Tive a oportunidade de assistir
em Belo Horizonte um stand up de um comediante local, com alguma repercussão
nacional, embora pequena. Trata-se do Ceguinho, como se autointitula o mineiro
Geraldo Magela. Em Minas Gerais ele é bem conhecido, pelos shows apresentados
em todo o estado. Além de bastante espirituoso e com um timing típico dos
humoristas experientes, o Geraldo compõe uma personagem riquíssima.
Conheci o Magela há algum tempo,
numa entrevista sobre futebol. A peculiaridade dizia respeito à sua presença no
Mineirão acompanhando um jogo. Segundo ele, estar no estádio e vivenciar o
ambiente da partida, a reação dos torcedores, as vibrações, trazem uma emoção
que o rádio ou a TV não permitem. Muito lógico. Seu comportamento no palco
transmite a mesma especial maneira de encarar as dificuldades do deficiente
visual. O bônus vem com o tratamento das restrições de uma forma muito bem
humorada. Ele faz uma sátira dos inúmeros senões enfrentados com pessoas, logradouros
públicos e situações diversas, tudo fruto do despreparo no trato com pessoas
diferentes.
O Magela vai além, agrega ao show
outra personagem muito especial, Caquinho Big Dog, também humorista local.
Caquinho é um deficiente físico, cadeirante, dono de um excelente senso de
humor, bom cantor e músico. Ele sustenta com maestria o ritmo do stand up na
segunda parte da apresentação, não permitindo a queda do nível de qualidade.
Até o fim do espetáculo a qualidade se mantém.
Ainda há uma drag queen, Nayla
Brizardi, fazendo o papel de mestre de cerimônias, numa participação menor, nem
por isso inexpressiva. Com a caracterização exagerada do perfil, mexe com a
plateia, agita o público e eleva o astral para os dois humoristas entrarem em
cena num clima adequado.
Nada disso seria muito novo,
salvo a especificidade dos tipos. Minorias alvejadas por barreiras físicas,
urbanas, sociais e/ou psicológicas, as três personagens esbanjam alegria de
viver. Mais do que transporem seus obstáculos do dia a dia com dignidade e
sorriso nos lábios, compartilham esse elevado estado de ânimo com espectadores
ou ouvintes, dependendo do momento. No caso do Ceguinho e do Caquinho,
transmitem a pessoas não portadoras de deficiência a mensagem de que a vida é
melhor do que se imagina, basta usufruí-la da melhor forma.
Saí do show com o fígado
desopilado, como se diz, depois de muitas gargalhadas. Entretanto, se rir é o
melhor remédio, faz um bem enorme a sensação de ter recebido uma lição de vida.
Foi assim que me senti depois de conhecer essas sensacionais figuras humanas.
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