Gongolo: Pequeno miriápode que se
enrola quando lhe tocam. O mesmo que bicho-de-conta ou piolho-de-cobra.
Era uma vez um gongolo
individualista, habitante de uma floresta tropical na qual dividia espaço com
outros invertebrados, vertebrados, árvores, flores e plantas em geral. Aliás, essa era das
raras divisões feitas pelo gongolo, a exemplo da amargura e dos problemas. À
alegria, à felicidade, ao bem-estar não se mostrava disposto a concessões, entendendo
se tratarem de porções pessoais e indivisíveis. Assim, se recusava a demonstrar
solidariedade, espírito de grupo e de compartilhamento. Preferia desfrutar desses
aspectos de forma individual e intransferível. Todos, salvo uma e outra exceção
confirmando a regra, discordavam do gongolo. Mudava seu percurso
pelas trilhas da mata, mas seu comportamento peculiar permanecia atraindo a crítica dos demais.
Entretanto, ele se mantinha irredutível, por considerar correta sua maneira de
ver a vida e entender equivocada a visão de todos os outros. Com o
passar do tempo o gongolo passou a se sentir cada vez mais isolado, pois os
grupos mais diversos promoviam reuniões sem contar com a sua presença. Até só lhe restar o espelho da toca. Arraigado a seus princípios, o gongolo sequer
admitia partilhar os melhores momentos de sua
existência com o reflexo da própria imagem. Passou a evitar o espelho também. Eis que surge uma época de terrível e
inesperada seca na floresta, privando a todos do habitual provimento abastado. Ninguém,
inclusive o gongolo, conseguia encontrar o indispensável para a própria subsistência.
Em circunstâncias de tamanha escassez, houve imperativa necessidade de juntarem
esforços para o recolhimento de víveres. Consolidadas as porções obtidas por
cada um, uns mais outros menos diante das dificuldades, o resultado era repartido
de acordo com a demanda individual. A partilha das cotas reunidas com
sacrifício geral se dava inobstante as preferências particulares da borboleta,
da aranha, do gafanhoto, da centopéia, da libélula, enfim, de todos. O obtido pelo grupo era indistintamente distribuído até que cada indivíduo dispusesse da mesma
porção minimamente satisfatória. Somente tal compartilhamento poderia salvar o
ecossistema. Não dispondo de alternativa para a sobrevivência, em razão dos
dias de abundância serem sucedidos por jornadas de carestia, o gongolo precisou
rever seu ponto de vista. Forçado pela contingência mudou a filosofia de vida
e passou a se comportar de forma partícipe e solidária. Mesmo após normalizada a
situação, superado o período de privação, o gongolo se manteve integrado aos
princípios de coletividade. Desde então jamais deixou de ser lembrado em todas
as reuniões da floresta. Nelas se tornou uma das mais simpáticas e bem-vindas
presenças, pelo extremado espírito de grupo, pelo companheirismo e pelo temperamento
afável. E se diz que naquela floresta todos
viveram felizes para sempre.
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