagem muito interessante. Ele continuava o mesmo,
um cara de bem com a vida e transmitindo muita energia positiva. Com certeza tinha
seus problemas, todos os temos, mas transparecia um equilíbrio e um estado de
espírito em alto astral, daqueles contagiantes. Talvez a minha avaliação menos
aproximada me sugerisse algo diferente, porém prefiro ficar com ela. Vou
guardar essa imagem do colega agora em busca de ondas melhores. O Grande
Arquiteto do Universo reservou para ele essa missão e em algum lugar sua
presença se fez mais necessária do que aqui entre nós. Nosso perfil egoísta se
ressente da ausência dos que se vão mais pela falta que nos fazem do que por
interromperem sua trajetória. A galera do outro lado sem dúvida o recebeu com
um caprichado Aloha. Agora deve estar
preparando a prancha para se juntar a eles, para remar em novas águas, atrás da onda
perfeita, para entrar e sair de espetaculares tubos. Tomara que ele fique amarradão.
Para nós, Tuta, você sempre estará na
crista da onda. Valeu, parceiro!
Que lindo Alexandre! Você escreve MUITO bem e congegue transmitir maravlhosamente a essência dos ganhos, perdas e danos da vida.
ResponderExcluir... reforça a ideia de vivermos cada dia como se fosse o último, saboreado qual preciosa dádiva cuja repetição jamais sabemos se ocorrerá.
... Nosso perfil egoísta se ressente da ausência dos que se vão mais pela falta que nos fazem do que por interromperem sua trajetória.
Amelinha, vocês fazem parte da minha inspiração. Sem ela eu não conseguiria escrever.
ResponderExcluirBal, quis o criador que nós morrêssemos dia a dia, a partir do nosso nascimento. É a ordem natural das coisas. Será essa a ordem natural? Muitas vezes questionamos o Ser Maior por levar um jovem antes do adulto, mas, também existe a explicação para isso. A ordem é natural mas, é a dele e não nossa. Como sempre digo você consegue me deixar sem resposta após a leitura dos seus textos. Um grade beijo no seu coração. Normando
ResponderExcluirAlexandre, não nos conhecemos, mas ambos partilhamos da maravilhosa companhia do querido Tuta, nas épocas de estudante. Para minha sorte continuei a vê-lo, mas também não com tanta freqüência, pois a pressa desses tempos não permite... Fiquei com os olhos molhados ao ler suas palavras. Tuta realmente era uma pessoa muito especial, altíssimo astral, sorriso franco, tranquilo, de bem com a vida. Foi embora surfando, uma paixão que sempre teve. Que esteja em paz!
ResponderExcluirBelíssimo, Xandu! Dessa vez você me emocionou.
ResponderExcluirAlexandre, não tive o prazer de lhe conhecer porem tivemos o privilegio de conviver com o Paulinho.
ResponderExcluirA dor é grande pois sem duvida uma das pessoas mais incriveis que já conheci. Na realidade perdi um irmão no dia do amigo. Obrigado por partilhar seu lindo texto.
Abraços,
Gui Affonso
Muito bom Alexandre, isto está sendo uma homenagem muito bonita a uma pessoa que era totalmente do bem, e de uma bondade e um caráter elevadíssimos. Um abraço. Zé Otávio
ResponderExcluirOi Alexandre, eu sou prima da Luciana entao, conheci o Tuta atraves dela, no inicio um pouco, depois um pouco mais, e mais um pouquinho e assim a vida foi passando e me ensinando a "ver" as pessoas atraves de uma lente diferente, hoje em dia posso dizer que a forma como sinto, escuto e lembro de uma pessoa vai aos poucos se transfor -mamdo no que aquela pessoa siginfica para mim, uma especie de assinatura emocional - me encanta perceber que o Paulo que eu aprendi e tao especial quanto o Paulo que voce e os amigos dele conheceram. Ele tinha e continua tendo uma das almas mais bonitas, iluminadas e elegantes que conheci.
ResponderExcluirJunto com a Luciana, Luiza e Daisy formava a familia que a gente gosta de ver e ter - bonita e do bem. E como voce tao bem escreveu enquanto nos na nossa margem do Oceano dizemos "La vai ele" - eles que estao na outra margem ja vao dizendo "Ele esta chegando!" - Lindo o seu texto.
Um Abraco, Ana Maria
ResponderExcluirBrilhante, Xandu, uma bela homenagem. Gostaria de fazer minhas as suas palavras, para não fugir ao velho chavão...Mas relembro as palavras do poeta, "...são demais os mistérios dessa vida", ou algo assim - a memória já não ajuda...Certamente o Tuta contagiava a todos com seu alto astral, e tb guardo "essa imagem do colega agora em busca de ondas melhores". Valeu!
ResponderExcluirXANDU, MEU GRANDE AMIGO,MAIS UMA VEZ VOCE BRILHOU...MAGNIFICAS PALAVRAS...NOSSO AMIGO TUTA RIBENBOIM
ResponderExcluirMERECE...GRANDE ABRACO CALICA