Um dia desses me peguei organizando selos antigos que jamais cheguei a
retirar dos envelopes em que foram usados. Na verdade eles se somaram a uma
coleção que fiz durante a adolescência, herdados de um tio com mais curiosidade
do que dotes filatélicos. Décadas se passaram e os selos ficaram esquecidos numa
caixa, dentro de um caderno de científico dos anos cinqüenta, pertencente à
irmã do juntador das peças. Foi uma viagem diferente separá-los por países que
nem existem mais. Numa definição da filatelia levada a sério, os selos são pequenas
janelas para o mundo. Total fundamento.
No caso dos selos, em razão da infinidade dos temas
existentes, o filatelista precisa escolher aquele ao qual vai se dedicar. O
hábito de colecionar requer paciência e meticulosidade. Confesso não possuir
essas virtudes. Ainda assim consegui reunir amigos ao longo da vida, preciosa coleção
da qual me orgulho muito, sobretudo pela temática diferente de suas
características. Por mera coincidência, dias após organizar meus selos,
participei de uma reunião com antigos amigos dos Correios. Trabalhei com eles naquela
empresa por mais de vinte anos, até sair para a iniciativa privada em 1997. Além
da alegria do reencontro, revê-los me faz recordar diversas passagens marcantes,
viajando no tempo como ao contemplar os selos.
A empresa das minhas memórias me sugere outra imagem, embora muitos dos personagens
fossem os mesmos. Tenho as melhores lembranças dos tempos de ápice dos
Correios, então eleita a melhor empresa nacional, num mundo diferente do atual no que se refere às comunicações. Embora
as mudanças tecnológicas já começassem a se delinear, a relevância dos serviços
era proeminente e a transformação do DCT em empresa moderna garantiu um salto
de qualidade. Sem falsa modéstia, tive o privilégio de participar daquele período
histórico junto com muitos ecetistas valorosos, ajudando a escrever algumas das
páginas mais brilhantes dessa importante organização.
Não caio na armadilha de citar nomes, evitando a injustiça de omitir registros
tão relevantes quanto os lembrados. Prefiro homenagear a todos na figura do
anfitrião desse reencontro, meu grande amigo Jarbas. Esse excepcional ser
humano, que através dos Correios tive a oportunidade de conhecer, me fez o generoso
convite para estar com gente tão querida. A hospitalidade extremada dos donos
da casa e o carinho de todos os presentes emolduraram um quadro inesquecível na
parede das minhas recordações. As informações trocadas com avidez preservarei vivas num arquivo especial da minha mente. Num pedaço de paraíso encravado na montanha, num
ambiente leve e descontraído, a prosa correu solta e as horas não foram razoáveis,
nos dando a ilusão de passarem rápido demais. Se a vida se faz de instantes, dias
assim deveriam ter eterna duração. Estou certo que tenham sob outra perspectiva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário