As pessoas estão ficando cada vez
mais desacreditadas. A palavra tem valido pouco e só há alguma certeza nos contratos,
cujos itens estabelecem deveres e defendem os direitos das partes
envolvidas. E ainda assim com ressalvas, pois já há quem diga que os contratos
foram feitos para não se cumprir, para tal bastando só verificar os termos das
cláusulas rescisórias. Ou seja, o oportunismo dos acordos já antevê o desfecho
no momento do ajuste. Cheguei a viver uma época em que o fio do bigode valia
mais do que uma assinatura, embora uma peça de propaganda do passado tivesse
como tema “O importante é se levar vantagem em tudo, certo?”. Óbvio se tratar
de uma visão míope e ela estigmatizou o protagonista, um grande jogador de
futebol, que padeceu muitos anos sob a pecha de enganador. Infelizmente,
salvo raras exceções que confirmam a regra, celebridades de todos os setores, empresários e, em especial, os políticos
levaram ao homem do povo o hábito de se locupletar com o dinheiro alheio e de não
honrar os compromissos. Hoje em dia vemos uma disputa acirrada de quem se
comporta mais espertamente, no sentido de ludibriar o máximo todos com quem se
mantenha alguma relação, comercial ou pessoal. Os pais ensinam aos filhos toda
a sorte de desonestidade, em doses pequenas e aparentemente inofensivas. O
problema é que elas se proliferam na consciência de cada um até se transformarem
num conceito de caráter desprezível. Na atualidade ele grassa entre os seres
humanos em geral, tornando o mundo pior e levando as pessoas a um permanente
sentimento de revanchismo. Atingidos pelo comportamento deplorável de quem não
tem ética e o menor resquício de princípios morais, a maioria aguarda apenas o
momento de se vingar, passando de vítimas a algozes. Não conseguindo devolver a
desfaçatez a quem lhe impingiu, esperam a oportunidade de agir da mesma maneira
com outro incauto. E por aí vai, em todos os níveis da escala social, num
interminável desabar de peças de dominó. O homem perdeu a noção do que
significa cidadania, regras de boa convivência, bons costumes, urbanidade,
educação em última instância. As pessoas buscam a sobrevivência como se
estivessem numa selva, animais famintos dispostos a qualquer atitude para
garantir sua primazia, procurando manter ou melhorar suas condições a qualquer
custo. Não importa se com o sacrifício de outrem, se relegando as necessidades
comuns, se impondo prejuízo material, físico ou sentimental a terceiros. A
relevância maior deixou de ser o melhor para todos, isso nada significa.
Olha-se todo o tempo para o próprio umbigo, se esquecendo da importância de
quem nos cerca, em todas as circunstâncias da vida. Se profissionalmente, as
atitudes éticas semeiam futuros negócios, divulgação de uma imagem positiva,
multiplicação de serviços, maior rendimento. Se pessoalmente, o procedimento
correto estreita laços familiares, angaria amizades, sustenta relacionamentos.
Entretanto, a ânsia de levar vantagem vem se disseminado de forma assustadora,
colocando ainda mais em xeque a estabilidade de um mundo pior dia após dia,
conturbado exatamente pela ignorância de quem o habita. Até onde chegaremos?
Nenhum comentário:
Postar um comentário