A última semana sacudiu a minha
memória de maneira significativa. O período já caminhava para um desfecho comum
quando o Flamengo resolveu alegrar meu coração entristecido. Acostumado às
grandes campanhas e às vitórias consagradoras, uma sucessão de desmandos e uma
administração da pior espécie levaram o Mais Querido a um momento sombrio e
pessimista. Sob uma direção omissa, equivocada e distante dos ideais rubro-negros,
o time se viu mergulhado numa crise perigosa. Obrigado a enfrentar um dos times
da moda, o vice-líder do campeonato, surpreende e vence de forma convincente. Numa
exibição com a cara do Flamengo ao qual me acostumei, garra, técnica e aplicação
tática me fizeram vestir outra vez o Manto Sagrado das glórias do passado.
Quase em seguida soube da morte
do Ted Boy Marino, um dos meus ídolos de infância, astro do telecatch das noites de sábado. Podemos
traduzir suas lutas como uma espécie de MMA de mentira. Elas povoaram a
imaginação da garotada e de muito marmanjo do final dos anos 60 e início dos 70,
primeiro na TV Excelsior e depois na TV Globo. Lembro da voz do locutor Tércio
de Lima narrando o Telecatch Montilla com entusiasmo, valorizando os embates
dos mocinhos Ted Boy Marino, Tigre Paraguaio e o misterioso Verdugo contra os
vilões Mongol, Rasputin Barba Vermelha e Aquiles. O árbitro mais famoso, o
impagável Crispim, tinha muito trabalho com as tesouras voadoras, dublinelsons,
encostamentos de espáduas e inúmeras braçadas. Sem contar com as decisivas
cuteladas do Verdugo. Os vilões abusavam de golpes baixos como dedos nos olhos
ou puxões de cabelo, até os massagistas entravam no ringue para atacar os
mocinhos. Tudo muito bem ensaiado numa ótima coreografia, levando ao delírio
muita gente que acreditava ser verdade. A contagem final do juiz da vida para o
antigo ídolo me deu um knockout do
qual despertei naquela época.
Nem bem me recuperara da perda do
lutador e a Hebe Camargo dá adeus. Ao contrário dos astros do ringue, não fui
fã da Hebe e não tinha a iniciativa de assistir seus programas. Mas havia
alguém lá em casa que não perdia as entrevistas de artistas, cantores e
políticos feitas, segundo minha mãe e milhões de outros admiradores, pela
primeira e melhor apresentadora da TV brasileira. Esse hábito minha mãe
cultivou até os dias de hoje, defendendo a Hebe pela sua autenticidade, franqueza
e alegria. Assim, vez por outra eu
participava dessa programação por osmose. Em tempos de uma TV só em casa, minha
mãe aturava o telecatch e eu convivia com a Hebe. Afora os selinhos e as
extravagâncias da primeira dama televisiva, valia a oportunidade de conhecer
melhor a música em voga e os principais artistas em cartaz. E não se pode negar
a simpatia e a competência da loura pioneira nesse estilo de programa. Ao sair
de cena em definitivo, a apresentadora me fez voltar a sentar no sofá da minha
sala quando criança.
Vc se esqueceu do Knockout Jack,que foi massagista da CBF!!!E o árbitro era o Sr.Crispim Badaró!!!
ResponderExcluirQuantas noites assistindo aqueles combates memoráveis!!!