Há quarenta e um anos abracei meu
pai pela última vez no Dia dos Pais. A coincidência do número se estende à
idade que ele tinha quando um mal súbito nos privou de sua companhia. Eu nem
completara quinze anos ao sofrer essa perda. Minha vida prosseguiu com a
sustentação familiar proporcionada pela minha mãe, uma heroína na solitária criação de
dois filhos.
Passado todo esse tempo de muitas
realizações, alguns insucessos, inúmeras alegrias. Tive filhos, conquistas
inesquecíveis, êxitos pessoais, enfim, tanta coisa não compartilhada com quem
eu pouca oportunidade tive de conviver. Dos quase cinquenta e seis anos da
minha vida, na maior parte dela não pude contar com a presença inestimável da
figura paterna.
Mas sinto que de alguma forma ele
sempre esteve comigo em todos os momentos. Não sei explicar as razões e nem possuo
embasamento suficiente para tal, apenas percebo. A ciência e a espiritualidade
andam cada vez mais próximas, reforçando a minha impressão de que outras
respostas ainda estão por vir.
Hoje, mais uma vez, não posso
abraçá-lo. Minha mulher vive o primeiro Dia dos Pais com semelhante ausência. À
medida que envelhecemos, outros tantos vivenciam a mesma inexorável experiência
dessa lacuna. Trata-se da ordem natural das coisas. Terminada a jornada, ficam
os ensinamentos, os exemplos, a inspiração e o legado. Em especial, a sensação
de missão cumprida.
Estejam onde estiverem, nossos
pais permanecerão conosco. Protagonistas de nossa existência, carregaremos sua
herança genética até o último de nossos dias. Quanto mais profícuo for o
replantio de suas sementes, mais perene sua permanência. Viramos cúmplices da
eternidade ao nos tornarmos pais, nos metamorfoseando em elos de uma corrente
com a presunção de não ter fim.
Nessa hora aumenta a importância
de nos desejarem um Feliz Dia dos Pais.
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