Salvo engano, durante o curso de
Engenharia na PUC/RJ, o meu amigo Lázaro era monitor de turma nas aulas de
Física I do professor Pierre Lucie. Já se vão quase quarenta anos e não lembro
com exatidão do período. Fernando Lázaro Freire Júnior sempre se mostrou um
sujeito simples, mesmo quando se destacava como excelente aluno nos tempos do
Santo Inácio. Cabelos desalinhados, despojado no trajar, uma personalidade risonha
disfarçada pela seriedade carregada de humor sarcástico. O “Boi” é daqueles
parceiros distanciados pelo tempo, porém do qual jamais esqueceremos pela grande
camaradagem da época de escola. Numa busca recente de velhos documentos,
encontrei uma carta do Lázaro remetida de Padova/Itália em 1989. Eu estava nos
Correios e ele elogiava o nosso serviço e criticava as dificuldades postais do
país onde estava morando. Ainda sem a praticidade da internet, do celular e das demais
vantagens oferecidas pela atual tecnologia, a distância e a solidão eram
minimizadas pelo hábito da correspondência tradicional, selada e confiada à
qualidade dos correios pelo mundo. Guardei com carinho a mensagem elogiosa do
amigo e ela resistiu até hoje a várias arrumações. Semana passada, através de um amigo comum, eu soube
da aula magistral “Nanotecnologia: uma revolução?”, proferida pelo Professor Lázaro
em sua posse como Professor Titular do Departamento de Física da PUC/RJ. Não
resta a menor dúvida se tratar de coisa para poucos e que só nos honra como
amigos. Para minha sorte, seu extenso currículo incluiu aquela passagem pelo nordeste
da Itália, na região do Veneto, numa das mais antigas universidades do mundo. O
exílio cultural o estimulou a escrever para mim e aquele pós-pergaminho inspirou
esse texto. Ao longo da história a escrita teve, tem e terá esse dom de
aproximar as pessoas afastadas, não importa quando nem o canal utilizado. Assim
resolvi escrever algo em homenagem ao Lázaro e estender a tantos outros colegas
inacianos, além dos demais amigos que fiz em outros locais, cuja quantidade me impede de citar, também ocupantes de funções de
destaque na sociedade, cumprindo a missão de melhorar esse mundo em que
vivemos. Eles pesquisam temas diversos, desenvolvem novas tecnologias, curam
pacientes, compõem músicas, desenham, constroem, decoram, enfim, fazem a vida
diferente do que seria sem eles. Pode parecer cabotino escrever meio que em
causa própria, mas julgo digna de registro a contribuição dessa parcela especial
da sociedade com quem tive a oportunidade de passar momentos felizes da minha
juventude. Vivemos juntos dificuldades adolescentes e conflitos naturais de uma
idade cheia de rebeldia e de ideias. Percorríamos apressados os corredores, pátios
e escadas; corríamos pelos campos e quadras; confrontávamos com a modernidade os
antigos quadros de formatura; chegamos a ter como desafio maior escalar o morro
nos limites do colégio. As décadas se incumbem de ampliar os desafios e os
limites, nos impondo uma percorrida de corredores cada vez mais longos, num
enfrentamento árduo com a persistência e o ideário do viço da adolescência. Valeu,
Boi, um dos parceiros daquela fase marcante da minha caminhada. Meu respeito, demais ilustres inacianos e outros amigos personificados pelo Professor Lázaro em sua missão nobilíssima de lecionar. Dia desses alguém lembrou Sartre,
ao dizer que a arte de viver é ficar o tempo todo se equilibrando entre escolhas
e consequências. Sábias palavras.
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